CARTAS AO DIRETOR
Agressão ao ambiente
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Foto DANIEL CÂMARA DE CASTRO |
[Reencaminhamento de Carta ao
Senhor Presidente da Câmara de Valongo]
Senhor Presidente
Obedecendo ao agora muito badalado preceito da medicina familiar de andar a pé, passei, por mero acaso, por um pequeno parque verde municipal que parece não estar identificado por placa toponímica mas que se situa algures entre as ruas 25 de Abril e Heróis de Angola, na cidade de Ermesinde.
Já há muito tempo não passava por ali e fiquei desagradavelmente surpreendido. Registei em imagens as razões da minha surpresa – junto algumas.
Para além de aquele parque conter no seu miolo uma ruína inútil e inestética, verifica-se que, ao invés de ser, nos dias de canícula que vão correndo, um espaço fresco de sombras acolhedoras, é um espaço árido onde as crianças e os avós de poucas zonas dispõem para se abrigar do sol.
Com efeito, exceção feita à zona onde se situa uma magnólia grandiflora que escapou, até ver, à sanha destruidora dos podadores municipais, quase todas as outras árvores foram sujeitas, pelo que se depreende, a uma poda mutilante que as deixou com copas miniaturais, ridiculamente desproporcionadas face ao desenvolvimento dos troncos.
Verifica-se até que algumas árvores têm já um aspeto anémico, tal a severidade com que foi feito o rolamento dos seus ramos.
Quem fez aquilo deu provas de uma total ignorância das boas práticas do serviço que executa. Está ali o retrato daquilo que não deve ser feito, de uma infrene boçalidade no tratamento dos seres vivos que são as árvores.
Curiosamente, os modestos executantes de tal barbárie, pertencem a um Departamento de Ambiente e Qualidade de Vida e, dentro deste, a uma Divisão de Parques e Jardins.
Do meu ponto de vista, o problema está na formação e enquadramento destes homens pelos técnicos que preenchem o organigrama com tão respeitáveis designações. Primeiro, têm que saber. Depois têm que meter as mãos na massa e não se remeterem ao papel de administrativos diplomados e caros.
Parece absurdo como um Departamento que tem cometida a tarefa nobre de preservar o ambiente e a qualidade de vida, patrocine e pague, com os nossos impostos, a agressão de um e outra.
Dum ponto de vista positivo, atrevo-me a sugerir a leitura de um pequeno livro, da autoria do arquiteto paisagista Manuel Cerveira, que se intitula “Os Elementos Verdes no Espaço Urbano”. É uma edição, de 1990, da então Comissão de Coordenação da Região Centro.
É uma modesta sugestão face ao acerbo de conhecimento que se encontra publicado sobre a matéria. Mas terá interesse se puder contribuir para, ao menos, amenizar as más práticas.
Que tenha umas férias reconfortantes!
Queira aceitar os meus respeitosos cumprimentos.
Daniel Câmara de Castro
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