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    Arquivo: Edição de 15-09-2010

    SECÇÃO: Destaque


    ENTREVISTA COM PRESIDENTE DA DIRECÇÃO DO CSE

    Henrique Rodrigues realça esforço de consolidação orçamental do CSE e desafia a cidade no apoio ao jornal “A Voz de Ermesinde”

    Cerca de seis meses passados sobre a tomada de posse da nova Direcção do Centro Social de Ermesinde, e coincidentemente na altura em que o nosso jornal transfere as instalações da sua Redacção para o largo da feira velha, o presidente da Direcção da IPSS fala sobre a situação de gestão do Centro Social e sobre a sua relação com o nosso jornal e deste com a Cidade.

    Fotos URSULA ZANGGER
    Fotos URSULA ZANGGER
    “A Voz de Ermesinde” (AVE): Neste seu regresso à presidência do Centro Social de Ermesinde, o que veio encontrar? Quais são as maiores dificuldades e desafios?

    Henrique Queirós Rodrigues (HQR): Entendendo nós a gestão do Centro Social de Ermesinde, desde sempre, como uma gestão de continuidade, importa que a rotação que a lei estabelece, impedindo mais do que dois mandatos consecutivos à Direcção não se traduza em sobressaltos ou perturbações.

    A gestão do Centro Social nestes últimos anos tem-se ressentido, isso sim – e de forma evidente! – com a actual situação de crise geral, já que, sendo relativamente rígida a estrutura de receitas da instituição – comparticipações das entidades públicas e comparticipações dos utentes dos nossos serviços -, tem-se sentido a retracção do apoio do Estado e, pelas mesmas razões de crise geral, a diminuição dos pagamentos por parte dos utentes.

    Os utentes comparticipam, como se sabe, de acordo com os rendimentos das famílias, e por isso têm vindo a baixar – já que os índices de pobreza se manifestam com uma incidência cada vez maior –, o que obriga a um esforço suplementar por parte da instituição.

    É preciso ver que é nestas situações de crise social que a necessidade de apoio solidário às pessoas e às famílias pelas instituições como o Centro Social de Ermesinde mais se faz sentir.

    É um pouco ao contrário do que se passa nos outros sectores: as crises são o nosso espaço de crescimento, já que as instituições solidárias existem para apoiar quem se encontra mais vulnerável – e as crises fazem aumentar os grupos sociais mais frágeis.

    AVE: Algumas decisões tomadas no que respeita ao alargamento dos serviços da escola pública prejudicaram o Centro Social?

    HQR: A decisão do Ministério da Educação de avançar para uma escola a tempo inteiro, prolongando a duração desta, há 3 anos, veio também trazer alguma perturbação ao funcionamento das Actividades de Tempos Livres (ATL), obrigando a prestação do serviço a fazer-se apenas em vários períodos de permanência limitados das crianças, na extensão dos horários, antes e depois das aulas, nas horas de almoço e nas férias, com uma maior carga para os transportes da instituição. Ainda assim sem redução da procura, mantendo-se o número de utentes – o que constituía um dos receios.

    Temia-se igualmente que essa redução pudesse ocorrer com a criação de salas de jardim de infância, nos novos centros escolares que o Ministério da Educação, em parceria com as Câmaras, vem construindo um pouco por todo o País, em concorrência ilegal e desleal à rede solidária já existente e implantada - o que felizmente, no nosso caso, ainda não se verificou, também em reconhecimento da qualidade dos serviços que prestamos.

    Em discussão com as autarquias e o Ministério respectivo, as entidades do Sector Social têm tentado reverter estas decisões, tomadas aliás ao arrepio da orientação deixada no Governo Guterres, que abria a prestação desses serviços educativos à rede pública e à rede solidária, em complementaridade.

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    AVE: Em sentido inverso foi positiva para o CSE a criação dos Centros Novas Oportunidades?

    HQR: A criação dos Centros Novas Oportunidades, que veio a revelar-se uma medida feliz, teve, desde o primeiro momento, o apoio do Centro Social de Ermesinde, que se tem empenhado nesta resposta, de forma digna e qualificada. Resposta que reputa muito positiva e que pretende abrir um caminho às pessoas sem emprego e/ou sem escolaridade. Aliás mesmo antes dos Centros Novas Oportunidades já havia uma tradição forte de cooperação entre o CSE e o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). E não há nada a apontar na história da relação do CSE com o IEFP ou a Agência para a Qualificação.

