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    Arquivo: Edição de 30-09-2007

    SECÇÃO: Crónicas


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    Ronda das Ilhas Gregas

    As chamadas “Ilhas Gregas” exercem um grande fascínio em todo o mundo, por um lado devido ao apelo que a Grécia faz à nossa memória histórica, mas, em larga medida, à importância de que elas próprias se revestiram ao longo dos séculos. Não admira, pois, que sejam grandes atracções turísticas nos tempos actuais, umas mais do que outras, dependendo da privilegiada localização nas rotas comerciais de antanho. Tomem-se como exemplo Creta e Rodes onde floresceram sociedades admiráveis cujo legado se projectou no que hoje somos.

    Já falei de Rodes em crónica de 30 de Maio de 2006. Numerosos mitos sobre esta ilha ligam-na aos deuses e heróis que a utilizaram como passagem: Apolo e Artemísia visitaram--na; Danao, quando fugiu do Egipto, elegeu-a como etapa da sua viagem para lugares mais seguros; Hércules e o seu filho Tiepolemo bem como Cadmo, o Fenício, cruzaram-na em suas deambulações e vicissitudes por que passaram. Todos estes mitos têm um ponto comum: Rodes constitui, ao mesmo tempo, uma passagem e um elo entre a Grécia e o Oriente, pilar da ponte utilizada por mercadores diversos do sul da Europa no seu relacionamento económico com a Ásia Menor e o Médio Oriente. A localização geográfica da Ilha foi um factor primordial, desempenhando papel determinante quanto à sua evolução histórica e ao bem-estar da sua população.

    Em Creta desenvolveu--se uma das maiores civilizações que o mundo já conheceu: a civilização Minóica. Quando esta começava a declinar impôs-se a civilização Micénica que partiu do continente grego e chegou a Creta em 1450 A.C. Juntas preencheram quase toda a Idade do Bronze, sensivelmente o segundo milénio antes da nossa era.

    A história da Grécia é verdadeiramente fascinante, uma vez que não tem por base a continuidade territorial mas o sentimento de pertença. A ideia grega de nacionalidade tem como elementos aglutinadores a língua, a religião, a descendência, os costumes e não a localização. O mundo grego incluía o continente, as ilhas do Mar Egeu e também várias colónias que chegavam ao Mar Negro, à Síria dos nossos dias e ao Mediterrâneo Ocidental abrangendo o sul da Itália e a Sicília. Como é sabido, também estiveram no território que de há muito ocupamos. Levaram consigo não apenas os seus valores espirituais e sociais, mas igualmente um rico manancial de conhecimentos que atingiam variados domínios.

    Foi com o pensamento em tudo quanto atrás ficou expresso que iniciámos o nosso cruzeiro. A primeira etapa foi a ilha de Santorini, nome de ressonância italiana que os cruzados lhe terão atribuído por nela existir uma capela dedicada ao culto de Santa Irina. Certamente por uma devoção especial à santa, a ilha ficou conhecida como de Santa Irina e daí a corruptela para Santorini. Este não foi, no entanto o único nome que lhe foi dado, tornando-se conhecida, séculos antes, como Strongylé (A Redonda), Théra e Filotéra. É uma ilha de natureza vulcânica resultante de uma tremenda erupção que, em tempos pré-históricos, a fez emergir das profundezas marinhas seguida de um terramoto devastador que afundou parte dela, conferindo-lhe o aspecto de meia--lua que, ainda hoje a distingue. A cratera do vulcão permanece só episodicamente activa tendo-se registado algumas ocorrências durante os séculos seguintes, a última das quais em 1956. Numerosos homens de ciência têm identificado esta pequena ilha com o que restou da mitológica Atlântida, despertando a curiosidade, sobretudo, de geólogos e arqueólogos que têm procurado descrever a sua longa aventura a partir dos dados disponíveis.

    A visão que tivemos nessa primeira manhã de viagem foi surpreendente. Deparou-se-nos aquela mole enorme de terra disposta em estratos negros e vermelhos, de falésias talhadas a pique, encimadas por um cordão de construções brancas donde sobressaíam muitas igrejas de cúpulas em azul-escuro, a rivalizar com a cor do céu e do mar, coroadas por cruzes gregas, e campanários de contrastante alvura em colunas redondas ou facetadas entremeadas de arcos e pequenas janelas circulares. O acesso às casas faz-se por escadas brancas no alto das quais há cancelos azuis em ripas de madeira dispostas verticalmente e arredondadas ao alto. Aninhada no sopé da montanha e inclinada sobre a água como que suspensa entre o céu e o mar, jaz a cidadezinha de Phira, de 1 720 habitantes, actualmente local de veraneio de gregos e estrangeiros endinheirados.

    Tal como outras ilhas do Mar Egeu, Santorini teve um passado importante voltado sobretudo para a agricultura, a pesca e o comércio com Creta, o continente grego, o Egipto e outras sociedades desenvolvidas da antiguidade. Cultivaram a vinha, a oliveira, plantas oleaginosas e cereais, como no-lo atestam os vasos, encontrados nas escavações arqueológicas, adequados ao transporte desses produtos. Ainda hoje se encontram muitos moinhos de vento a enfeitar as colinas da ilha, plantações de vinha, de olival e de pistachio que os visitantes são convidados a adquirir.

    Aqui se produz um vinho muito diferente e apreciado, pelo seu específico sabor: o “nychtéri”( o nocturno). Visto que raramente chove, as cepas são rasteiras e estendem as suas folhas sobre a terra para captarem o orvalho caído durante a noite. O processo de fabricação é também inabitual, pois as uvas não se esmagam da maneira que conhecemos: elas são empilhadas de forma que as grainhas se esmaguem pouco sob o peso dos cachos. Como não podia deixar de ser, dada a sua natureza, a pesca foi uma actividade de realce em tempos idos. Os trabalhos científicos demonstram que os habitantes de Santorini foram excelentes ceramistas, arquitectos, engenheiros, pedreiros e pintores. As construções revelam um carácter próprio muito influenciado pelo estilo bizantino.

    Não é por acaso que a ilha é, actualmente, ponto quase obrigatório nas rotas do turismo planetário que emprega número significativo da sua população.

    Por: Nuno Afonso

     

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