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    Arquivo: Edição de 10-12-2008

    SECÇÃO: Destaque


    11ª MOSTRA INTERNACIONAL DE TEATRO ‘08

    Os baús das memórias

    Foto MANUEL VALDREZ
    Foto MANUEL VALDREZ
    O penúltimo dia da Mostra Internacional de Teatro de Valongo levou ao palco do Fórum Cultural de Ermesinde a mais recente produção de Trigo Limpo – Teatro ACERT. Trata-se de um trabalho construído com a cumplicidade de Mia Couto e José Eduardo Agualusa, dois grandes nomes da literatura em língua portuguesa, que redigiram um texto inédito, magnificamente interpretado neste espectáculo.

    No palco figurava uma imensidão de baús de formas diferentes e meticulosamente dispostos. Apareceu Baltazar Fortuna, homem de meia idade, vaidoso e amargurado com as lembranças do passado e decidido a vingar velhas mágoas. Os baús guardavam essas mágoas e Baltazar não hesitou em abri-los um a um. Mas viria a arrepender-se. À medida que redescobre o conteúdo dos baús, Baltazar Fortuna revisitou de forma dolorosa tudo o que sofreu com as suas três ex-mulheres: Mariana Chubichuba, Judite Malimali e Ermelinda Feitinha, em Xigovia, vila onde outrora vivera. Furioso, promete matá-las, porque acredita que só com o seu desaparecimento poderá esquecer as más memórias e viver em paz e de cabeça erguida. Mas estava enganado.

    As suas três ex-mulheres já há muito tempo que o tinham esquecido e revelaram--lhe isso friamente: «Nós já te matámos dentro de nós. Há muito tempo que não vives nas nossas vidas». Esta declaração desarma Baltazar Fortuna, que se apercebe da sua incapacidade para cometer qualquer crime. E, neste momento, desejou nunca ter voltado à pacata vila.

    “Chovem Amores na Rua do Matador” apresentou-nos de uma forma muito simples as idiossincrasias do espírito humano que, quando magoado, pode dispor-se a cometer grandes loucuras ou então resignar-se e desistir de tudo.

    Confrontado com a indiferença das suas ex-mulheres e com o orgulho magoado, toda a euforia e sede de vingança de Baltazar Fortuna se desvanecem e este, já sem forças, sucumbe e desiste de viver.

    As personagens da peça foram interpretadas apenas por dois actores que, de forma exímia, nos transportaram para um lugar povoado de memórias, mostrando o que de pior o ser humano é capaz.

    Ficha Técnica:

    Texto: José Eduardo Agualusa e Mia Couto;

    Actores: José Rosa e Sandra Santos;

    Encenação: Pompeu José;

    Cenografia: Zé Tavares e Marta Fernandes da Silva;

    Música: Cheny Mahuaie, Fran Perez, Lígia Zango, Matchume Zango e Tinoca Zimba;

    Figurinos: Ruy Malheiro;

    Desenho de luz: Luís Viegas;

    Técnicos: Cajó Viegas e Paulo Neto;

    Assistência: Gil Rodrigues;

    Bonecas: Luís Pacheco;

    Carpintaria: Carmosserra;

    Duração: 90 minutos.

    Por: Teresa Afonso

     

     

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