    O surgimento dos Centros Novas Oportunidades trouxe também a possibilidade de requalificação profissional aos próprios trabalhadores do CSE, com um benefício evidente que resulta da maior motivação profissional – esta foi uma aposta muito significativa, cujos créditos se têm de atribuir inteiramente à anterior Direcção.

    AVE: Se diminuem as receitas como pode o CSE fazer face à situação geral adversa?

    HQR: Confrontada com a diminuição das receitas e o aumento da procura por parte dos utentes, a única forma de fazer face à situação é através da diminuição da despesa.

    Os últimos anos têm apresentado défices de exploração, mas cremos que 2010 será já um ano de consolidação orçamental e de equilíbrio financeiro, para que se possam começar a diminuir os prazos de pagamento aos fornecedores que, de momento, se reconhece serem excessivos.

    Nesse sentido foi feito um plano para o pagamento faseado desses encargos que, regra geral, mereceu o bom acolhimento dos fornecedores contactados.

    Será, por isso, sobretudo um ano de consolidação, não estando previsto, em 2010, lançar-se mais nenhuma resposta nova.

    Não queremos anunciar investimentos, sem garantia prévia de recursos para os pagar.

    Será um exercício de rigor, onde se irá procurar cortar nas despesas socialmente não reprodutivas e consolidar as contas.

    Hoje existem cada vez mais condições para essa consolidação das contas. Por exemplo, hoje todas as valências do Centro Social se encontram concentradas junto da sede no largo da feira velha, já que quer o Centro Comunitário das Saibreiras quer o Centro de Ocupação Juvenil (na José Joaquim Ribeiro Teles) foram transferidos para a gestão da Associação Ermesinde Cidade Aberta (ECA), como se sabe criada também para fazer a gestão do projecto de transformação do velho cinema de Ermesinde em projecto educativo de resposta social para a comunidade.

    Também “A Voz de Ermesinde“ acompanhou esse processo de concentração geográfica, para melhor rentabilizar os recursos comuns.

    AVE: A criação da ECA e a compra do cinema não pesam na gestão do CSE?

    HQR: Há no ar uma ideia errónea de que a aquisição do edifício do velho cinema de Ermesinde possa estar a pesar na gestão do Centro Social de Ermesinde, mas a verdade é que, encontrando-se já pago um terço do valor do cinema em Dezembro próximo – até lá cerca de cem mil euros –, exclusivamente com recursos próprios e com a colaboração de benfeitores, desses cem mil, apenas cerca de doze mil constituirão, nessa data, crédito do Centro Social de Ermesinde. O pagamento de toda a parte restante foi assegurado pela Associação Ermesinde Cidade Aberta.

    A gestão da ECA é totalmente independente. E existe ainda uma expectativa fundada de que o Ministério do Trabalho e da Segurança Social possa vir a assegurar uma parte do investimento da aquisição. O presidente do Instituto da Segurança Social, aliás, já veio ao local.

    AVE: O processo de certificação de qualidade em curso no CSE ressentiu-se da actual conjuntura?

    HQR: Houve alguma reponderação acerca do projecto de requalificação e certificação de qualidade dos serviços do Centro Social. Isto porque o modelo de certificação de qualidade (ISO) que estava em curso não tem efeitos na atribuição de níveis de qualidade por parte da Segurança Social, porque, entretanto, a própria Segurança Social instituiu um modelo próprio de certificação, em parte compatível com o que estávamos a promover, mas com algumas diferenças. Então o que se pretende agora é reformular o programa de certificação de qualidade de modo a torná-lo o mais de acordo com as boas práticas exigidas pela Segurança Social, que prioriza a cooperação e os apoios às instituições que atinjam o mais elevado dos três patamares (A, B e C) de qualidade estabelecidos.

    E é expectável, pelo trabalho que temos vindo a fazer, que o CSE possa estar nessa primeira linha, como sempre tem sucedido, quer na capacidade, quer na prestação das respostas.

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    AVE: Pode dar algum exemplo das medidas tomadas nesse esforço de consolidação orçamental e redução das despesas?

