14ª MOSTRA INTERNACIONAL DE TEATRO
As visões do explicável (e do inexplicável) analisadas num complexo jogo de palavras
Um mero verso pode acorrentar a si inúmeras interpretações. E então se alterarmos a ordem de uma simples palavra essas mesmas interpretações baralham-se e multiplicam-se. Ou não! Um verso pode ser inexplicável e só o seu autor saberá desvendar o seu real significado. Mas o senhor Eliot parece encarar este quebra cabeças como o seu jogo favorito e lança-se a um mar de análises a quatro pequenos versos que protagonizam a primeira parte de “CircOnferências”, a peça que subiu ao palco do Centro Cultural de Campo na noite de 2 de dezembro, no quadro da 14ª edição da Mostra Internacional de Teatro do ENTRETanto.
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Fotos MANUEL VALDREZ |
Recorrendo a meios audiovisuais rudimentares, o Sr. Eliot promove a sua própria conferência na tentativa de analisar e explicar; sim, porque na sua voz ninguém é feliz com algo que não compreende; os versos de Joseph Brodsky, Cecília Meireles, Sylvia Plath, e Marin Sorescu. Faz perguntas e dá respostas num autêntico jogo de palavras que pretende levar a clareza à mente daqueles a quem os versos são apresentados. E enquanto o senhor Eliot, no seu ar intelectual, procura desbravar os caminhos dos versos, a sua mulher é a assistente da conferência, a cobaia se preferirem, ela dá vida aos meios audiovisuais rudimentares usados pelo conferencista, ela própria é um desses meios rudimentares, conferindo dessa forma uma pitada de humor a esta primeira parte de “CircOnferências”.
E a segunda parte da peça é toda dela, da cobaia, da mulher, ela é a conferencista e ele é unicamente o marido, o tema da conferência dela que gira em torno da visão de dois mundos, o deles e o delas, um mundo que pode ser explicado... ou não.
“CircOnferências” apresentou dois monólogos de uma certa complexidade interpretativa, um jogo de palavras complexo extraído a partir de dos textos das “Conferências de Sr. Eliot”, da autoria de Gonçalo M. Tavares, e de “Dicotomias”, de Hélia Correia, interpretado por dois brilhantes atores – só assim podia ser perante textos desta complexidade – que levaram à cena uma peça cujo interesse foi na verdade cozinhado em... lume brando. Sem querer colocar mais uma frase para a análise do senhor Eliot diríamos que “CircOnferências” foi: interessante, mas tenuemente massador e arduamente complexo.
FICHA TÉCNICA:
“CircOnferências”:
Trigo Limpo Teatro ACERT
Texto a partir de “As Conferências do Sr. Eliot”,
de Gonçalo M. Tavares e “Dicotomias”, de Hélia Correia.
Encenação: Pompeu José.
Interpretação: Ilda Teixeira e Pompeu José.
Assistência: Gil Rodrigues e Sandra Santos.
Cenografia: Pompeu José e Zé Tavares.
Desenho e luz: Luís Viegas.
Figurinos: Ruy Malheiro.
Sonoplastia: Cajó Viegas.
Operação técnica: Paulo Neto.
Serralharia: Rui Ribeiro.
Desenho gráfico: Zé Tavares.
Fotografias: Carlos Teles e Eduardo Araújo.
Registo vídeo: Zito Marques.
Por:
Miguel Barros
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