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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-12-2011

    SECÇÃO: Destaque


    ASSOCIAÇÃO AL HENNA APRESENTOU-SE EM SESSÃO PÚBLICA NO CENTRO CULTURAL DE ALFENA

    Grupo de alfenenses empenha-se na defesa da sua memória e identidade

    Um grupo de cidadãos de Alfena lançou recentemente uma associação que se dedica ao resgate das memórias e da identidade histórica e cultural da centenária Alfena (hoje cidade). A “Al Henna” – Associação para a Defesa do Património de Alfena apresentou-se à comunidade numa sessão que teve lugar na noite do passado dia 30 de novembro, no Centro Cultural daquela cidade, sessão essa que contou com a presença de muitas individualidades ligadas ao Poder Local a nível da freguesia e do concelho.

    Posteriormente a essa sessão “A Voz de Ermesinde” teve oportunidade de conversar in loco com dois dos seus principais dinamizadores, Arnaldo Mamede e Ricardo Ribeiro.

    Foto URSULA ZANGGER
    Foto URSULA ZANGGER
    Arnaldo Mamede e Ricardo Ribeiro – um empresário do ramo imobiliário, outro economista – não têm, do ponto de vista profissional, competências académicas no domínio da História, mas a paixão pela verdade histórica e o conhecimento, a sua ligação afetiva e fundada numa profunda identidade de gerações, às terras de Alfena, acabaram por torná-los em investigadores e conhecedores sem paralelo da História das gentes ligadas a Alfena pelos séculos afora.

    Ninguém como eles conhece a identidade profunda da sua terra e, foi isso que acabou por levá-los e a outros alfenenses, à criação da Al Henna – Associação para a Defesa do Património de Alfena.

    O primeiro encontro público com a comunidade – realizado na noite de 30 de novembro no Centro Cultural de Alfena – foi dedicado a debater uma questão de geografia política – “Alfena, a Cidade e os seus limites”, tema este que, até pela sua atualidade, acabou por trazer ao Centro Cultural de Alfena muito público e individualidades.

    Assim, com o Centro Cultural cheio como um ovo, destacavam-se entre os presentes várias figuras de um alargado leque político do concelho, casos dos vereadores Afonso Lobão, do Partido Socialista, e Pedro Panzina, da Coragem de Mudar, dos presidentes das juntas de freguesia de Alfena, Rogério Palhau, e Sobrado, Carlos Mota, e deputados municipais, como o líder concelhio do PS, José Manuel Ribeiro, Queijo Barbosa (socialista), e ali em representação do presidente da Assembleia Municipal, a social-democrata Rosa Maria Rocha, José Manuel Pereira, da Coragem de Mudar – naturalmente curioso na questão histórica –, e outros interessados pelo tema.

    A Al Henna começou por apresentar os seus órgãos sociais. De seguida, com base em conceitos genéricos de História e Geografia começou a apresentação ao tema em debate.

    Estes investigadores referiram os limites geográficos históricos datados do século XVII (mais precisamente 1689, e que podem ser consultados na Torre do Tombo), os quais então apontavam para uma superfície de 15,7 Km2 de área, hoje reduzidos a 11,1 Km2.

    Como se passou de uma área para outra foi aquilo que a Al Henna procurou aclarar neste debate, defendendo sempre que esta não era uma situação inelutável e fatal, podendo a verdade histórica e a legitimidade ser perfeitamente repostas.

    Segundo Arnaldo Mamede e Ricardo Ribeiro, tudo terá começado quando, no consulado de Marcelo Caetano, no início dos anos 70, se começaram a realizar os primeiros Atlas do Ambiente, e a ser feito um levantamento da Carta Administrativa de Portugal. Para esse trabalho, em grande parte foi usada pela Comissão Nacional de Ambiente, criada em 1971, a técnica da entrevista, e ouvidos muitos dos proprietários da zona, no fundamental terá sido respeitada a delimitação histórica vinda dos tempos medievais.

    Mas, após o 25 de Abril, e criado o novo Poder local (por eleição democrática) as autarquias locais passam a ser os interlocutores privilegiados para o estabelecimento da nova Carta Administrativa pela Secretaria de Estado do Ambiente entretanto criada (em 1975).

