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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 30-10-2007

    SECÇÃO: Crónicas


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    As pérolas do Adriático

    Do Mar Egeu para o Adriático, das ilhas para o Continente, da Grécia para a Croácia e a Itália seguimos caminhos outrora percorridos por navegadores, negociantes, soldados e aventureiros cujos sinais fomos encontrando ao longo de uma semana repleta de emoções.

    Os últimos dias estavam reservados para as Pérolas do Adriático nunca mencionadas em conjunto mas rivalizando nos mais diversos aspectos: ambas igualmente maravilhosas, cada uma com as próprias marcas distintivas e inconfundíveis: Dubrovnik e Veneza, a primeira situada mais a sul na costa oriental, bela, elegante e harmoniosa, distinta pela sua inteligência e hábil diplomacia «vive num ambiente impregnado de perfumes de loureiro e rosmaninho, na beleza de ciprestes e pinheiros»; a segunda a norte, no litoral poente, romântica, voluptuosa, dominadora, «primeiro dominando a água e mais tarde adentrando-se pelo mar, talvez o único elemento sobre o qual nem o Papa nem qualquer imperador podiam impor o seu ideal de soberania e que o reabsorve lentamente».”

    Dubrovnik, a cidade mais a sul da Croácia, foi povoação ilírica na época do eneolítico e viveu plenamente a sua vida espiritual durante a Idade Antiga. O leitor recorda, certamente, uns quantos nomes estranhos de povos que fizeram seu o chão da Europa e também da Ásia Menor e do norte d’ África: trácios, hurritas, hititas, jónios, dórios e aqueus, etruscos, ilírios e outros que os historiadores dizem procedentes dos Urais, do extremo norte da Europa ou da estepe asiática. O povo que aí se fixou é de origem indo-europeia, mas não se conhece nenhum alfabeto que tenham usado e da língua que falaram só restam vestígios em glosas antigas e na onomástica.

    A cidade a que os romanos chamaram Ragusa nasceu no século VII da nossa era. Desde essa data, passando pela comuna medieval e até à República de Dubrovnik, esta cidade formou uma identidade singular, integrando no seu carácter marcadamente urbano um sonho de beleza pelo qual valia a pena viver e morrer. O nome Dubrovnik aparece, pela primeira vez, num documento de 1189. Esta república resistiu a muitos ataques, desenvolvendo-se graças à sua diplomacia competente e às fortes muralhas que ainda hoje se mantêm e que sustiveram mesmo os ataques do poderoso império otomano. Assim, foi possível construir numerosos palácios, igrejas e conventos a que correspondeu um largo tempo de esplendor no plano cultural e económico. Durante o século XVI possuía uma das frotas mais fortes no Mediterrâneo com 180 barcos grandes e 4000 marinheiros. Todos os interesses particulares estavam subordinados ao bem-estar do Estado. Dubrovnik nunca foi agressor numa guerra e a paz e liberdade dos cidadãos era garantida por autoridades dedicadas ao bem comum. Curiosamente, foi o primeiro país a reconhecer a independência dos Estados Unidos da América.

    Dubrovnik é uma cidade de aproximadamente 50.000 habitantes que foi declarada em 1979 Património da Humanidade. Os seus habitantes dispensam a quem os visita uma simpatia cativante. Ao saberem que éramos portugueses, saudaram-nos na nossa língua. Os comerciantes não regatearam os “obrigado” e retribuíram os nossos agradecimentos com um “de nada” acompanhado de um sorriso aberto. Ali encontrámos livros em versão portuguesa, algo que não aconteceu em nenhum dos países europeus que já visitámos.

    Veneza já foi alvo de todos os elogios possíveis, quer pela sua específica localização, quer pelos seus monumentos, pela sua beleza geral como pela sua história, pelos seus pintores e arquitectos, pela aura romântica que a envolve e por muitas outras razões. Os belos canais e as famosas gôndolas que neles navegam viram passar, ao longo dos séculos, gente de todo o mundo, actualmente, hordas de turistas fruem do prazer de sulcarem as águas da laguna em que se encontra a cidade. Quantos poemas ali foram criados, quantas músicas terão sido inspiradas pela beleza dos lugares, quantos esquissos resultaram em pinturas célebres e, também, quantos sonhos ali partilhados se terão desvanecido! Praça de São Marcos, Basílica de São Marcos com o seu característico estilo bizantino, o Palácio dos Doges, a Ponte dos Suspiros, A Igreja de Santa Maria de La Salutte, a Ponte de Rialto. Lembrei-me da história de Vanina que Sophia de Mello Breyner criou no seu livro “O Cavaleiro da Dinamarca”.

    Aqui terminou o nosso cruzeiro, do aeroporto desta cidade romântica, também ela Património da Humanidade, voámos para Madrid. Em aproximadamente trinta e seis horas, conhecemos ou reconhecemos os principais tesouros desta urbe que nos falam de várias épocas históricas, onde se desenrolaram tantos acontecimentos e onde viveram milhões de pessoas vulgares como nós.

    Por: Nuno Afonso

     

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