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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-06-2010

    SECÇÃO: Destaque


    O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

    A ligação entre o Porto e Ermesinde por carro eléctrico

    Um outro melhoramento de enorme importância para o crescimento urbano de Ermesinde e até para a sua consagração como estância balnear do Porto, foi a chegada do carro eléctrico. A partir do dia 8 de Fevereiro de 1916, em plena I República, o “eléctrico” passou a unir a Praça da Liberdade ao Largo da Estação de Ermesinde. As figuras mais destacadas do republicanismo de Ermesinde estiveram envolvidas nesta reivindicação e também no momento de festejarem a sua concretização.

    Chamaram-lhe naquele tempo a linha americana e o novo transporte de tracção eléctrica foi considerado o melhor meio de transporte urbano a ligar o centro do Porto aos seus arrabaldes.

    A linha n.º 9 saía da Praça de D. Pedro (hoje Praça da Liberdade, bem no centro da Capital do Norte), e vinha, primeiro até à Areosa, mais tarde até Águas Santas e, a partir de 8 de Fevereiro de 1916, depois de muita insistência e esforço das mais destacadas personalidades ermesindenses, prolongou o seu trajecto até Ermesinde (Largo da Estação), percorrendo uma extensão total de 10 382 metros.

    Revelou-se um excelente meio de transporte urbano, muito usado ao domingo por parte de centenas ou milhares de portuenses, que buscavam em Ermesinde um espaço de lazer e de sossego, desfrutando de uma magnífica paisagem ribeirinha, junto a um Leça de águas límpidas e margens bem arborizadas, que serviam de cenário natural a piqueniques, onde se reuniam famílias inteiras ou grupos de jovens que assim se distraíam de forma bastante sadia e alegre.

    Ermesinde convertera-se, então, numa verdadeira estância balnear e campestre, merecendo plenamente os epítetos de “Pérola do Leça”, “Sintra do Porto” ou ainda “Sintra do Norte”.

    O eléctrico contribuiu para a promoção turística de Ermesinde, mas também para o seu enorme crescimento urbano.

    Ermesinde recebeu os primeiros carros em ambiente de romaria.

    A provar o que dizemos, transcrevemos do prestigiado periódico portuense “O Primeiro de Janeiro”, a notícia do evento.

    «Linha Eléctrica a Ermesinde / Inaugurou-se, no domingo, o prolongamento da linha eléctrica de Águas Santas a Ermesinde, a instâncias de uma comissão de moradores desta última localidade, e em que tomaram parte principal os srs. José Joaquim Ribeiro Teles, Alberto Dias Taborda e Amadeu Vilar, secundados pelo estimado capitalista e proprietário sr. Francisco Silveira Machado Soares. A inauguração da nova linha constituiu um grande dia de festa para os povos de Ermesinde e arredores, em virtude da vantagem de ligação com a cidade do Porto, de 20 em 20 minutos, num percurso de alguns quilómetros, cujo trajecto se faz em 50 minutos pelo preço de 110 réis.

    Este novo meio de transporte de que muitos já têm saudade fez milhares de vezes o percurso entre Ermesinde e Porto
    Este novo meio de transporte de que muitos já têm saudade fez milhares de vezes o percurso entre Ermesinde e Porto
    Os carros inaugurais saíram de Águas Santas pelas duas horas da tarde, até à entrada do concelho de Valongo, com os directores da Companhia Carris, srs. dr. Adriano Pereira da Silva e José Augusto Dias; chefe do serviço sr. Carvalho e outras pessoas empregadas da Companhia e alguns convidados. À entrada do concelho de Valongo, entre outras pessoas, juntaram-se o administrador do concelho, sr. Augusto Mendonça; o presidente do Senado municipal, sr. Manuel Gonçalves Moreira; o presidente da comissão executiva, sr. dr. Maia Aguiar; os membros da comissão já aludida e mais os srs. dr. António Ribeiro da Costa e Almeida e seu filho; Pinto Lopes, Augusto Carlos dos Santos, Marques de Sousa, presidente do Centro Comercial do Porto; Feliciano Rocha, Alberto Monteiro Guimarães, etc.

    No ar, estouraram algumas dúzias de foguetes, e das janelas de diversas propriedades as senhoras arremessaram punhados de flores.

    Ao carro dos convidados seguiu-se outro com a Banda dos Empregados da Companhia Carris, que, em todo o trajecto, executou vários trechos de música, tocando toda a tarde no largo fronteiro à estação de Ermesinde e fazendo-se apreciar e aplaudir nas composições com que deliciaram a romaria que, por assim dizer, ali se fez por motivo da inauguração da linha eléctrica.

    Pouco depois da chegada dos carros inaugurais, foi servido um magnífico copo--d’água no Hotel de Ermesinde, em que se trocaram afectuosos brindes, pondo--se em relevo as vantagens da nova linha àquela bela e próspera freguesia.

    Iniciou os brindes o sr. dr. Costa de Almeida, seguindo--se outros dos srs. Alberto Dias Taborda, Marques de Sousa, José Augusto Dias, Amadeu Vilar, José Joaquim Ribeiro Teles, dr. Maia Aguiar, Augusto Mendonça, dr. Adriano Pereira da Silva, D. Bernardo Trevisani, e outros, aclamando-se a Direcção da Companhia Carris, a Câmara de Valongo, o capitalista sr. Silveira Soares, o nosso jornal, a Imprensa, o director dos Caminhos de Ferro do Minho e Douro, o engenheiro Macedo de Freitas, inspector industrial, etc..

    Os carros eléctricos transitaram, repletos, por toda a tarde e parte da noite».

    Relativamente a esta benfeitoria, acho pertinente transcrever também parte do que Humberto Beça escreveu na sua monografia:

    «O numero de passagens vendidas nas duas linhas de n.º 9 (Praça - Ermezinde e Areosa - Ermezinde) foi desde 1 de Julho de 1920 a 30 de Junho de 1922 o seguinte: / Praça - Ermezinde – 216 000 bilhetes / Areosa – Ermezinde – 264 000 bilhetes).

    Estes numeros não são dum rigor absoluto, mas muito aproximados.

    O movimento dos carros da carreira de Ermezinde, aos domingos, atinge mais de esc. 2 000$00, sendo o serviço reforçado, tal a afluencia de gente que do Porto se dirige á pitoresca povoação para aí passar o dia.

    O movimento de restaurantes e hóteis da localidade é consequentemente grande, devendo-se justamente a este aumento de movimento que a linha americana trouxe a Ermezinde, o numero relativamente grande de casas deste genero que ali existe.

    (…) Actualmente procede-se a uma obra importante de desvio da linha americana que cruza a linha ferrea no logar de Carreiros, junto á propriedade do Dr. Rangel.

    Esse desvio tem por fim fazer passa-la em plano inferior á linha do caminho de ferro, de forma a afastar a probabilidade de uma catástrofe, sempre eminente, com o cruzamento no mesmo plano e dado o grande movimento de comboios na respectiva estação, ora em transito, ora em manobra.

    O desvio da linha americana traz a Ermezinde, desde já, e como benefica consequencia, o rasgamento de uma bela avenida, paralela numa grande extensão á propria linha ferrea, pelo lado do nascente, avenida que num curto espaço de tempo será povoada de belas edificações, dada a importancia da sua situação e dos terrenos com que confina (…)».

    Mais tarde, já no decurso do ano 1928, a linha n.º 9 do eléctrico avançaria, na Rua Rodrigues de Freitas, até junto da Igreja Matriz de Ermesinde, seu novo términus.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

     

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