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    Arquivo: Edição de 30-01-2012

    SECÇÃO: Música


    Entrevista com o jovem músico Jorge Simões

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    “A Voz de Ermesinde” (AVE) - Comecemos pelo presente: estás neste momento a tocar com alguma banda ou a solo?

    Jorge Simões (JS) - Por agora estou a solo, dedicando-me a evoluir na guitarra para ser melhor, ficando a aguardar o dia em que possa voltar a um coletivo, pois a última banda que eu tinha formado nestes últimos tempos viu-se obrigada a parar devido a motivos pessoais do vocalista/2º guitarrista. Este projeto era algo muito baseado nele e em mim, por isso sem ele torna-se muito difícil continuar de momento. Achámos por bem entre todos colocar o projeto em stand by.

    AVE - Por que instrumentos era formada a banda?

    JS - Em ambas as bandas a que pertenci éramos quatro instrumentistas: dois guitarras, uma guitarra baixo e uma bateria. Os deveres de vocalista eram partilhados por mim e pelo outro guitarrista. O nosso gosto pela mesma música que passávamos o tempo a ouvir foi o que nos uniu em primeiro lugar para formar as bandas.

    AVE - Sentes-te mais realizado enquanto membro de um grupo ou experimentando a solo?

    JS - Enquanto se está num projeto a solo tem-se mais controlo daquilo que se faz, é tudo à nossa maneira, temos mais manobra para experimentar, quer seja em nossa casa, a tocar por prazer, ou a tentar algo mais profissional em estúdio. Já quando se está num grupo, pelo menos para mim, aquela sensação de interagir musicalmente com outras pessoas, debater ideias e compor em grupo acaba por ser mais gratificante. É por isso que prefiro estar numa banda.

    AVE - Nas bandas onde participaste qual era o fio condutor, o estilo que tentavam procurar desenvolver?

    JS - Uma coisa em que concordámos desde cedo nas duas bandas onde estive foi que não queríamos seguir o caminho de muitos jovens hoje em dia, que ouvem uma música da sua banda favorita e inventam classificações e nomes para o estilo que tocam, como por exemplo “Quase Thrash Metal Melódico Satânico” (exagerando, obviamente). A meu ver isto é ridículo; está correto atribuir a uma banda um subgénero dentro do estilo em que se enquadra, mas a partir daí é uma redundância atribuir mais nomes, porque se não fossem essas pequenas diferenças todas as bandas soariam iguais.

    Foi por isso que nós, quando nos juntámos, decidimos tocar “Metal”. Agora se as músicas tendessem mais para o “Heavy” ou “Thrash” ou outra coisa qualquer logo se via, isso vinha com a inspiração do momento em que se compunha, não era pré-requisito.

    AVE - O meio musical é algo que te é familiar de há muito tempo?

    JS - A música desde cedo que faz parte da minha vida. Os meus pais, quando eu era ainda muito novo, acharam que a educação musical podia ser benéfica, por isso inscreveram-me numa escola particular de música. Nos dias de hoje é o gosto de compor ou acompanhar as minhas músicas favoritas que me compelem a continuar.

    AVE - Que tipo de educação para a música recebeste nas diversas escolas por onde andaste?

    JS - Quando andei no Colégio de Santa Joana tive aulas básicas de música, em que nos ensinavam noções elementares de música e a tocar flauta de bisel. Na escola particular de música aprendi tudo o que sei de teoria musical e tive aulas de piano, o meu primeiro instrumento foi esse. Andei lá vários anos, mas também já se passaram muitos outros desde esse tempo, por isso a prática de piano já está muito esquecida com pena minha (estou devagarinho a ganhar prática nos meus tempos livres) mas guardei todo o conhecimento de teoria, o que hoje me é muito útil.

    AVE - Ou seja, a guitarra não é o teu primeiro instrumento?

    JS - Exactamente. Foi quando voltei ao contacto ativo com a música é que comecei a interessar-me pela guitarra. Entretanto surgiu a oportunidade de entrar na primeira banda e aí tive o papel de baixista. Não tinha experiência nenhuma no instrumento, mas como o resto da banda também era de novatos, por assim dizer, resolvi experimentar e lá me fui safando. Quando esse projeto acabou foquei-me no meu verdadeiro instrumento de eleição, a guitarra elétrica. Nunca tive aulas de guitarra, tudo o que sei fui aprendendo sozinho, juntando os conhecimentos de teoria a muita paciência.

    AVE - O que sentes quando estás imerso na tua guitarra?

