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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-01-2008

    SECÇÃO: Cultura


    A Terra

    Também eu quero abrir-te e semear

    Um grão de poesia no teu seio!

    Anda tudo a lavrar,

    Tudo a enterrar centeio,

    E são horas de eu pôr a germinar

    A semente dos versos que granjeio.

    Na seara madura de amanhã

    Sem fronteiras nem dono,

    Há de existir a praga da milhã,

    A volúpia do sono

    Da papoula vermelha e temporã,

    E o alegre abandono

    De uma cigarra vã.

    Mas das asas que agite,

    O poema que cante

    Será graça e limite

    Do pendão que levante

    A fé que a tua força ressuscite!

    Casou-nos Deus, o mito!

    E cada imagem que me vem

    É um gomo teu, ou um grito

    Que eu apenas repito

    Na melodia que o poema tem.

    Terra, minha aliada

    Na criação!

    Seja fecunda a vessada,

    Seja à tona do chão,

    Nada fecundas, nada,

    Que eu não fermente também de inspiração!

    E por isso te rasgo de magia

    E te lanço nos braços a colheita

    Que hás de parir depois...

    Poesia desfeita,

    Fruto maduro de nós dois.

    Terra, minha mulher!

    Um amor é o aceno,

    Outro a quentura que se quer

    Dentro dum corpo nu, moreno!

    A charrua das leivas não concebe

    Uma bolota que não dê carvalhos;

    A minha, planta orvalhos...

    Água que a manhã bebe

    No pudor dos atalhos.

    Terra, minha canção!

    Ode de pólo a pólo erguida

    Pela beleza que não sabe a pão

    Mas ao gosto da vida!

    MIGUEL TORGA

     

     

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