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    Arquivo: Edição de 15-06-2009

    SECÇÃO: Desporto


    ENTREVISTA COM O COORDENADOR GERAL DO ANDEBOL DO CPN PEDRO RODRIGUES

    «Apesar de não termos subido (seniores) esta época foi muito positiva»

    A subida esteve ali bem perto, a uma simples vitória na derradeira e decisiva jornada da segunda fase do Campeonato Nacional da 3ª Divisão. Contudo, o caminho que nos leva do sonho à realidade acabaria por não ser cumprido, com uma derrota a impedir os seniores do CPN de escreverem aquela que seria uma das páginas mais belas da sua história. Apesar de sentir alguma frustração por ter morrido na praia, Pedro Rodrigues não deixa de rotular esta como uma época muito positiva no que concerne ao principal conjunto cepeenista.

    Numa pequena conversa com o nosso jornal o coordenador geral do andebol fala igualmente das dificuldades estruturais e económicas por que passa actualmente o CPN, bem como das divergências que travou com – alguma – Direcção ao longo da temporada. Tudo isto para seguir nas próximas linhas...

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    A Voz de Ermesinde (AVE): Estaria, no início da temporada, no pensamento do cepeenista mais optimista que o conjunto sénior poderia lutar “taco a taco” até ao fim do campeonato com as melhores equipas pela subida ao segundo escalão do andebol nacional?

    Pedro Rodrigues (PR): Pessoalmente, no início da época tinha a esperança de que poderíamos subir de divisão. Isto, apesar de termos uma equipa totalmente nova, constituída por uma mescla de jovens oriundos da formação e novos atletas. E quando digo novos não o digo apenas no sentido de esta ter sido a primeira temporada ao serviço do clube mas também ao nível de idades. Posso aliás dizer que a nossa média de idades rondou os 23/24 anos. O nosso jogador mais velho foi o José Moreira, com 35 anos, salvo erro, pois o resto do plantel anda nas casas dos 18/19 ou dos 23/24 anos. Mas sabendo do valor da minha equipa e daquilo o que já conhecia dos adversários tinha esperanças de subir.

    AVE: O facto da equipa ser muito jovem e consequentemente possuir uma menor experiência em relação a outros conjuntos explica o facto da subida ter sido falhada em cima da meta?

    PR: O nosso início de campeonato foi bom. É claro que me preocupava o facto de ter atletas muito jovens, pois não podemos esquecer que muitos são seniores de primeiro ano, e dai ser fácil perceber o porquê de algumas derrotas em jogos cruciais. Posso dizer que em muitos encontros fora de casa actuei com sete juniores! Isto porque em muitas dessas ocasiões os jogadores titulares se encontravam lesionados e nós tínhamos de disfarçar essas baixas recorrendo a esses jovens. Era um risco que corríamos. Eu tinha consciência que o nosso banco não era capaz de superar o sete base da equipa. Contudo, fiquei muito contente por ter lançado para a “fogueira” estes miúdos vindos das nossas camadas jovens, dar-lhes minutos de jogo, e com isto dar-lhes experiência. É claro que no último jogo, onde uma vitória nos daria a subida, eles acusaram um pouco a pressão, não estavam habituados a estas andanças, pois era a primeira vez que a maior parte deles estava ali a lutar por algo.

    AVE: Mas não deixa de ser um pouco frustrante deixar escapar a subida no derradeiro jogo do campeonato, foi como que morrer na praia…

    PR: Em termos pessoais fiquei um pouco frustrado por não termos subido. Se formos analisar a época, nós fizemos uma primeira fase muito boa, ficámos em 1º lugar da nossa zona e passámos a ser uma ameaça para as outras equipas. Passámos a ser vistos como candidatos à subida. No entanto, na segunda fase começaram a ocorrer uma série de coisas estranhas, como por exemplo algumas nomeações de árbitros duvidosas, embora não esteja a desculpar a não subida com este facto. Mas não posso deixar de lamentar que árbitros nomeados à quarta-feira não fossem os mesmos que íamos encontrar ao sábado! Para mim é impensável um árbitro da Lousã apitar um jogo entre os 2º e 3º classificados quando o resultado desse encontro interessava directamente ao Lousanense! São factos que a Federação de Andebol de Portugal (FAP) não nos soube explicar. Reclamámos, é certo, mas ninguém nos explicou. Não há verdade desportiva neste tipo de situações. E isto também mexeu com a equipa para lá da inexperiência que tínhamos. Mas apesar de não ter sido possível subir de divisão classifico esta como uma época muito positiva, de muito trabalho, mas também não posso deixar de frisar que não conseguimos mais porque não nos deixaram. Além de que o CPN em termos de andebol nacional não tem história e neste momento não tem estruturas para estar numa 2ª Divisão Nacional.