    JS - Tocar guitarra para mim é um misto de relaxamento e êxtase, conforme o que esteja a tocar. Posso estar a tocar algo mais pausado e com sentimento, ou algo mais rápido e alegre, ou até euforia quando toco mais a “rasgar”.

    AVE - Para ti, o que é uma boa guitarra?

    JS - Eu tenho preferência por guitarras elétricas, comecei a aprender numa, no geral gosto pela versatilidade delas. Para mim, uma boa guitarra é uma guitarra sólida, com grande “sustain” (tempo que uma nota fica a soar desde que a tocamos) e com um som forte. Há vários tipos de sons de guitarra, mas os dois principais são “quente”, como por exemplo as Gibson Les Paul, típicas do Slash dos Guns ‘n Roses, ou “ríspido”, como uma Fender Stratocaster, típicas de Eric Clapton.

    AVE - As tuas influências musicais são quais? Que guitarrista te enche as medidas?

    JS - A minha primeira influência musical foram os Metallica. Hoje em dia retiro inspiração um pouco de todos os lados do Metal contemporâneo e dos anos 80. Não sei dizer um guitarrista em especial que eu tenha como ídolo, mas gosto bastante de alguns, como Eric Clapton, Joe Satriani, John Petrucci, e muito recentemente comecei a ouvir e apreciar um guitarrista russo, Victor Smolski, da banda alemã Rage.

    AVE - O teu gosto musical, neste momento, vai em que direção?

    JS - Atualmente o que mais me dá gosto ouvir é Heavy Metal e Thrash Metal do final dos anos 80, e de artistas atuais ouço Power Metal (é um estilo que vai buscar inspiração aos temas medievais, combinando a agressividade do metal com a melodia de música mais clássica, dependendo das bandas), e Folk Metal (que é inspirado mas músicas e instrumentos tradicionais dos países nórdicos).

    AVE - Que tipo de experiências já tiveste em concertos ou ensaios?

    JS - Os ensaios sempre foram o maior problema, bastava um dos elementos estar um bocado mais distraído ou menos motivado para o ensaio todo já não render nada à banda. Por outro lado também havia alturas que em duas horas compúnhamos bastante material e trabalhávamos no que já tínhamos. Os concertos que demos também foram experiências que rondaram os dois extremos: demos uma vez um concerto que não podia ter corrido pior, com instrumentos a falharem a meio das músicas, as colunas de palco a deixarem de funcionar, ou terem-nos convidado para um evento em que só quando chegámos lá é que percebemos que não nos enquadrávamos bem ali. Da mesma maneira também demos concertos em que na 2ª vez que tocávamos um refrão o público já cantava connosco, o que é uma sensação muito gratificante, ou sermos convidados à última da hora para uma festa de uma terra com mais outras bandas, a sermos muito bem pagos para uma banda como nós, a dar os primeiros passos “fora da garagem”.

    AVE - Que sonhos tens para esta atividade de músico?

    JS - Esta aventura da música para mim começou, acima de tudo, como um hobby, mas não posso negar que a partir do momento em que tocámos pela primeira vez ao vivo, somos mordidos por um bichinho que nos pede sempre mais. Acho que o sonho de qualquer músico que inicia um projeto é chegar a um ponto em que ouve a sua música na rádio ou cantarolada por pessoas na rua. Mas isso já é sonhar alto…

    AVE – Falaste na música que passa na rádio: a indústria discográfica ainda tem um peso na divulgação artística ou isso agora é feito noutros moldes?

    JS - Nos dias de hoje acho que estamos a chegar a um ponto em que pouca gente “compra” música. Os artistas têm duas maneiras de receber dinheiro pela sua arte: vender discos ou dar espetáculos. Se as receitas que fazem da venda de CDs e músicas desce, a meu ver os preços das atuações ao vivo irá aumentar. Por outro lado, uma pessoa tem mais facilidade em gastar dinheiro num álbum de uma banda quando já a conhece e gosta mesmo. Nessas ocasiões, faço questão de comprar o álbum para o ter aqui na minha prateleira. Já para uma banda que não conheça ou conheça pouco, nunca iria comprar o álbum deles nos dias em que vivemos.

    AVE - Achas que o que é nacional neste momento é bom?

    JS - Ainda há o estigma de que só o que vem de fora é que tem qualidade. Eu reconheço que só apartir do momento em que comecei a interessar-me mais por todo este movimento underground de bandas do Grande Porto é que realmente me apercebi que matéria prima para o sucesso cá não falta. O que falta, e muito, são oportunidades. Mesmo vendo um aumento na procura de novos talentos, nem sempre essa procura é feita nos devidos sítios, e muitos artistas que poderiam ser os próximos embaixadores musicais de Portugal ficam-se pelos bares ou salas de ensaio.

