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    Arquivo: Edição de 30-10-2007

    SECÇÃO: Tecnologias


    O que é o software livre?

    – uma entrevista com Richard Stallman

    Robin Good: O que é o software livre do seu ponto de vista?

    Richard Stallman: Software livre significa software que respeita a liberdade do utilizador. Existem quatro liberdades que o utilizador de software deve sempre ter:

    • Liberdade Zero é a liberdade de correr o programa quando quiser.

    • Liberdade Um é a liberdade de analisar o código fonte do programa e alterá-lo para que o programa faça o que deseja.

    • Liberdade Dois é a liberdade para distribuir cópias do programa a outros, quando pretender. Isto inclui a republicação do programa.

    • E a Liberdade Três é a liberdade de distribuir cópias das suas versões alteradas para outros quando pretender, incluindo a publicação se pretender ir tão longe.

    Se tiver estas quatro liberdades essenciais então o programa é Software Livre. O que significa que o sistema social da distribuição deste programa é um sistema ético que respeita a liberdade e comunidade dos utilizadores. Se uma dessas liberdades está em falta, então o programa é software proprietário, significando que mantém os utilizadores divididos e dá ao criador poder sobre os utilizadores. Isto é uma injustiça.

    Software proprietário não deveria existir nem ser usado. Se pretender manter a liberdade enquanto utiliza computadores, a única forma de o fazer é rejeitando software proprietário. E esse é o objectivo do Free Software Movement.

    Queremos substituir o software proprietário, com o seu sistema injusto, pelo Software Livre e o seu sistema social ético. E assim desenvolvemos substitutos livres para o software proprietário e outros programas sempre que temos uma ideia, para que o mundo possa ser livre. A parte que utiliza computadores, pelo menos, nessa área da vida. Porque ganhar e manter a liberdade no geral é muito maior, mais abrangente e algo difícil mas esta é uma das suas partes.

    RG: Quais são as consequências mais negativas da utilização de software proprietário contra o software livre?

    RS: Bem, já referi o porquê do software proprietário ser mau porque ao dar poder ao criador sobre os utilizadores, estes ficam subjugados. E estes criadores utilizam o poder de várias formas, alguns prejudicam os utilizadores mais do que outros, mas nem sequer nunca deviam de ter tido este poder.

    Assim, com o software proprietário, o criador define o que vai fazer e os utilizadores ficam limitados a isso. A única forma que pode evitar o que o criador decidiu é evitar utilizar o programa, fugir.

    Mas com o software livre os utilizadores têm controlo, os utilizadores decidem o que o programa faz. E assim o Software Livre desenvolve-se de uma forma democrática. Sob o controlo dos utilizadores, as alterações feitas e aceites são as alterações feitas e desejadas pelos utilizadores.

    RG: Quais são os melhores exemplos de Software Livre que sugere que as pessoas utilizem ou pensem em utilizar?

    RS: O exemplo fundamental do Software Livre é o Sistema operativo GNU, que é o único sistema operativo que foi desenvolvido por razões éticas em vez de razões comerciais ou técnicas, que são as razões pelas que a maioria dos sistemas operativos são criadas.

    Lancei o desenvolvimento do sistema operativo GNU em Janeiro de 1984 com o objectivo específico de utilizar um computador e viver em liberdade. Em 1992 a maior falta do sistema operativo GNU foi resolvida pelo kernel do Linux. O resultado do GNU e Linux foi o primeiro sistema operativo completamente livre. E por causa disso, há pelo menos a possibilidade de utilizar um computador em liberdade.

    Antes da existência do GNU/Linux, era simplesmente impossível. Ninguém que utilizasse um computador poderia ser livre.

    No passado longínquo era diferente, nos anos setenta existiam outros sistemas operativos livres mas desapareceram e pelos anos oitenta, não existia nenhum. Não havia nenhum que corresse num computador moderno. E assim foi a existência do GNU/Linux que tornou essa liberdade numa possibilidade.

    RG: É o GNU/Linux que os indivíduos, profissionais e empresas pode utilizar para as suas operações diárias?

    RS: Já o fazem. Muitas empresas, companhias, agências públicas e indivíduos já utilizam o GNU/Linux. Não é muito difícil de utilizar - é apenas diferente.

