MIT – MOSTRA INTERNACIONAL DE TEATRO 2010
Presos numa ilha deserta... de emoção
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Foto MANUEL VALDREZ |
Levando-nos consigo para uma ilha deserta durante aproximadamente uma hora, “Crusoé – Um Espectáculo sem Palavras” não terá sido, para nós, uma das melhores companhias – companhia não no sentido de grupo mas na qualidade de parceiro de ocasião – deste MIT 2010.
Transportado desde o outro lado do Atlântico (Brasil, mais concretamente) para o palco do Fórum Cultural de Ermesinde pela mão da companhia Cia Cênica, “Crusoé” revelou-se morno demais para uma noite tão fria como a de 25 de Novembro último. A propositada ausência de diálogos ao longo de toda a peça, pois por alguma razão esta se auto-intitulava um espectáculo sem palavras, seria porém convidativa a uma história mais atractiva sob o ponto de vista visual e gestual, por outras palavras uma história cuja acção fizesse esquecer a tal ausência de diálogos, uma história onde era pedida mais vivacidade, um pouco mais de emoção, nos gestos dos actores. “Crusóe” não teve isso, foi morno, como já foi dito, apresentando uma história de certa forma banal... e sem grande história... passada numa qualquer ilha deserta para onde um homem é levado por uma terrível tempestade que havia tomado o leme da sua embarcação. Aí chegado é obrigado a criar o seu próprio manual de sobrevivência... comer, proteger-se das intempéries, dos animais selvagens, conviver com a solidão, passam a ser algumas das directrizes forçadas da sua condição humana. Mas tudo numa toada pausada e por vezes demasiado previsível que tiraram algum brilho e emoção a esta peça. Após anos e anos entregue ao seu próprio destino no meio do oceano, o náufrago descobre que não está só no meio daquele infortúnio, uma bela nativa – uma espécie de Tarzan em versão feminina – leva-o a redescobrir os prazeres carnais. O relógio do tempo continua a pedalar e com ele o duo de habitantes da imaginária ilha prepara-se para ser alargado a três, graças ao ser que a sensual nativa carrega no seu ventre. E eis que a imagem mil vezes imaginada pelo náufrago é por fim realidade... o seu resgate é finalmente concretizado, e para trás deixa a ilha, a solidão, a bela mulher e o filho que esta espera de si. Um final tépido para uma história cuja essência a retirar – quanto a nós, claro – será a de que o ser humano é ao fim de contas um bicho selvagem demasiado individualista e cruel.
Por:
Miguel Barros
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