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    Arquivo: Edição de 10-12-2009

    SECÇÃO: Opinião


    A solidão do processo democrático

    Passadas que estão as três campanhas eleitorais e as correspondentes eleições, as forças políticas que nelas participaram tratam de “lavar os cestos”.

    De todo o processo democrático, a fase em que agora entramos é não só a mais longa, mas também a mais solitária. A maioria da população que votou nas eleições já guardou o “fato de cidadão” e só o voltará a usar daqui a 4 anos. Neste interregno, esquecerá a cara de todas ou quase todas as pessoas que elegeu e não vigiará se o programa que lucidamente escolheu está ou não a ser aplicado. Não estranhará que no local das sedes de campanha dos partidos nasçam prédios, que apareçam mais umas construções em áreas já de si densamente edificadas, que áreas florestais ou agrícolas sejam substituídas por áreas comerciais, industriais ou habitacionais, que os serviços públicos sejam privatizados e que passem a ser piores e mais caros, que as taxas aumentem porque é preciso pagar as loucuras do período eleitoral. Daqui a 4 anos, a história repete-se: os guarda-chuvas, as t-shirts, os copos de champanhe, as canetas, os porta-chaves, os porcos no espeto, tudo distribuído gratuitamente, não interessando de onde vem o dinheiro; no espírito da apelidada “dinâmica de vitória”, o fato de cidadão voltará a ser vestido e a escolha recairá entre os dois candidatos que têm mais possibilidade de ganhar, votando-se de forma negativa, ou seja, rejeitando aquele de que se gosta menos.

    Não se trata, nesta análise – vale a pena sublinhar –, de reagir aos resultados das últimas eleições autárquicas. A reflexão que aqui faço resulta de uma experiência de 4 anos de participação activa no Executivo da Junta de Ermesinde. Durante esses 4 anos vi como foram raros os momentos de mobilização cidadã a propósito dos problemas da Cidade, vi com muita apreensão o alheamento das pessoas relativamente à vida e futuro da sua terra, vi quem é que participava nas reuniões públicas da Junta e da Assembleia de Freguesia: quase sempre as mesmas pessoas e quase sempre pessoas com enquadramento partidário.

    Este alheamento da vida política favorece aqueles que vivem da manutenção do status quo e aqueles que, não obstante desenvolverem um mau trabalho, conseguem, com a tal “dinâmica de vitória”, esconder a sua incapacidade, propondo a mudança que vai deixar tudo na mesma.

    É também este alheamento que favorece o “eterno retorno” de certas figuras e de forças políticas constituídas por grupos que não querem largar as luzes da ribalta. De forma totalmente demagógica, estes grupos utilizam o discurso “anti-partidos” e “anti-políticos” para generalizar a ideia de que todos os políticos são iguais. Como se bastasse afirmarmo-nos “independentes” para sermos realmente independentes, como se o rótulo de “independente” bastasse para apagar o facto de que estes políticos fizeram toda a sua carreira no seio de um partido e que agora, porque são “independentes”, são estão “curados” do mal que antes os afectava.

    Não tenho dúvidas de que tudo seria diferente se cada pessoa fizesse um pouco mais, se dedicasse um pouco do seu tempo à participação política, se participasse numa ou noutra reunião, num ou outro acto público de cidadania, em vez de simplesmente ficar em casa. Uma tal atitude contribuiria para o aumento do nível dessas reuniões e para um maior controlo democrático do funcionamento dos órgãos políticos – além de que as pessoas poderiam mais informadamente escolher, passados quatro anos, o partido que melhor defendeu os seus interesses.

    Em Ermesinde, esta atitude vigilante e participativa reveste-se de uma importância ainda maior. Em primeiro lugar, porque temos um Executivo constituído apenas por dois partidos, apesar de terem sido eleitos para a Assembleia de Freguesia representantes de três forças partidárias (PSD, PS e CDU) e de uma força independente. Em segundo lugar, porque acordos entre o PS e o PSD, sem o envolvimento de quaisquer outras forças na discussão, permitiram que o PSD tivesse maioria absoluta no Executivo, assim se contrariando a vontade dos Ermesindenses, que nas urnas não atribuíram a nenhuma força política essa maioria.

    Por isso, volte a ir buscar o fato, porque agora é que a festa está a começar.

    Por: Sónia Sousa*

    * Eleita da CDU na Assembleia de Freguesia de Ermesinde.

     

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