    No caso de Alfena, todavia, o divórcio entre a Junta de Freguesia de Alfena e a Câmara Municipal de Valongo, causado pela controvérsia com a Igreja local, acabou por revelar-se negativa para os direitos de Alfena, pois os seus limites vieram a ser redefinidos, passando a sua área, então, para os 12,8 Km2, o que todavia não ficaria por aqui.

    De facto, na primavera do ano 2000, ao realizarem-se os Censos e ao procurar-se melhorar a informação existente, definindo melhor as confrontações, para fins estatísticos, foi desenhado ainda um novo limite, consagrado na cartografia oficial do Instituto Geográfico Português, os quais, validados em 2000 pelos autarcas, foram oficializados em 2002. Segundo os investigadores da Al Henna a perca de território de Alfena verificou-se sobretudo a favor de Valongo (2/3) e Sobrado (1/3).

    Para mostrar bem a anormalidade da situação, Arnaldo Mamede e Ricardo Ribeiro apontam o facto de que estes terrenos em princípio perdidos para outras freguesias, estão todos registados na Matriz Predial e no Registo Predial, em Alfena.

    Procurando ainda esclarecer as questões da propriedade na zona de Alfena, Arnaldo Mamede e Ricardo Ribeiro lembraram à reportagem de “A Voz de Ermesinde” a lei que, para efeitos de melhorar a tributação das Câmaras, em 1869, permitiu que os baldios fossem aforados aos moradores dos vários lugares. Em Alfena tal aforamento deu-se em 1872 e 1874, tendo abrangido as zonas dos Montes da Rua, Transleça e Igreja.

    De notar que, segundo os dois membros da Al Henna, a matriz rústica sempre respeitou os limites históricos de Alfena e que o levantamento das matrizes rústicas dos locais referidos – que só entraram em vigor em 1982, e cujos trabalhos no terreno foram feitos em 1981, presencialmente, pelo regedor e proprietários –, esse foi fiel aos limites de sempre.

    A SESSÃO

    NO CENTRO CULTURAL

    Foto CELESTINO NEVES
    Foto CELESTINO NEVES
    Confrontados com este volume de informação, devidamente contextualizado e fundamentado, foram várias as reações dos presentes ao que acabavam de ouvir.

    Para Rogério Palhau, presidente da Junta de Freguesia de Alfena isto era quase uma novidade, pois só tinha tomado conhecimento da situação há cerca de ano e meio.

    José Manuel Ribeiro elogiou o trabalho feito pela Al Henna, reconhecendo que as questões de delimitação geográfica se colocavam não só no interior do concelho, mas também entre este e outros municípios.

    Pedro Panzina sublinhou a perca de 27% do território, com a correspondente perca de receitas orçamentais devido a critérios de área. Mas duvidava da possibilidade de uma solução.

    Para a Al Henna, pelo contrário, corrigir o que está errado é perfeitamente possível, primeiro por uma negociação política, fundamentada, que deveria ser levada a cabo pelos autarcas.

    Carlos Mota, por exemplo, sublinhou que, relativamente a Sobrado, se havia alguma situação de favor relativamente a Alfena, pelo contrário, haveria outras desfavoráveis à sua freguesia e isso só podia resolver-se com a intervenção municipal.

    Arnaldo Mamede rematava o assunto para “A Voz de Ermesinde” de uma forma muito crítica: «O que houve aqui foi um certo autismo das forças políticas autárquicas, que nem se dignaram ouvir as populações».

    NOVAS SESSÕES

    EM PERSPETIVA

    A Al Henna prepara entretanto novas sessões. Agora voltando-se mais para as questões do património histórico de Alfena.

    Procurando mostrar um pouco das raízes históricas de Alfena, do seu património e dos seus confins, Arnaldo Mamede e Ricardo Ribeiro realizaram uma visita guiada com a reportagem de “A Voz de Ermesinde”, mostrando, entre outras coisas, a delimitação geográfica definida pela linha de cumeada e os marcos da Ordem do Carmo, na fronteira do concelho de Santo Tirso.

    Por: LC

     

     

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