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    Arquivo: Edição de 31-10-2008

    SECÇÃO: Cultura


    CONFERÊNCIAS NA BIBLIOTECA MUNICIPAL

    O eco de D. Ximenes Belo na Biblioteca de Valongo

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    7 de Outubro, 21h30, Biblioteca Municipal de Valongo, D. Ximenes Belo. Este era o convite. À porta estavam meninas vestidas de branco, com uma coroa de flores na cabeça sob um tapete vermelho, à espera do bispo católico timorense. Na envolvente: uma mancha de pessoas, numa faixa etária que se estendia, sobretudo, dos 35 aos 65 anos, curiosa pela sua chegada. «Estou ansiosa por vê-lo. É um homem de coragem!» soou-me ao lado.

    Chegou, já o relógio não apontava para as 21h30, acompanhado de Fernando Melo. E as palmas fizeram-se sentidas.

    As cadeiras esgotaram-se e os lugares de pé quase também. Os Faith Gospel Choir agradecem a «excelência» do público e traduzem o seu nome para «Coro Fé Evangelho; é qualquer coisa assim em português», dizem. Brindam as pessoas com um concerto ritmado que termina com “Happy Day”, em jeito de «celebração de felicidade». As palmas esvaziam-se de vergonha e ganham a cadência de um ritmo feliz. E as pessoas, agora de pé, aplaudem os Faith Gospel.

    O Presidente da Câmara Municipal de Valongo agradece, brevemente, a todos, a D. Ximenes Belo em especial, passando-lhe a palavra.

    Vestido em tons de azul e branco, sereno, agradece ao «bom povo de Valongo», em seu nome e em nome do povo timorense, pela «continua solidariedade, apoio e orações» que ajudaram a que os timorenses conseguissem alcançar a sua independência, reconhecida por direito internacional a 20 de Maio de 2002. «Sem a ajuda do governo português, do seu povo, das igrejas e dos meios de comunicação social, a luta do povo de Timor-Leste ainda continuaria, porque era um povo muito pequeno a enfrentar um grande gigante», afirma.

    Convidado pelo Presidente Timorense, José Ramos Horta, para integrar a delegação de Timor-Leste, a fim de estar presente na reunião de chefes de Estado e governo dos paises da Comunidade da Língua Portuguesa (CPLP) constituída pelo Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, Portugal e Timor-Leste, D. Ximenes Belo ficou «impressionado e muito comovido», durante os dois dias de reunião, ao denotar a «fraternidade» reinante entre os países e o «sentimento de grande responsabilidade» que os unia. Já não havia «aquele sentimento de ódio, nem de revolta, entre o colonizador e o colonizado»; o principal objectivo era apostar no desenvolvimento integral dos países. Todos se sentavam «à volta da mesa, como irmãos», diz. Os países estavam apenas unidos «pela língua, pelos sentimentos culturais, religiosos e sociais».

    Foi a primeira vez que um Bispo esteve incluído na delegação, «Ramos Horta saiu fora do protocolo», acrescenta D. Ximenes Belo.

    A Assembleia Constituinte quis reservar à língua portuguesa um «papel muito especial»: adoptar a língua de Camões como língua oficial, a par do tétum.

    O ensino da língua portuguesa em Timor foi implementado sobretudo pelos «missionários dominicanos» , mas só a partir do século XVII é que há um contacto directo entre os portugueses e os timorenses, através das escolas rudimentares criadas no Reino. O grande desenvolvimento das escolas em Timor deu-se em 1878 quando o padre António Joaquim de Medeiros estabeleceu o «programa da educação da juventude timorense» com abertura de escolas rurais em «Manatuto, Lacló, Lacluta, Samoro, Oecusse, Maubara, Baucau». Isto foi o mote para realçar o papel da Igreja como «elevadora da dignidade cultural» já em finais do século XIX e inícios do século XX.

    Com avanços e recuos na implementação da lingua portuguesa, as principais entraves são a «insuficiência do número de professores, de livros, de jornais de rádios, de televisões», mas é necessário continuar a enfrentar o «desafio» e apostar em cada distrito e subdistrito. Também o facto de existirem sectores da sociedade timorense que são contra a utilização da lingua portuguesa, bem como a persistência do ensino da lingua indonésia nas escolas e o uso da lingua inglesa nos departamentos do Estado, não ajudam à solidificação do uso da língua portuguesa em Timor.

    «Maior empenhamento dos governantes» para ultrapassar estas barreiras exige-se. No entanto, outros dialectos e outras línguas são, também, «vantajosos» para colocarem em contacto o povo timorense com outras realidades. «A lingua portuguesa para a ilha de Timor é uma janela aberta para o mundo», por isso, lembrou Fernando Pessoa com «A minha pátria é a minha lingua», finalizando, assim, a Conferência «Ecos do Oriente».

    As perguntas do público ultrapassaram a utilização da lingua. Tocaram a crise económica e a posição de Timor Leste. D. Ximenes Belo ansiou apenas por «uma paz duradoura».

    Finda a conferência, consumidos os aplausos, as «mais de trezentas pessoas», número avançado pela organização, retiraram-se.

    Para Novembro a Biblioteca Municipal de Valongo confirma já a presença de Daniel Sampaio, a pretexto do lançamento do seu novo livro, confirma a responsável pela Biblioteca de Valongo, Isaura Marinho.

    Por: Vânia Dias

     

     

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