    Por isso, pode fazer um esforço para ir para a liberdade. Não é um grande sacrifício, por isso somos felizardos, porque há lugares e alturas onde as pessoas tiveram que fazer grandes sacrifícios pela liberdade e temos muita sorte que o tenham feito.

    RG: Para ajudar quem, como eu, prefere a mudança em vez do controlo exercido pelas grandes empresas e media, que tipo de acções é que os indivíduos podem tomar?

    RS: Gostaria de saber.

    Esta é a maior questão política da nossa era.

    Como podemos pôr um fim ao império das grandes empresas e recuperar a democracia? Se soubesse, seria o salvador do mundo.

    O que posso dizer é que os media são cruciais.

    O poder das empresas de media permite que a verdade seja suprimida e que mentiras passem como verdades.

    Provavelmente já sabe que meia verdade poderá ser pior que uma mentira. Muitas das coisas que os nossos governos e media dizem são uma parte verdade, nove partes mentira. E não são precisos muitos deles para criar uma visão do mundo completamente fictícia, como a que Bush diz - apresenta - quando fala.

    Por isso recomendo que as pessoas parem de dar ouvidos aos grandes media. Não vejam notícias televisivas, não ouçam notícias na rádio, não leiam notícias em jornais comuns. Obtenha [as notícias] de vários sítios Web, que não sejam controlados pelos dinheiros de negócios e terá uma melhor hipótese de não ser enganado pelas mesmas mentiras sistemáticas que eles contam, porque são pagos pelas pessoas que contam as mesma mentiras. Ou nove partes de mentiras.

    (Fim da entrevista)

    Notas da entrevista

    Quando desligava a câmara no fim da entrevista, Richard disse casualmente:«...E não publique no YouTube, pois não utiliza software livre!».

    Actualização em 13 de Novembro, 2006: Richard Stallman escreveu-me para corrigir isto. Embora tenha anotado no meu bloco esta frase logo após ele a ter proferido, Richard afirma ter dito algo diferente. Aqui está: «...E não publique no YouTube, pois não trabalha com software livre!».

    Embora não tenha sido capaz de encontrar uma alternativa on line que utilizasse software livre e que me permitisse transmitir directamente os clipes anteriores, achei justo mencionar a recomendação dada por Richard.

    No lado humano, Richard mostrou ser uma pessoa única, com sentimentos especiais e emoções que todos os que o conheceram foram capazes de apreciar.

    Particularmente, fui tocado pela capacidade que Richard tem em entrar em sintonia em poucos segundos com a beleza e o amor que nos rodeia. Enquanto esteve na minha casa, uma maravilhosa e silenciosa amizade se desenvolveu entre ele e o meu periquito, que ficava horas no ombro de Richard, a brincar o seu cabelo.

    Aqui está Richard, a responder à minha última questão:

    RG: Qual foi a memória mais bonita que tem sobre a estadia em Roma?

    RS: Bem, acho que foi o Funny no meu ombro.

    RG: Quem é o Funny?

    RS: O Funny é um periquito cockatiel… Que gosta de brincar com o meu cabelo.

    RG: E porque é que se sentia tão bem quando ele lá estava?

    RS: Acho que me sentia amado.

    RG: Acha-se amado normalmente pelas pessoas que como eu o entrevistam ou?...

    RS: Isso é completamente diferente. Muito diferente. Por vezes sinto-me admirado, mas é diferente de ser amado.

    RG: Obrigado.

    Na realidade gravei muitas mais das ideias de Richard Stallman, mas vou guardá-las para outro artigo futuro, dedicado aos problemas de DRM.

    Um agradecimento especial a Rufo Guerreschi da Partecs, que me apresentou inicialmente a Richard Stallman e que gentilmente ofereceu o jantar que originou esta entrevista.

    Por: ROBIN GOOD

    * Este artigo resultou de uma entrevista-vídeo da autoria de Robin Good e foi escrita originalmente por Michael Pick para a “MasterNewMedia”, tendo sido publicado a 24 Outubro 2006 como "What Is Free Software? A Reply From The Source: Richard Stallman Video Interview". A versão portuguesa foi traduzida por David Leal.

     

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