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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-03-2009

    SECÇÃO: Arte Nona


    Simplesmente “Western”

    Não foi há muito tempo que aqui falámos deste género, fundamentalmente consagrado na cinematografia norte-americana (esqueçamos as estilizações de Sergio Leone, por exemplo, ou outras declinações ocidentais e orientais), ao abordarmos a obra camaleónica de Moebius/Jean Giraud, com a sua díspare viagem pelos caminhos da ficção científica (enquanto Moebius) e do western (enquanto Giraud).

    Hoje, retomando o género, recordamos uma das obras, na Banda Desenhada contemporânea, que melhor o define, até porque, sendo muito recente (2001), beneficia de uma visão culta e informada, que lhe permite até, apresentar-se no próprio título, quase provocatoriamente, como, simplesmente “Western”.

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    Da autoria de Grzegorz Rosinski (grafismo) e de Jean Van Hamme (argumento), “Western” narra-nos uma estória passada no longínquo far west norte-americano (mais precisamente no Wyoming, em território ainda povoado pelos nativos sioux, crows, shoshones e cherokees, nos meados do século XIX.

    A trama prende-se com a estória do protagonista, contada por ele próprio, desde que surge, enquanto garoto, como parte de uma maquinação do próprio irmão para fazer dinheiro à custa de o fazer passar por uma criança desaparecida, familiar de um fazendeiro rico, raptada pelos índios e entretanto recuperada, até à sua morte, contada ainda por ele próprio.

    Depois, num capítulo final, sabe-se que o destino gozou com todos, pois o miúdo Jess Chisum era, efectivamente, como o xerife corrupto sabia e só às portas da morte confessa, de facto o miúdo em causa.

    Pelo meio há sentimentos que são abafados entre a suposta (e afinal verdadeira) prima de Chisum, Cathy, traições – que desde o início surgem, quando o tio do pequeno Jess Chisum, pai de Cathy, tendo--se certificado (ou assim o julgando) tratar--se mesmo do sobrinho desaparecido, tenta matá-lo, para não ter de dividir a herança, até ao xerife, feito com os ladrões do banco, ou aos cowboys “regulators”, seus colegas mais tarde, que se comprazem em abatê-lo quando é desmascarado como farsante (que, por ironia do destino, afinal não é).

    O livro, editado pela Dargaud em 2001, teve a sua edição portuguesa logo editada em Junho de 2002 pela ASA, contando com tradução de Pedro Cleto e adaptação de Zulmira Perdigão.

    Graficamente, a edição apresenta uma interessante e pouco frequente sucessão de duplas pranchas pintadas, cinco ao todo, – provavelmente a pastel – que são entremeadas com o decorrer da estória.

    Rosinski, nascido na Polónia, e que é o autor da parte gráfica da obra, revela aí, tal como no resto da estória, todo o seu talento, já expresso em obras como “Hans” ou a série “Thorgal”.

    Quanto a Van Hamme, cenarista de eleição, nascido em Bruxelas, um desertor das delícias da Contabilidade, que abandona para se dedicar à escrita de argumentos – na literatura (romance), cinema, televisão e banda desenhada, a sua extensa obra fala por si, sendo o autor de obras, além do presente “Western”, como “História sem Heróis”, ou de séries como “Thorgal”, “XIII” ou “Largo Winch”.

    Em “Western” cá estão todos os ingredientes do género, o alastrar da civilização (como o comboio que chega), as cidades acabadas de criar, a lei incipiente, a presença dos cavalos, do gado, dos índios, das grandes paisagens quase intocadas.

    De particular, a forma narrativa sofisticada, na primeira pessoa, os volte-faces do enredo (são vários aqui), a extensão temporal da estória, como uma saga quase, a introdução de um herói portador de deficiência (Jess Chisum perde um braço quando o tio o tenta abater).

    A todos os títulos... isto é “Western”.

    Por: LC

     

     

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