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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 30-09-2007

    SECÇÃO: Cultura


    Resende - a propósito de uma exposição que não vi

    O mestre Júlio Resende é uma personalidade incontornável no panorama das Artes Plásticas portuguesas do século XX.

    Professor, na então, Escola Superior de Bela Artes do Porto, era para os alunos que como eu, ali chegavam, uma referência como artista e professor. As pinturas e desenhos, realizados durante a sua permanência na aldeia de Viana do Alentejo, eram-nos apresentados como paradigmas da arte da pintura e do desenho da época. A temática desenvolvida visava as gentes da aldeia, retratadas nas suas singelas lides quotidianas, sem nenhuma intenção de retratar a realidade tal como a visualizamos. Essas obras surgiram como resultado da vivência emotiva do artista perante aquelas almas modeladas no sofrimento de um dia-a-dia penoso e muitas vezes dramático.

    Os artistas, espíritos sensíveis ao outro e a tudo o que é cenário e circunstância das suas vidas, têm a necessidade, sobre as mais diversas formas de arte, de tentar traduzir o que, através dos sentidos e da intuição, se transforma depois em obras admiráveis, como as que Júlio Resende realizou.

    Começo por, no título deste texto, afirmar que não vi a exposição de Júlio Resende apresentada no Fórum Cultural de Ermesinde e por isso não quero me alongar em considerações de pormenor sobre as obras expostas. Mas pelo que conheço de toda a obra do artista, parece-me mais importante referir e afirmar outros aspectos que caracterizam a obra e o artista, se é possível dissociar uma coisa da outra.

    Uma das características que podemos perceber na sua obra é a ligação que estabelece com os lugares por onde passa e vive e, de como se deixa influenciar por tudo o que os envolve: Gentes, animais, paisagem, cor, luz, cheiros e sabores, interagindo em corpo e espírito com tudo o que se lhe apresenta como espectáculo da vida. Os seus múltiplos registos de viagem, breves anotações, escritas ou desenhadas, demoradas observações registadas com cuidado de pormenor, são depois aproveitados pelo artista como regurgitações da memória visual e sensorial da vivência dos lugares. Assim a sua obra apresenta-se diferente se ela surge depois de Cabo Verde, do Brasil ou do Alentejo. Modificam as cores, o modo de representar o espaço pictoral, os materiais. A luz é outra, diversa de cada lugar.

    Mas há um outro aspecto, não menos importante da personalidade de Júlio Resende, enquanto homem e artista, que nos mostra uma consciência social e cívica, que o leva a ser um actor interveniente e activo na sociedade de que faz parte.

    Refiro-me à criação da Fundação Júlio Resende, denominada de Lugar do Desenho, e que tem por base um acervo constituído por um espólio de cerca de 2 000 desenhos, que começou a constituir-se a partir dos anos 30. O principal objectivo desta Fundação é o de ser, mais do que uma referência da sua obra, o lugar de acolhimento e reflexão do Desenho como meio essencial e vital do pensamento artístico. Mas o Lugar do Desenho tem outros objectivos e o projecto de uma casa (lugar) que interagisse com a ideia que o sustenta foi o princípio que assegura esses objectivos. Assim o espaço é constituído pela Galeria do Acervo, onde sempre podemos encontrar obras do espólio da Fundação, quase sempre subordinado a um tema ou título que contextualiza a exposição. A Galeria de Exposições Temporárias, como diz o nome, está sujeita à organização esporádica de exposições com outros artistas convidados pela Fundação, mas cujo meio é sempre o do Desenho. A Fundação tem ainda um espaço de oficinas para eventual realização de workshops, um auditório onde se realizam conferências, debates, etc., uma cafetaria e uma loja, além dos jardins que envolvem todo o edifício.

    O Lugar do Desenho é privilegiado para as escolas levarem os alunos e aí terem a possibilidade de serem recebidos por um artista que os ajuda a perceber melhor as obras em exposição e a importância do desenho como um meio de expressão artística. A Fundação desde que contactada e combinada a visita, recebe os jovens com entusiasmo, porque este é um dos seus objectivos, levar os jovens ao encontro com o Desenho.

    Como última informação, o Lugar do Desenho tem neste momento e até ao dia 14 de Outubro, uma exposição de Júlio Resende na Galeria do Acervo, denominada: “Quando a Cor Manda”.

    Lugar do Desenho / Fundação Júlio Resende

    Rua Pintor Júlio Resende, 346 Valbom 4420-534 Gondomar

    www.lugardodesenho.org

    Por: Luísa Gonçalves

     

     

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