    AVE: A que tipo de estruturas se refere?

    PR: O CPN é um clube com muitas modalidades. E embora compreenda que a actual situação sócio-económica do clube é complicada, penso que deveríamos ter tido um maior apoio da Direcção.

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    Não falo essencialmente em apoio monetário, ele é importante, mas não é tudo, além de que, como já disse, a situação económica do clube não é favorável, e sabemos que a Direcção tem de “apagar todos os fogos”, ou seja, tem de distribuir o dinheiro de igual modo por todas as suas secções. Falo sim num apoio ao nível de estar ao lado da equipa em determinadas ocasiões, num almoço antes de um jogo para estarmos todos juntos e dar força à equipa, numa palavra amiga após algumas derrotas. Falo deste tipo de apoio, o qual serve para criar espírito de equipa, de união, e que não existiu por parte de alguns elementos da Direcção. Cheguei a alturas da época em que não bastava ter os adversários no campo mas também parecia que os tinha aqui dentro do clube. Senti que havia alguns atritos aqui dentro. Não sei porquê. Recordo que numa ocasião ligaram-me da FAP a perguntar se íamos fazer falta de comparência a um jogo pois alguém do clube lhes havia ligado a questionar o que aconteceria se faltássemos a esse jogo. Eu disse que não, que iríamos ao jogo nem que fôssemos de comboio. Não sei quem foi essa pessoa, mas também não quero saber porque esse tipo de pessoas não merece importância. Simplesmente não compreendo este tipo de atitude.

    Mas noto que falta união entre as modalidades. Deveria haver uma envolvência maior entre todas as secções. Por exemplo, era bonito no nosso último jogo todas as secções terem ido apoiar o andebol. O que não aconteceu. Afinal, o clube é só um, no fundo, daí achar que deveria haver uma maior cumplicidade entre todos.

    AVE: Nota-se alguma mágoa sobretudo para com a Direcção do clube…

    PR: Nós tivemos algumas divergências com a Direcção durante a época, que no entanto foram já solucionadas. Tivemos outro tipo de picardias, por exemplo, de não achar que temos as estruturas de que precisamos para desenvolver o nosso trabalho, pois custa-me não dar todas as condições a que os atletas têm direito para a formação, uma vez que não nos podemos esquecer que eles pagam uma mensalidade para aqui andar. Não existe uma carrinha para transportar os atletas para os jogos, por exemplo. No entanto, e apesar destes problemas, conseguimos, com poucos recursos disponíveis, cimentar a modalidade dentro do clube. Este foi o ano da cimentação. Houve uma continuidade do trabalho que foi iniciado com o Pedro Borges (anterior coordenador geral do andebol) há 3 anos atrás.

    AVE: Trabalho esse que passa essencialmente pela formação, o grande lema do clube, como aliás foi vincado pela secção de andebol no início da temporada…

    PR: O nosso objectivo é sempre a formação, não só no sentido de formar atletas mas sobretudo homens. Esta equipa sénior existe com o objectivo dos miúdos das camadas jovens terem como meta chegar à equipa principal. O conjunto sénior é o produto final. No actual plantel sénior em 20 jogadores 13 são feitos aqui na casa, e na minha opinião estes miúdos ganharam muita maturidade durante esta época e julgo que para o ano poderão fazer muito melhor, embora neste momento ainda não saiba muito bem o que irá acontecer, pois a Direcção ainda não falou connosco. Se continuarmos, preciso de dois ou três reforços, nunca deixando contudo de aproveitar os frutos provenientes das camadas jovens.

    AVE: O futuro do andebol do CPN, pelas suas palavras, parece ser uma incógnita. Estará em risco a continuidade da secção?

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    PR: O andebol no CPN é uma incógnita devido a todas as conjunturas. Penso que terminar a secção será muito agressivo, o nosso universo de secção envolve 150 pessoas, entre atletas, treinadores, e demais funcionários, isto sem contar com os pais. É muita gente para deixar de haver andebol. Agora, não sei o que a Direcção pretende. Não sei se querem novos treinadores, não faço ideia. Eu tive algumas divergências com a Direcção, como disse, mas isso é normal porque eu procuro sempre o melhor para a minha “quinta” e sei que eles têm de dar por igual a todas as “quintas” do clube. Têm de dar o mesmo que dão a nós ao pólo aquático, ao basket, à natação, etc.. Mas devo dizer que tenho consciência que isto é um produto inacabado, temos tanta coisa ainda por fazer aqui em termos de secção de andebol. Mas… se tiver que sair deixo a secção com sete equipas, completamente organizada em termos de logística, com o mínimo de material desportivo essencial, embora gostasse de ter mais, gostava por exemplo de ter material de musculação só para treino, que os minis tivessem kits de motricidade, mas tudo isto é muito dispendioso e tem ficado para 2º lugar. Mas de momento não sei adiantar nada quanto ao futuro.

