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    Arquivo: Edição de 30-05-2011

    SECÇÃO: Destaque


    O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

    Fábricas de cerâmica e de pomadas

    Ermesinde, como já vimos, possuía no tempo da Primeira República, excelentes condições para se dedicar à industrialização: tinha, desde o século XIX, as duas linhas ferroviárias (do Douro e do Minho), estava a poucos minutos da importante cidade do Porto e nela residiam personalidades de caráter suficientemente enérgico para se envolverem em investimentos no setor secundário. Vamos referir-nos hoje às fábricas de Cerâmica e de Pomadas e Graxas, bem no centro da povoação.

    Antiga Fábrica Cerâmica de Ermesinde (1910 - 1982)
    Antiga Fábrica Cerâmica de Ermesinde (1910 - 1982)
    A Fábrica da Telha, como se tornou popularmente conhecida, foi fundada em 1910, com o nome de “Empresa Industrial de Ermesinde”, por dois homens de notável iniciativa: Eng.º Francisco Xavier Esteves e o insigne republicano ermesindense, Augusto César de Mendonça, tornando-se este último o gerente técnico da Empresa. Em 1914 e 1915, presidiria também, na sequência da primeira eleição autárquica do regime republicano, à Junta da Freguesia.

    Em 1920, a fábrica de cerâmica mudaria para o nome de “Empresa Industrial de Ermesinde, L.da”. Esta importante unidade industrial foi muito próspera nos seus primeiros anos de atividade, graças sobretudo ao extraordinário dinamismo e qualidades de empreendedorismo do seu fundador, Augusto César de Mendonça.

    No princípio começou por produzir telha “Tipo Marselha” e tijolo vulgar. Mas, no decurso dos primeiros anos, notou-se uma extraordinária expansão, devido certamente à sua excelente situação geográfica, pelo que foram aumentadas as instalações, adquirido moderno equipamento, criadas novas secções e aumentado o horário de laboração para poder satisfazer as muitas encomendas que chegavam de todas as partes do país.

    Situada junto à Estação Ferroviária de Ermesinde e servida por linha particular, a Empresa Industrial de Ermesinde dispunha de excelentes condições e foi considerada uma das maiores e melhores do país no seu género.

    O progresso das duas primeiras décadas de vida, continuou na terceira, passando em 1938, a denominar-se “Empresa Cerâmica de Ermesinde” tendo aumentado a variedade das suas produções, passando o grés a ser também uma das suas matérias-primas, produzindo tubos, manilhas, botijas, vasos, tijolos e vasilhas refratárias.

    Nesses recuados tempos, com as suas altas e majestosas chaminés bem vivas (que hoje fazem parte do Parque Urbano de Ermesinde) e a azáfama do trabalho laborioso dos homens que faziam a telha à marselhesa, tijolo maciço (burro), tijolo curvo, tijolo prensado, tijolo furado, tijolo refratário, fornos, lares, figuras decorativas, tubos de grés, vasos, botijas, grades para platibandas formadas por tijolos e balaustres, potes para ácidos e tantos outros produtos cerâmicos, aquela fábrica ermesindense tornou-se num dos principais meios de publicidade da terra que lhe deu o nome.

    Nos anos vinte, antes da inauguração da iluminação elétrica nas principais ruas de Ermesinde, já a sua fábrica de cerâmica era iluminada pela nova energia, o que contribuía também para que essa unidade industrial tivesse excelentes condições de laboração. Esta fábrica possuía, então, nas Rapadas, vasta extensão de terrenos, onde era extraído o barro para a fabricação dos seus produtos.

    Anexa à fábrica de cerâmica a empresa possuía ainda uma fábrica de Serração, dotada também das mais modernas máquinas, capaz de fazer concorrência às suas congéneres, pese embora a situação de crise que aquele tipo de indústrias viveu nos fins da década de vinte.

    No mesmo espaço, agora o Fórum Cultural de Ermesinde
    No mesmo espaço, agora o Fórum Cultural de Ermesinde
    Nas suas duas fábricas a Empresa Industrial de Ermesinde chegou a empregar, ainda nos anos 20, cerca de 200 operários.

    Na conjuntura do final da segunda Guerra Mundial, a empresa é comprada pelas Fábricas de Cerâmica Lusitânia, com sede em Lisboa, que era, talvez, a maior empresa do setor, no país. A sua produção era ainda mais diversificada: produzia também louças sanitárias, mosaicos, azulejos e ladrilhos em cimento.

    Possuía uma dúzia de unidades fabris, dispersas por todo o país, nomeadamente, Alcarraques, Arraiolos, Coimbra, Ermesinde, Lisboa, Porto, Setúbal e Vila Franca de Xira.

    Contudo, com o decorrer do tempo, e as dificuldades acrescidas com o fim do Império, a antiga Cerâmica de Ermesinde foi perdendo vendas, a sua produtividade baixou, até que encerrou em 1982, por dificuldades de ordem financeira.

    Este espaço, bem no centro da cidade, passou a ser uma vergonha, a que se associaram atividades de marginalidade e desconforto social.

    Felizmente, em 1995, a Câmara Municipal de Valongo procurando pôr cobro a esta situação, adquire o que restava da Fábrica de Cerâmica com o terreno adjacente, empreende obras de recuperação e cria um espaço magnífico, que é o Parque Urbano da Cidade que inclui, numa modelar combinação do que restava do passado com partes modernas, o Fórum Cultural de Ermesinde, inaugurado há precisamente 10 anos, concluídos no passado dia 18 de maio de 2011.

    FÁBRICA DE POMADAS

    E GRAXAS DE ERMESINDE

    Uma outra unidade industrial foi funda no período da república Nova de Sidónio Pais, trata-se da Fábrica de Pomadas e Graxas de Ermesinde.

    Surge na Rua 5 de outubro, em Ermesinde (a entrada para o escritório era pelos números 171 a 181), e foi fundada em 1918, por iniciativa dos irmãos Moreira, ficando com a designação de “Moreira, Irmão & C.ª”, de que fazia parte também Emílio Gilzans, aquela que se tornaria uma próspera fábrica de Pomadas e Graxas para calçado.

    Algum tempo mais tarde, entrou, para a Sociedade, Feliciano Moutinho Sobral e a empresa alterou o seu nome para “Moreira, Sobral & C.ª”. Em julho de 1927, nova modificação na designação da Firma, que daí em diante passou a usar o nome de “Gilzans, Sobral & C.ª”.

    A referida fábrica era constituída por várias secções, sendo de destacar as seguintes: laboratório, caldeira de composição, secção de corte da folha, de estampagem das latas, secção de enchimento das pomadas e graxas, de embalagem e o escritório.

    A fábrica dispunha de várias máquinas elétricas adequadas ao fabrico, designadamente: duas tesouras mecânicas para cortar a folha; três balancés mecânicos para a estampagem das latas (e um balancé manual); um torno mecânico de precisão, uma máquina de furar; um enchedor automático; uma caldeira de fusão; e ainda uma série de pequenos mecanismos também necessários à confeção dos seus produtos.

    Os seus artigos não temiam a concorrência das empresas congéneres, tanto nacionais como estrangeiras, dada a sua excelente qualidade.

    A fábrica produzia três tipos de pomada ou graxa para o calçado: “Portugália”, “Arierom” e “Bota”, disponíveis em três cores: preta, amarela e a cor que estivesse na moda. Produzia também pomada para oleados, da marca “Arierom”.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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