    HQR: Como exemplos avulsos da intervenção da gestão do CSE nas suas valências podem apontar-se o redireccionamento dos serviços da lavandaria, que deixam de dirigir-se ao público em geral para se concentrar numa clientela mais institucional, permitindo com isso reduzir custos e redimensionar a estrutura a um nível sustentável, ou a mudança das instalações do jornal para o largo da feira velha, com a consequente diminuição de custos resultante do não-pagamento da renda que onerava as anteriores instalações, para além de uma política de grande contenção no que respeita à admissão de novos trabalhadores. Aliás, sobre o jornal queria deixar algumas palavras, começando por realçar, do ponto de vista simbólico, o regresso do jornal ao local onde começou a forjar-se a sua identidade histórica.

    “A Voz de Ermesinde”, desde o seu início e até hoje, construiu uma identidade própria, como jornal ao serviço da comunidade, órgão de informação local de referência em Ermesinde – nunca quis ser, desde os fundadores, um mero boletim da instituição e sempre se entendeu como muito para além do papel social, embora relevante, do seu proprietário.

    Por outro lado, esta IPSS, desde há mais de 50 anos – era então ainda Centro de Assistência Social de Ermesinde – também entendeu, desde o primeiro momento, que o jornal de que era proprietária deveria ser um agente de intervenção social, cultural e cívico na própria terra, criando um jornal não para a instituição mas para a comunidade.

    Também nisso os fundadores foram precursores. Hoje, é considerada uma importante mais-valia de uma instituição solidária possuir uma capacidade de intervenção multifacetada e ampla, por assim potenciar o desenvolvimento local, nas perspectivas social, cultural, económica e ambiental.

    Nos tempos difíceis e cinzentos da ditadura, já os primeiros dirigentes do CSE entendiam que deveriam intervir na vida da sua comunidade.

    É por isso importante mostrar esta proximidade com o CSE, que a mudança de instalações para o seio do território histórico do CSE evidencia.

    É bom para o CSE mostrar que se mantém o seu empenho na defesa dos interesses e dos valores da Cidade – no que respeita à vida pública, ao património, às colectividades, como tem sido sempre o seu timbre. E que mantém um órgão de informação para esse empe-nhamento.

    “A Voz de Ermesinde” tem sido esse veículo ao longo de mais de 50 anos – com oscilações, é certo, e nem sempre com o aplauso de todos.

    Mas a identidade, no essencial, tem sido mantida.

    A mudança de instalações dá conta desse realce – “A Voz de Ermesinde” pertence ao Centro Social de Ermesinde” – mas não representa qualquer diferença relativamente à independência editorial do jornal.

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    AVE: E quanto à gestão?

    HQR: Do ponto de vista da gestão não podemos esquecer os últimos anos de exploração deficitária de “A Voz de Ermesinde”, embora o défice que aparece nas contas não seja verdadeiro, mas meramente contabilístico, porque, tendo a exploração do CSE défice, este é repercutido por todas as valências da instituição e também, assim, pelo centro de custos que o jornal constitui nas contas gerais do CSE.

    A recente mudança de instalações procura atenuar esse défice. Parte dele justifica-se também – e os assinantes sabem-no bem –, porque o CSE deixou de enviar um cobrador às suas casas, por razões de organização. Mas vamos contactar de novo todos os assinantes para que estes possam pagar as assinaturas em atraso. Voltará a haver um cobrador, embora seja sempre preferível o pagamento por transferência bancária.

    E não deve esquecer-se ainda o fim do regime de porte pago, que veio agravar ainda mais as condições de sobrevivência do jornal.

    Por outro lado, como referi há pouco, a instituição entende que, do ponto de vista do conteúdo, o jornal não é uma coisa sua, mas de toda a comunidade, e assim deveria ser a cidade de Ermesinde a pagar para manter o seu jornal. Por isso também vamos tentar expandir a sua rede de assinantes, porque existe uma espécie de dever cívico em ajudar a suportar o jornal que tem defendido a cidade, os seus bens patrimoniais, o seu desenvolvimento sustentável, divulgando as actividades relevantes que nela se passam.

    E já agora, não deixa de ser interessante ver o jornal regressar junto ao local onde já esteve, no largo da feira velha, numa altura em que este se requalifica, muito por acção do CSE, no que respeita à restituição de vida ao largo – com pessoas e com actividades. Requalificação – diga-se – que em muito o melhorou, quer com o arranjo urbanístico em curso quer com a pavimentação da Rua Miguel Bombarda.

    Por: LC

     

     

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