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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 30-10-2010

    SECÇÃO: Destaque


    O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

    Solidariedade em Ermesinde

    Os republicanos de há cem anos atrás não se interessavam só pelo cidadão na sua vertente de agente activo da política, para o instruírem no caminho da prática democrática, também reivindicavam a sua instrução e a sua inclusão social, apoiando, solidariamente, aqueles que menos tinham, a começar naturalmente pelas crianças. É nesse contexto que surge a Creche de Ermesinde (1911) e mais tarde a Conferência de S. Vicente de Paulo (1924).

    Em 1911 a Capela de S. Silvestre estava completamente abandonada, por isso a nova administração da freguesia pensou primeiro em instalar ali uma creche de acolhimento das crianças pobres, e mais tarde, na instalação de uma escola primária
    Em 1911 a Capela de S. Silvestre estava completamente abandonada, por isso a nova administração da freguesia pensou primeiro em instalar ali uma creche de acolhimento das crianças pobres, e mais tarde, na instalação de uma escola primária
    Implantada a República a nova administração da freguesia levantou a questão da construção de uma creche destinada a acolher as crianças pobres e abandonadas. A primeira vez que o problema foi levantado de uma forma decisiva, foi na reunião do dia 21 de Maio de 1911. Amadeu Vilar, na condição de Presidente da Comissão Administrativa, chamou a atenção dos restantes elementos do Executivo da Junta para «a grande falta de protecção das crianças pobres e lembrou a construção duma creche e disse que podia ser aproveitado o terreno sito no logar da Ermida onde está a capella de S. Silvestre, em vista da dita capella estar n’um estado completo de abandono». Foi aprovado avançar com o estudo deste projecto.

    Em Setembro de 1911, a Creche de Ermesinde recebeu a sua primeira verba – 3 mil e 400 réis, oferecidos por Amadeu Vilar, que havia recebido 3$000 rs. na qualidade de membro da Comissão Recenseadora e $400 rs. dos emolumentos como Regedor.

    Em Novembro de 1911, o projecto da Creche avançou mais com o pedido formal ao Governo de cedência da Residência Paroquial para a sua instalação, o que viria a ser deferido em meados de 1912.

    O suporte financeiro da Creche saía das contas da Junta, mas o certo é que muitos cidadãos republicanos que se identificavam com essa importante obra de solidariedade, contribuíram com grandes donativos em dinheiro. Também a Comissão de Assistência, Confrarias, Câmara e Governo Civil foram financiando a Creche.

    Entre os donativos que foram transcritos para as actas da Junta de Freguesia de Ermesinde, e para além do já referido de Amadeu Sousa Vilar, aparecem os seguintes: ainda em 1911, Augusto César de Mendonça – 1 100 réis, João Marques Saldanha – 10 000 réis e Carlos Moreira Lopes – 6 000 réis; em 1912, Joaquim Ferreira Neves (de Folgosa) – 1 000 réis, Joaquim Gomes da Costa – 500 réis, Luís Augusto Marques de Sousa – 12 cobertores, e a Confraria de Santa Rita – 15 000 réis; em 1913, a Comissão Promotora da Festa da Árvore de Natal ofereceu duas inscrições de valor nominal de 100.000 réis cada uma, a Comissão Municipal Administrativa concedeu o subsídio de 8$29 escudos (é a primeira vez que nas actas da Junta da Freguesia de Ermesinde se faz referência à nova moeda, o escudo – cada escudo correspondia a mil réis) para Beneficência, que a Comissão destinou à Creche, Augusto Vieira Carneiro – 70 centavos, Manuel Carneiro Caseiro e Joaquim António Carvalho – 60 centavos cada um, Câmara Municipal – 24$00 de subsídio, Comissão de Beneficência de Valongo – 10$76; em 1914, Confraria de Santa Rita – 16$09, Centro Republicano de Ermesinde – 3$39, Governador Civil do Porto – 10$00.

    Depois do arranque inicial, a gestão financeira da Creche começou a ser assegurada pela Junta e por subsídios mais ou menos fixos das Instituições já referidas. Com o advento do Sidonismo, a Creche entra em decadência progressiva. Em Fevereiro de 1918, a crise estava declarada, já só havia duas crianças. A Junta de então ainda tentou dinamizar a Creche, nomeando como seu Director o Padre Avelino Moutinho Moreira da Assunção, sem qualquer remuneração, uma vez que a Comissão Administrativa lhe permitia residir gratuitamente no edifício da Creche, precisamente a antiga Residência Paroquial.

    Com a queda do Sidonismo, foi anulada a deliberação da Junta anterior, exonerando o Director da Creche e “despejado” dos seus aposentos. A Creche terminava definitivamente, sendo as crianças abandonadas entregues a amas pagas pela Junta da Freguesia ou pela Câmara.

    A CONFERÊNCIA

    DE S. VICENTE

    DE PAULO

    DE ERMESINDE

    Para ajudar os mais pobres, quando na década de 1920 as condições de vida se degradaram subitamente de forma bastante cruel, com enormes taxas de inflação, e dada a ineficácia do Estado, surgiriam um pouco por todo o País, instituições que apoiavam as famílias mais carenciadas.

    Entre essas instituições é de destacar a Conferência de S. Vicente de Paulo que, normalmente, anda associada à Igreja Católica, mas que tem um funcionamento e uma orgânica autónomos.

    A Conferência de S. Vicente de Paulo de Ermesinde foi fundada no dia 27 de Janeiro de 1924 pelo Dr. Fernando Vieira de Castro, num contexto de grandes dificuldades motivadas pelo enorme aumento do custo de vida. Dela fizeram parte ainda os seguintes elementos: Padres Avelino da Assunção (Pároco) e Arnaldo Rebelo, e os Senhores: Domingos José Pereira (Presidente), António Baltazar Brites (Vice-Presidente), Joaquim Dias Azevedo (Secretário), António Correia Bacelo (Vice-Secretário), Manuel Gonçalves Rebelo (Tesoureiro), António Gonçalves Ramalho (Vice-Tesoureiro), Domingos Ferreira dos Santos (Confrade) e Manuel Moutinho Real (Confrade).

    A Conferência de S. Vicente de Paulo de Ermesinde fez com que desaparecesse grande quantidade de mendigos que andava de porta em porta a pedir esmola para matar a fome.

    Dentro das suas magras possibilidades, a Conferência de S. Vicente de Paulo foi apoiando muitas famílias dando-lhes um mínimo de aconchego e protecção, como aliás continua a fazer presentemente.

    Pese embora toda a boa vontade e generosidade dos elementos da prestante instituição que é a Conferência de S. Vicente de Paulo, torna-se insuficiente o apoio prestado, mesmo com o apoio do Estado-providência agora designado “Subsídio de Reinserção Social”, pois há cada vez mais pobres em resultado das enormes dificuldades económico-financeiras que se vão abatendo sobre todos e muita pobreza encoberta e envergonhada, especialmente entre as pessoas mais idosas, a receberem a reforma mínima, que, por vezes, não chega para pagar os medicamentos que têm de tomar.

    Também os desempregados e doentes, não esquecendo muitos dos que caíram no mundo da toxicodependência, recebem assistência da Conferência de S. Vicente de Paulo.

    É, pois, de enaltecer a filantropia dos elementos que trabalham generosamente para o bem comum, sem receberem qualquer benefício em troca, pagando mesmo as suas deslocações e despesas, apenas pela satisfação do dever social cumprido.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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