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    Arquivo: Edição de 28-02-2010

    SECÇÃO: Tecnologias


    Porque é que o “código aberto” perde o ponto de vista do software livre? (2)

    Quando chamamos ao software «livre», referimo-nos a que respeita as liberdades essenciais do utilizador: a liberdade de utilizá-lo, executá-lo, mudá-lo e estudá-lo, e [a liberdade] de distribuir cópias com ou sem modificações. Esta é uma questão de liberdade e não de preço, por isso pense-se em «liberdade de expressão» e não em «gratuitidade». [1]

    Estas liberdades são de vital importância. São essenciais, não somente para o bem do utilizador individual, porque promovem a solidariedade social: compartilhar e cooperar. Estas liberdades tornam-se ainda mais importantes quando a nossa cultura e actividades da vida diária se tornam cada vez mais digitais. Num mundo de sons, imagens e palavras digitais, o software livre acaba por representar a liberdade em geral.

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    A definição oficial de «software de código aberto», publicada pela Open Source Initiative é muito longa para citá-la aqui, e derivou indirectamente do nosso critério para o software livre. Não é a mesma, é um pouco mais imprecisa nalguns aspectos, assim os seus partidários aceitaram algumas licenças que nós consideramos inaceitavelmente restritivas contra os utilizadores. Mas contudo, está bastante próxima da nossa definição na prática.

    Sem dúvida que o significado óbvio para a expressão «software de código aberto», e muita gente parece pensar que é isso que significa, é «poder ver o código fonte». Esse é um critério muito mais débil que o de software livre, e é muito mais débil que a definição oficial de código aberto. Inclui muitos programas que não são nem livres nem de código aberto.

    Dado que é óbvio que o significado para «código aberto» não é o que os seus defensores querem, o resultado é que muita gente entende mal o termo. De acordo com o escritor Neal Stephenson, «Linux» é software de “código aberto”, o que significa simplesmente que qualquer pessoa pode obter cópias dos arquivos do seu código fonte». Não penso que ele, deliberadamente, buscasse rechaçar ou questionar a definição «oficial». Penso que simplesmente aplicou las convenções do idioma inglês para obter o significado do termo. O estado do Kansas [EE.UU.] publicou uma definição similar: «fazer uso do software de código aberto (OSS, pela sua sigla em Inglês). OSS é o software cujo código fonte está gratuitamente y publicamente disponível, ainda que os acordos específicos de licença possam variar sobre o que cada um possa fazer com o código».

    O “New York Times” estendeu o termo para referir-se às provas dos utilizadores, permitir a uns quantos utilizadores experimentar uma versão inicial e dar as suas impressões de forma confidencial, lo que los programadores de software proprietário já realizam há décadas.

    Os partidários do código aberto tentam lidar com este problema referindo-se à sua definição oficial, mas esse enfoque correctivo é menos efectivo para eles do que para nós. O termo «software livre» tem dois significados naturais, um dos quais é o desejado; de maneira que uma pessoa que tenha compreendido a ideia de «liberdade de expressão, não gratuitidade» não se equivocará de novo. Contudo, o «código aberto» só tem um significado natural, o qual é diferente do que os seus partidários desejam. Assim não há uma maneira breve de explicar e justificar a definição oficial de «código aberto». Isso causa uma confusão pior.

    Outro mal-entendido do «código aberto» é a ideia que significa «não usar a GPL de GNU». Costuma ser acompanhada de outro mal-entendido, «software livre» é igual ao «software debaixo da GPL de GNU». Ambos são mal-entendidos, já que a GPL de GNU é considerada uma licença de código aberto; e a maioria das licenças de código aberto também se consideram licenças de software livre.

    Valores diferentes

    podem levar

    a conclusões similares,

    mas nem sempre

    Os grupos radicais nos anos 60 tinham a reputação de ter muitas facções: algumas organizações dividiam-se por desacordos com respeito a detalhes de estratégia; e os grupos resultantes se tratavam-se entre eles como inimigos, ainda que tivessem metas e valores básicos similares. A direita aproveitou-se disto e utilizou-o para criticar a esquerda em geral.

    Alguns tentam desacreditar o movimento do software livre comparando o nosso desacordo com o código aberto com os desacordos desses grupos radicais. Entendem-no ao contrário. Estamos em desacordo com o código aberto nas metas e valores básicos; mas a sua perspectiva e a nossa levam, em muitos casos, ao mesmo comportamento prático, como programar software livre.

    Como resultado, gente do movimento do software livre e do âmbito do código aberto trabalham, com frequência, juntos em projectos práticos como o desenvolvimento de software. É notável que pontos de vista filosóficos tão diferentes possam tão amiúde motivar diferentes pessoas a participar nos mesmos projectos. Contudo, estes pontos de vista são muito diferentes e existem situações nas quais levam a acções totalmente diferentes.

    A ideia do código aberto é a de que permitir aos utilizadores modificar e redistribuir o software o fará mais potente e confiável, mas tal não garantido. Os programadores de software proprietário não são necessariamente incompetentes. Algumas vezes produzem um programa poderoso e confiável, ainda que não respeite a liberdade do utilizador. Os activistas para o software livre e os entusiastas do código aberto reagem a isto de uma forma diferente.

    Um entusiasta puro do código aberto, que não esteja influenciado por nada dos ideais do software livre, diria: «Estou surpreendido que tenham feito que o seu programa trabalhe tão bem sem utilizar o nosso modelo de desenvolvimento, mas fizeram-no. Como podemos obter uma cópia?» Esta atitude premiaria os esquemas que nos tiram a liberdade, levando-nos à sua perda.

    O activista para o software livre diria: «O seu programa é muito atractivo mas valorizo mais a minha liberdade. Assim, rejeito o seu programa. Em seu lugar, apoiarei um projecto para que se desenvolva um substituto livre.». Se valorizamos a nossa liberdade, podemos mantê-la e defendê-la.

    Por: Richard Stallman

    [1] Em Inglês o termo “free” pode significar “livre” ou “gratuito”.

    Nota “A Voz de Ermesinde”: Texto traduzido por nós a partir da versão espanhola.

     

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