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    Arquivo: Edição de 15-03-2009

    SECÇÃO: Arte Nona


    A nova “Fábula de Bagdad”

    “Fábula de Bagdad” (Pride of Bagdad) foi editada originalmente em 2006 nos Estados Unidos, pela Vertigo (DC Comics). Da autoria de Brian K. Vaughan (argumento) e Niko Henrichon (grafismo), a obra chegou-nos a Portugal pela mão da BDMania , em Dezembro de 2007. Entre os autores, uma nota ainda para Todd Klein, autor de fontes originais.

    A ficção aqui desenvolvida, note-se, é baseada numa história verídica e a trama é simples: «Em Abril de 2003, um bando de leões famintos fugiu do Zoo de Bagdad durante o bombardeamento americano do Iraque», diz-se nas badanas do livro.

    A obra editada em Português conserva o formato de comic book, espraiando-se por umas generosas cerca de 140 páginas onde, para além da reprodução de animais, entre os quais os três leões adultos e uma cria – os protagonistas da estória –, se podem observar alguns lugares identificáveis da sumptuosa e mítica Bagdad.

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    Um leão, Zill, duas leoas, Noor e Safa, e um leãozinho, Ali, filho de Noor, são os heróis da “Fábula de Bagdad”, toda a trama da obra decorrendo precisamente na capital do Iraque, durante o bombardeamento e a posterior invasão norte-americana.

    Os animais retratados mais ou menos realisticamente, são humanizados pelos autores só na medida em que se comunicam “verbalmente”, sofrendo toda a espécie de emoções que os aparenta aos humanos.

    Não são aliás eles os únicos a deter este dom da fala, já que diversos outros animais que cruzam o livro, se podem exprimir também dessa maneira, como o corvo do início do livro, ou o antílope a quem Noor tenta convencer a alinhar numa tentativa concertada de fuga dos animais do zoo, estabelecendo uma trégua que a levará, mais tarde, a recusar fazer dos antílopes uma presa fácil, ou o bando de macacos que se apoderam temporariamente de Ali, antes de Safa o libertar, ou a tartaruga, com a sua longa história e que os avisa contra os guardiães, duas-pernas ou homens (chame-se-lhe o que se lhe chamar), e que «são todos iguais», ou o enorme urso com que se defrontam e a quem Zill consegue resistir.

    Muita acção, tensão psicológica, e emoção nesta história soberbamente desenhada e que põe em destaque a “irracionalidade” humana.

    O fim é trágico e incompreensível para os leões, às mãos dos soldados invasores, que os abatem a tiro.

    A última palavra que estes (ironicamente) dizem, no livro, é “livres”.

    As três últimas pranchas, duplas e panorâmicas (descontando a prancha final em que observa a estátua de um leão sobre um ser humano, em contradição com a história acabada de contar), quase não têm palavras e são nocturnas, numa dupla acepção. Contêm contudo as seguintes inscrições: «Em Abril de 2003, quatro leões fugiram do Zoo de Bagdad durante os bombardeamentos no Iraque»/«Os animais famintos acabaram por ser abatidos por soldados norte-americanos»/... «Houve outras vítimas também».

    Colorida em tons quentes, muito cinematográfica, a obra alterna grandes planos, panorâmicas, picados e contra-picados, ao mesmo ritmo intenso com que decorre o enredo.

    Reconhecido como obra fora do comum, “Fábula de Bagdad” foi vencedora dos prémios Harvey 2007 para o “Melhor Álbum Original” e Eagle 2007 para o “Álbum Favorito”, e ainda nomeada para vários outros galardões, como “Melhor História” do Prémio Harvey 2007, “Melhor Desenhador” do Prémio Eisner 2007 e “Melhor Artista Canadiano” do Prémio Schuster 2007, o que demonstra bem a qualidade tanto do trabalho gráfico como do argumento deste álbum.

    Quanto aos autores, Brian Vaughan, residente na Califórnia, é escritor premiado e autor de obras como “Y: The Last Man” e “Ex Machina”, e Niko Henrichon, «vive na cidade do Quebec [Canadá] com a sua esposa e um gato». Este é o seu segundo livro publicado nos Estados Unidos, depois de “Barnum!”, com argumento de Howard Chaykin e David Tischman, embora tenha trabalhado nas séries “Star Wars Tales”, “Micronauts”, e “Superman”.

    Ambos os autores, no fim do livro agradecem «às pessoas – cidadãos, repórteres e soldados – que estiveram e ainda estão no Iraque, por partilharem a sua experiência por escrito ou através de imagens, apesar do drama que testemunham diariamente (...)».

    A edição portuguesa (impressa na Polónia, diga-se de passagem), conta com a revisão e adaptação de Pedro Silva (também o seu responsável editorial – com a colaboração de Paulo Costa), tradução de Nuno Rodrigues, e adaptação gráfica e legendagem da We3Studio.com.

    Por: LC

     

     

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