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    Arquivo: Edição de 30-11-2010

    SECÇÃO: Destaque


    O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

    Amadeu Sousa Vilar - 1º Presidente da Comissão Paroquial Republicana

    Impõe-se deixar registado neste conjunto de artigos que pretende comemorar o 1.º centenário da implantação da república em Portugal, o nome de um homem que no advento da República muito lutou por Ermesinde e, aqui, exerceu com zelo, determinação e competência, logo após a sua implantação os cargos de Regedor, Presidente da Comissão Paroquial Republicana (equivalente a Junta de Freguesia) e da Direcção da Associação Beneficência e Culto de Ermesinde – referimo-nos, obviamente, a Amadeu de Sousa Vilar.

    Pormenor da entrada da Quinta Vila Beatriz, residência de Amadeu Vilar, não muito longe da sua Fábrica dos Tecidos, em Sá
    Pormenor da entrada da Quinta Vila Beatriz, residência de Amadeu Vilar, não muito longe da sua Fábrica dos Tecidos, em Sá
    Considerado industrial, foi ele o primeiro sócio gerente da Fábrica de Fiação e Tecidos de Ermesinde, sita no lugar de Sá, que só há poucos anos deixou de estar em actividade. Para tornar mais cómoda e fácil a vida dos seus operários, Amadeu Vilar estabeleceu uma panificação na fábrica destinada exclusivamente ao fornecimento de pão aos operários e, mais tarde, criou uma cooperativa de consumo, onde eles poderiam abastecer-se dos géneros de primeira necessidade, a preços muito mais baixos que os do circuito comercial normal. Foi por sua iniciativa que se fez uma primeira ampliação da fábrica para melhor corresponder ao aumento da produção que se ia registando de ano para ano, e que se criou uma cantina, mais uma vez, destinada aos operários.

    Republicano convicto e histórico foi, com o Dr. Maia Aguiar, um dos fundadores do núcleo republicano local, por volta de 1908, denominando-se, depois do 5 de Outubro de 1910, Centro Republicano de Ermesinde, cuja sede se inaugurou, em edifício novo, nos começos de 1912, no lugar da Estação.

    Como Regedor e Presidente da Comissão Paroquial Republicana, a sua acção multiplicou-se em numerosas diligências que concorriam para a concretização de dois principais objectivos: melhorar a vida dos cidadãos, sobretudo dos mais pobres e desprotegidos, e trazer o povo para a República. Foi ele que propôs, na reunião da Comissão Paroquial de 6 de Novembro de 1910, «a conveniencia de se representar ao Ministerio do Interior afim de que esta freguesia passe a denominar-se freguesia de Ermezinde» (Livro de Actas da Junta, n.º 4, fls. 20 v. e 21). Foi ele que, ainda em 1910, terminou com a divisão do Cemitério, que separava os católicos dos não católicos. E é a ele, igualmente, que se deve a criação da primeira creche da região, destinada às crianças pobres. Lembrou o assunto na sessão da Junta Paroquial de 21 de Maio de 1911, e ofereceu o 1.º donativo em Setembro desse ano: 3 mil réis que recebeu como membro da Comissão Recenseadora, mais 400 réis a que tinha direito dos emolumentos de Regedor. A creche foi mesmo uma realidade e funcionou em parte do edifício da antiga residência paroquial, sob administração da Junta de Paróquia.

    É durante a sua presidência, no ano de 1911, que os antigos caminhos de Ermesinde passam a ter nomes de ruas. Assim, como já aqui tivemos oportunidade de referir, ao caminho da Ermida à Travagem é posto o nome de Rua de Miguel Bombarda (ainda hoje se mantém); à estrada da Formiga passa a chamar-se Rua de Cândido dos Reis (nos anos 30, passou a denominar-se José Joaquim Ribeiro Teles); à estrada que parte da Estação, Rua de 5 de Outubro; à estrada da Travagem, Rua de Elias Garcia; e à estrada da Travagem a Ardegães, Rua de Simões Lopes.

    Amadeu Vilar, enquanto republicano com responsabilidades administrativas, teve de lutar contra a declarada hostilidade do pároco local, Monsenhor Paulo António Antunes. Este, no dia 1 de Outubro de 1911, abandonou a Igreja de Ermesinde, tendo-se envolvido na 1ª incursão monárquica de 5 a 17 de Outubro desse ano, após o que se exilou no Brasil. Amadeu Vilar, cumprindo a legislação da Separação do Estado da Igreja, e apesar de não ser católico, fundou uma associação cultual (designada Associação Beneficência e Culto de Ermesinde) que se encarregou da organização do culto católico em Ermesinde, entre Março de 1912 e Agosto de 1913, tendo como capelão o Padre Paulo José Pereira Guimarães. Para conciliar o povo com a sua associação cultual, Amadeu Vilar organizou, ele próprio, a festa ao padroeiro S. Lourenço. Mas, mesmo assim, em Agosto de 1913, os Corpos Gerentes pediram a dissolução da Associação Beneficência e Culto de Ermesinde, e o Administrador do Concelho, Dr. Maia Aguiar, através do seu ofício n.º 391, decidiu que ficava a cargo da Comissão Administrativa Paroquial de Ermesinde, presidida por Amadeu Vilar, «a guarda da Igreja e seus pertences».

    Como livre-pensador e republicano convicto, Amadeu Vilar encarregou-se de comemorar dignamente os aniversários da Revolução Republicana em Ermesinde, de celebrar festivamente o Dia da Árvore e de aproveitar todas as oportunidades para bem propagandear o credo republicano.

    Após 1914, os desgostos da luta política, que não reconhece muitas vezes aqueles que de forma abnegada se entregam a um ideal doutrinário que não partidário, levam-no a refugiar-se, quase a tempo inteiro, na sua fábrica de tecidos.

    De ora em diante abandona a vida política activa, mas mantém-se interessado no progresso de Ermesinde e das suas instituições e colectividades. É, assim, que se torna um dos fundadores e o primeiro Presidente da Direcção dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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