SECÇÃO: Destaque

O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

Humberto Beça e Dr. António da Costa e Almeida

Continuando a divulgar dados biográficos de personalidades ligadas a Ermesinde, no período da Primeira República, cabe hoje tratar de Humberto Beça e de António Correia da Costa e Almeida. Humberto Beça é o autor do primeiro estudo monográfico sobre Ermesinde, que foi publicado em 1921, ainda em plena primeira República, onde descreve Ermesinde desse tempo e se refere a alguns dos seus filhos mais ilustres. Também divulgou dados e fotos sobre Ermesinde na Ilustração Portuguesa nos anos 1918 e 1919. António Correia da Costa e Almeida foi proprietário da antiga Quinta de Ermesinde e antigo Presidente da Câmara Municipal de Valongo.

Capa da "Ilustração Portugueza" de 4-11 de 1918, com a seguinte legenda: «Nos Alpes... de Cabêda (Ermezinde) / Cliché do distinto professor, Sr. Humberto Beça, do Porto

Foram inúmeras as suas publicações; aí ficam alguns títulos: “A Tomada de Chaves”, “Justiça de Castela”, “Anuário da Escola Dória”, “A Bandeira Portuguesa”, “Noções de Comércio”, “A Árvore”, “Prática de Escrita Comercial”, “Noções de Aritmética”, “Noções de Comércio”, “O Ensino Comercial em Portugal”, “Sob a Metralha – Episódios da Grande Guerra”; “Castelos de Portugal: Os Castelos da Beira Histórica”.

Muito versado, como se vê, em termos didácticos e históricos, Humberto Beça, sobrinho do General Adriano Acácio Madureira Beça e do Coronel Augusto César Madureira Beça, foi Professor no Colégio de Ermesinde e hoje, como reconhecimento ao importante contributo que deu às terras de S. Lourenço d’Asmes, tem o seu nome evocado com a Praceta Humberto Beça, nesta cidade.

Obra de notável valor, a Monografia sobre Ermesinde revela o estofo do seu autor, estudioso e interessado em dar a conhecer a história, usos e costumes deste povo. Aliás, Humberto Beça já tinha publicado alguns artigos e fotos sobre Ermesinde, na Ilustração Portuguesa. Uma das suas fotos, que aqui reproduzimos, até foi capa da prestigiadíssima revista portuguesa, na sua edição n.º 663 de 4 de Novembro de 1918. No ano seguinte, na edição da Ilustração Portuguesa de 7 de Abril, fez publicar um artigo sobre Ermesinde (duas páginas), ilustrado com interessantes fotos também de sua autoria.

Esse artigo, sob o título “Ermezinde” começa assim:

«A sete ou oito quilometros ao norte do Porto, na estrada que d’esta cidade conduz a Braga e Guimarães, encontra-se, graciosamente estendida pelas suas margens do Leça, a povoação de Ermezinde, sem duvida um dos mais formosos arrabaldes da capital do norte e um dos mais pitorescos sitios da região d’entre Minho e Douro. A povoação que hoje se estende de mais para o sul, arrastada pelo movimento do caminho de ferro que ali bifurca para o Minho e para o Douro, é de origem relativamente recente, ignorando-se todavia d’onde lhe provem o nome de Ermezinde, que actualmente tem, ou o de S. Lourenço d’Asmes que tinha até á implantação da República (…)».

O Dr. António Correia da Costa e Almeida apesar de ter nascido na cidade do Porto e de ter raízes em Ermesinde, é oriundo de uma ilustre família liberal da Beira, e, depois de 1920, tornou-se dono da Quinta de Ermesinde, situada no lugar da Freguesia de S. Lourenço de Asmes com esse nome, que depois da implantação da República como já se viu, passou a ser a designação oficial de toda a Freguesia.

A Quinta, cuja casa remontaria ao século XVII (que se encontra em ruínas provocadas pelo atuais proprietários que a destelharam há nos), bem como a Capela de invocação a Nossa Senhora do Amparo nela integrada, era constituída também por bastante terreno de cultivo e por uma mata, que atualmente deram lugar a uma urbanização. A Capela de Nossa Senhora do Amparo, que agora tem apenas as paredes exteriores, chegou a estar aberta ao público do lugar que ali ia regularmente assistir à missa dominical.

O Dr. Costa e Almeida formou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, no ano de 1887. Entre outros cargos desempenhados no âmbito da sua especialização profissional, foi contador da 4.ª Vara Cível da Comarca do Porto, Delegado do Ministério Público na Comarca de Baião e exerceu, durante muitos anos, a Advocacia na cidade do Porto.

Em termos políticos, o Dr. Costa e Almeida, que era descendente de homens que lutaram pela implantação definitiva do liberalismo em Portugal, foi militante do Partido Progressista, tendo abandonado a atividade política no período da Primeira República.

No entanto, retomaria a prática política depois do 28 de Maio de 1926, tornando-se, no fim da década de 1930 e nos princípios da década de 1940, Presidente da Comissão Concelhia da União Nacional. Nessa qualidade assumiria a Presidência da Câmara Municipal de Valongo. Desempenhava esse cargo quando o Município comemorou, em 1936, o seu 1º centenário.

A filha do Dr. Costa e Almeida, D. Emília da Costa e Almeida casou com Alberto Dias Taborda, que seria um dos mais ilustres beneméritos de Ermesinde e a que aludiremos num dos próximos artigos desta rubrica.

O nome do Dr. Costa e Almeida que, como seu genro, está associado a alguns melhoramentos feitos em Ermesinde, foi dado a uma Rua desta cidade.

Por: Manuel Augusto Dias