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    Arquivo: Edição de 30-01-2008

    SECÇÃO: Cultura


    A bruxa que perdeu a tramontana

    Fotos MANUEL VALDREZ
    Fotos MANUEL VALDREZ
    O Fórum Cultural de Ermesinde, acolheu, na noite do passado dia 12 de Janeiro, “O Dianho da Bruxa”, um espectáculo etnográfico de tradições transmontanas, criado e protagonizado pelo NEFUP – Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto, com encenação de Armando Dourado e direcção musical de Cláudia Bastos.

    À vinda do NEFUP a Ermesinde com este espectáculo em que pisam o palco mais de trinta participantes, esteve associada a Ágorarte, co-organizadora do evento.

    “O Dianho da Bruxa” lança um olhar sobre as manifestações culturais e hábitos de convivialidade do povo da região, mas envolve-o também com a palavra erudita de autores como Miguel Torga ou Eça de Queirós.

    A recolha etnográfica, de danças, contos, cantares, jogos e paródias abrange uma vasta área geográfica da região transmontana e altoduriense (Armamar, Boticas, Bragança, Cinfães, Miranda do Douro, Montalegre, Tabuaço, Valpaços, Vila Real, Vinhais), num laborioso trabalho de pesquisa que contou com a colaboração de várias entidades ligadas à preservação das tradições etnográficas da região.

    Criado no seio da Academia do Porto, a partir de elementos do TUP e do Coral de Letras, em 1982, então como NEFAP, o núcleo tem vindo a divulgar a arte e a cultura populares, «existente ou extinta», e a divulgá-la sobre a forma de espectáculos, subordinando estes ao maior rigor possível.

    Com presenças em Espanha, Brasil e Macau (1991, 1992 e 1993, respectivamente), em representação da Universidade do Porto – além do Porto Capital Europeia da Cultura em 2001 –, o NEFUP participou ainda em vários festivais internacionais, tendo recebido o 1º Prémio de Danças em 1990 e 1998 no Festival Internacional de Llangollen, no País de Gales.

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    “O Dianho da Bruxa” recria tradições como a do serão,um vestígio do comunitarismo ancestral, dos usos da organização do trabalho rural (a malhada), o jogo do panelo, com o lançamento de uma peça do barro preto de Bisalhães (geralmente defeituosa) de umas mãos para as outras, até se quebrar, de contos, como a lenda da ponte de Misarela, cuja representação estava aliás exposta no cenário, de paródias como a do julgamento do galo (Barroso) ou a dos casamentos (muito improváveis), de Podence ou Armamar, de danças e cantares, de Vinhais, Armamar, Vila Real, Cinfães, Valpaços e Miranda.

    De Miranda o NEFUP trouxe-nos ainda um conto em língua mirandesa.

    Na representação deste grupo de recolha e divulgação da cultura popular, recriam-se também algumas manifestações importantes e ainda hoje implantadas, de máscaras como a dos caretos (Podence e Varge), máscaros (Ousilhão), carocho (Constantim), chocalheiro (Bemposta), farandulo (Tó), diabos (Vinhais).

    No final do espectáculo, quando se começava a preparar a queimada (bebida alcoólica e quente, que seria oferecida a todos os presentes), numa recriação da Ladainha da Grande Queimada das Bruxas – uma tradição de Montalegre –, o imprevisto aconteceu, com o fogo a alastrar ao chão e a algumas vestes dos elementos do NEFUP, ameaçando propagar-se às cortinas, momento em que alguns espectadores fugiram da sala. Extinto o fogo, o espectáculo prosseguiu, embora amputado do belo ritual associado à queimada.

    O NEFUP promete regressar e reparar a dívida de uma calorosa queimada oferecida a todos os presentes.

    Por: LC

     

     

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