    AVE: Há pouco falou que 2008/09 foi uma época de cimentação. Em termos concretos o que foi feito?

    PR: Conseguimos, por exemplo, criar uma equipa de minis, algo que não existia no clube há muitos anos. Criámos outra de bambis, que também já não tínhamos há muito tempo. Consegui pôr minis a jogar no desporto escolar. Outros escalões onde tínhamos défice de atletas no passado estão agora bem apetrechados. Neste momento temos sete equipas a competir. São 110 atletas, o que é muita coisa. E à excepção dos minis, todos os outros escalões estão a competir a nível nacional. Temos os alicerces prontos para continuar a desenvolver o trabalho feito até aqui. Se continuar queria ainda construir uma equipa “B” de minis e outra de infantis, mas vamos ver se nos “dão pernas” para fazer isso.

    AVE: Apesar de o teor principal desta conversa passar pelo desempenho da equipa sénior não será descabido perguntar como foram os resultados dos vários conjuntos dos escalões de formação?

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    PR: A formação para mim, em termos desportivos, não interessa (risos). O importante não são os resultados. Desde que eles se sintam bem aqui, que mostrem vontade, tenham garra, e ter garra e força é jogar à CPN, eu fico satisfeito. Eu por vezes ia ao balneário dos minis e via-os ali cheios de garra e vontade, e isso para mim era o melhor que podia ver. E com os seniores também foi assim, eles deram o melhor que tinham. Esta postura é sempre mais importante que os resultados. Mas falando dos resultados, que volto a dizer é o que menos interessa, os juniores ficaram um pouco aquém do que se esperava, muito por causa dos seniores, que exigiam muito deles, e muitas vezes chegavam aos jogos dos juniores já cansados. Os juvenis portaram-se bem, tiveram uma boa prestação. Mas é muito bom termos todas as equipas no Nacional, a ir jogar a várias localidades do país, é dispendioso mas é muito bom. Aqui há que fazer um agradecimento, aos pais e aos dirigentes (da secção), pessoas “cinco estrelas”. E faço aqui um agradecimento especial ao José Vinhas (chefe de departamento) e ao Ricardo Moreira (da parte logística) que fazem pequenos milagres. Como? Não sei. Mas é com essa ginástica financeira e com estes milagres que isto funciona.

    AVE: Hoje em dia, e com este número tão elevado de atletas que integram todos os escalões do clube, não se tem verificado aquela tendência de há uns anos atrás de que quando uma equipa grande lhes piscava o olho os jogadores, fossem de que escalão fossem, nem pensavam duas vezes em sair daqui?…

    PR: Nós tentamos cativá-los e dar-lhes a entender que o que esses grandes clubes pretendem é no final da época ir buscar 9 ou 10 atletas mas que, desses 9 ou 10, apenas ficam2, e depois para eles regressarem aos clubes de origem é muito complicado, porque há verbas envolvidas, etc.. Apesar de todos os problemas que o CPN tem neste momento, eles gostam de estar aqui. Já tivemos inclusive jogadores que partiram e que mais tarde quiseram voltar. Alguns têm a porta aberta, agora outros há que nos deixaram sem dizer uma palavra e nós não os queremos aqui outra vez. Além de bons atletas também queremos bons homens. Se nós não falhámos com eles, porque falharam eles connosco? Mas muitas vezes a culpa não é deles, os pais iludem-se mais que os próprios filhos. Mas como o lema do clube é a formação, não devemos deixar sair já as nossas jóias. Deixemo-los crescer aqui.

    AVE: Se na próxima temporada continuar a dirigir o andebol do CPN, o que gostaria de obter da Direcção que não obteve esta época?

    PR: Peço estruturas e estabilidade, isso acima de tudo isso.

    AVE: Há alguma mensagem que queira endereçar a alguém neste final de temporada?

    PR: Gostaria de deixar uma mensagem de agradecimento a todos os atletas, treinadores e dirigentes de secção, em especial ao José Vinhas, ao Ricardo Moreira, e ao meu corpo técnico, que se adaptou e superou as dificuldades que encontraram. E dizer ainda aos atletas da formação que continuem a trabalhar e que nunca se acomodem. Aos atletas seniores dar-lhes os parabéns pela boa época, embora ache que pudessem ter feito melhor... mas o que fizemos já foi muito bom.

    AVE: E à Direcção?

    PR: (longa pausa) Agradecer ao Albino Rodrigues e à Ana Maria Martins por todo o apoio que nos deram.

    Por: Miguel Barros

     

     

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