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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 30-09-2007

    SECÇÃO: Opinião


    Dos efeitos nefastos do imperialismo

    Nos anos ’60 e ’70 do século XX os artistas nacionais do ‘rock’ cantavam em inglês, por vezes mal assimilado e pior vozeado. Alegavam, em sua defesa, que o género musical só podia ser cantado nessa língua e que a nossa era irremediavelmente inapta para esse fim.

    Nos fins da segunda dessas décadas, princípios da de oitenta, Rui Veloso e Carlos Tê vieram demonstrar a vacuidade daquela tese e, desde então, até vimos antigos defensores e praticantes dela convertidos à nossa língua, a tal que afirmavam não se coadunar com o género.

    Numa outra perspectiva e num género diferente, assistimos ao brilhante desempenho de ‘representantes nacionais’ da RTP no festival europeu da canção a interpretarem a sua cançoneta quase totalmente em inglês, para serem compreendidos pelos estrangeiros e, assim, aumentarem o número de votos que lhe dariam. Nem a triste realidade de, sistematicamente, serem relegados para os últimos lugares, como quando usavam o português, parece tê-los convencido que o problema não residia na língua praticada. Tanto mais que, em muitos desses festivais ficaram bem classificados cultores de línguas ultra minoritárias e bem mais difíceis para os outros falantes que o português.

    AS DESIGNAÇÕES EM INGLÊS

    Agora, talvez influenciados pela campanha de Sócrates e pela introdução da aprendizagem do Inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico e nalguns jardins de infância – que é positiva – qualquer grupinho de adolescentes que se forme há-de adoptar uma designação em Inglês, ainda que ninguém entenda, nem sequer os autores, qual a lógica e a vantagem da opção.

    A colonização mais global adveio com a informática. É ‘chique’ usar termos americanos, mesmo quando existem vocábulos portugueses adequadíssimos. Mas, reconheça-se, muitos têm conhecimentos limitados da nossa língua e, certamente, ainda mais curtos de inglês! Se ‘mail’ é correio em inglês, por mero exemplo, por que usam o primeiro em Portugal?

    Noutras áreas, sobretudo nas económicas, o fenómeno repete-se. Desde há muito que as empresas portuguesas criavam marcas com designações estrangeiras. Os idiomas usados eram os dominantes e prestigiados no mercado – franceses na decoração, costura, perfumes; italianos no calçado, na alfaiataria, etc.. Em boa verdade, pretendia-se enganar os consumidores e, para isso, reconhecia-se a superioridade alheia, a que, servilmente, se prestasse vassalagem, em vez de tentar a afirmação própria. Acabavam iludidos quando queriam enganar os outros.

    Há quase vinte anos, no Tribunal Criminal do Porto (S. João Novo) fui o defensor oficioso de um jovem cigano que tinha sido apanhado a vender falsas camisolas ‘Lacoste’ na baixa da cidade, a mil escudos cada. Nas alegações, defendi que o pobre não podia ter cometido o crime de burla, de que vinha acusado. Se o comprador conhecia o significado do crocodilo, sabia que, a esse preço, não era um produto autêntico; se não o conhecia também não era enganado: queria apenas comprar uma camisola e o símbolo da marca não tinha, para ele, qualquer significado. O acusado foi absolvido.

    Aqueles empresários espertos eram como o meu cigano: não enganavam ninguém, salvo talvez eles próprios!

    Agora, já não é só nas marcas: constituem-se empresas com designação em idioma estranho, alheio. Sobretudo na área das novas tecnologias: até um recente prémio Pessoa, empresário de sucesso, registou a sua empresa com designação americana.

    E o velho argumento, desempoeirado e galhardamente adaptado aos novos tempos, ressurge, agora com o timbre da ‘globalização’: é para ser entendido e conhecido. Como se esses senhores pensassem que se impunham, não pela qualidade dos seus produtos e criações, pela inovação neles incorporada, mas pelo idioma americano do nome das marcas e das designações das empresas. Falácia tão grosseira que não se apercebe que, se assim fosse, não teriam qualquer hipótese de afirmação: reconheça-se que, quanto a isso, qualquer americano está em vantagem!

    Deve ser por esse motivo que a Zara, por exemplo, nome americano por excelência (!), tem tido êxito mercantil. Ou Prada, para só citar duas empresas de sucesso. Espanholas, sem complexos.

    Por: Manuel Gonçalves

     

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