    AVE - Mencionaste o movimento de bandas. Do panorama de Ermesinde, o número de bandas amadoras que se têm formado nos últimos anos tem aumentado. Quais são as bandas mais conhecidas pela cidade do Porto proveninetes deste panorama?

    JS - Em Ermesinde agora temos um pouco de tudo e vários projetos de qualidade. Para nomear aqueles que eu acho melhores, temos os Drype (ex-Infectious Greed) que tocam rock alternativo, de talento muito promissor; os Halo, que tocam também rock alternativo, com bastante energia e numa onda mais experimental; os Revtend, numa onda muito mais pesada, com um Thrash Metal agressivo e poderoso. Existem mais bandas, até porque esta nova geração parece muito mais ligada à música do que antes.

    AVE - Ainda é preciso ir ao Porto ou a net já resolve a questão da divulgação de bandas?

    J S - Hoje em dia a tecnologia veio facilitar tudo e o mundo da música não foi exceção. Eu posso falar por experiência própria, no início da minha primeira banda nós tivemos que falar com muita gente e a melhor ferramenta para nos darmos a conhecer era através das redes sociais. Passado algum tempo, com o passa palavra e a nossa página online, já eram os promotores de pequenos eventos e outras bandas a convidar-nos para irmos tocar.

    AVE - A música escrita/cantada em português é também algo que aprecias?

    JS - Embora eu, ao compor, o faça em inglês, dou muito mérito a quem o faça na nossa língua, pois acho-o mais difícil de fazer. Um artista pode estar a dizer a maior asneira, mas se o cantar em inglês até soa bem. Já para o fazer em português é preciso arriscar mais. Ou então não, até pode ser um ato natural, tal como a mim o é escrever em inglês, talvez influenciado por todas as bandas que me inspiram.

    AVE - Mudando de assunto, passemos ao meio que te rodeia, à cidade onde vives e que te acolhe nos teus projetos. Vives há quanto tempo por cá?

    JS - Vivo em Ermesinde desde que nasci, há 22 anos.

    AVE - Na generalidade, que te parece Ermesinde desde essa altura?

    JS - Sempre gostei de viver em Ermesinde. Quando era mais novo, não havia tantos centros comerciais, mas tinha a estação quase à porta e quem vivia em Ermesinde estava a 15 minutos de todo o sítio que interessava na altura. Ultimamente temos mais comodidades na nossa cidade, mas também tenho visto coisas não tão boas aparecerem: há estradas que estão constantemente ou em obras ou esburacadas; os assaltos, ainda que esporádicos, acontecem com mais frequência do que quando eu era mais novo. Mas fazendo as contas, Ermesinde continua a ser uma boa cidade onde viver.

    AVE - Notas mudança em algum aspeto em particular?

    JS - Algo que mudou completamente a vida em Ermesinde foi a construção da nova Estação e todas as obras posteriores. Eu lembro-me de, quando era novo, Ermesinde ser retratada como “cidade-dormitório”, já que as pessoas iam todas para o resto do grande Porto trabalhar e só regressavam à noite. Hoje em dia a cidade está maior em termos de empregabilidade, empresarial e cultural.

    AVE - Que achas da cidade em termos ambientais e culturais?

    JS - Algo de que sempre gostei em Ermesinde foi o facto de haver regularmente eventos culturais de todo o tipo, durante o ano todo. Este ano, talvez porque não estive tão atento ou por culpa da crise, notei uma diminuição nos eventos. Em termos ambientais confesso que quando estudava cá, tanto na primária como no secundário, estava mais atento, porque nos era comunicado tudo o que era feito na nossa cidade pelo ambiente. Agora, tenho notado o aumento dos ecopontos, mas fora disso não posso dizer mais nada.

    AVE – Se tivesses o poder para mudar algo, que mudarias desde já?

    JS - Já há algum tempo que se tem sentido um aumento na insegurança em Ermesinde, principalmente à noite. Tenho visto um aumento de patrulhas policiais, mas pelo que vejo e ouço, não é suficiente, ou esta “nova fornalha” de delinquentes está mais astuta. Para além disso gostava de ver mais atividades no nosso Parque Urbano Dr. Fernando Melo, que na maior parte do ano está vazio, o que é uma grande pena!

    Por: Filipe Cerqueira

     

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