Festejos de S. João
“Até os mouros na mourama
Festejam o S. João
Quando os mouros o festejam
Que fará quem é cristão” (1)
Das festas populares que se realizam no mês de Junho as mais importantes são as que se relacionam com o S. João. Estas «distinguem-se e avultam pela amplitude da sua área de difusão, não só em Portugal mas em quase todos os países da Europa, em terras americanas, e até mesmo no Norte de África, em povos de cultura muçulmana (embora seja claro que cada país lhe dê uma feição própria, de acordo com a sua estrutura e com o matiz da sua cultura)». (2)
Festas cheias de significados e de memórias ancestrais que foram transmitidas através dos tempos, ricas em mistérios, “práticas divinatórias, profiláticas ou mágicas” e sempre cruzadas com a celebração do fogo, da água e das ervas.
Muitas vezes associadas a ritos de fecundidade, não admira que a maior parte das divinações e sortes amorosas se relacionem com o casamento.
Santo pastor, como é representado nas cascatas, é festejado em zonas pastoris, no «dia da largada dos grandes rebanhos transumantes da Estrela para Montemuro».
Mas é na nossa região que se realizam os maiores festejos são-joaninos, Porto e Braga, onde as festas são promovidas pelas mais altas autoridades.
Aqui mesmo ao lado em Sobrado, temos um dos festejos mais significativos, que integra uma lenda que nos transporta à época da ocupação muçulmana na Península Ibérica.
Festa não nos falta, casamentos adivinham-se mas, entretanto, o desemprego não diminui e, pela primeira vez, recebi um e-mail pedindo ajuda, famílias em que os dois cônjugues estão desempregados com filhos para criar, classe média sem salário, com casa para pagar que se oferecem para qualquer serviço, são pessoas que procuram trabalho e não apenas emprego!...
Os tempos mudam e com eles o tipo de preces, adivinhações são cada vez mais difíceis, casamentos estão mais fáceis, resta-nos os festejos dos santos e um feriado criado pela República para a cidade do Porto. Pelo menos desde o século XIV se conhecem festejos na cidade do Porto em honra de S. João. Quanto ao feriado proposto por Henrique D’Oliveira foi sujeito a um referendo, o “Jornal de Notícias” organizou um concurso popular por votação postal, tendo vencido o dia 24 de Junho, Dia de S. João.
Quanto às quadras, ainda há quem as faça divertidas e provocatórias, em que a luta entre o Norte e o Sul é marcada pela velha tradição de chamar “mouros” aos nossos irmãos do Sul.
A gente do norte é boa
É gente de trabalhar
Não como a de Lisboa
Que foi feita p’ra roubar
A cristandade trabalha
P’ra moirama regalar
E quando há quem nos valha
Logo o procuram comprar
E p’ra nosso grande espanto
piores são os cristãos
A quem a Moirama compra
A quem unta bem as mãos
É triste a nossa sina
De correr c’oa Mouraria
Passam por gente fina
Mas rouba-nos todo o dia
Não temos medo do Socras
nem tememos o Vieira
Fazemos orelhas moucas
A essa gente foleira
Mas o S. João é nosso
E sempre o há-de ser
Não é um Santinho insosso
Que aos mouros se vá vender (3)
(1) Cancioneiro Popular.
(2) Ernesto Veiga de Oliveira, “Festividades Cíclicas em Portugal”.
(3) Renato Roque, quadras populares para amigos.
Por:
Fernanda Lage
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