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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 30-09-2007

    SECÇÃO: Cultura


    d a s • a r t e s • e • d a s • l e t r a s

    HOJE FOI UM DIA QUE SE SEGUIU A ONTEM

    Hoje foi um dia que se seguiu a ontem. E hoje voltaste a abrir os olhos.

    Hoje as pessoas foram cruéis de novo e disseram palavras que te torcem

    o estômago. Sentiste de novo aquele nojo pelos rostos e pelas vozes dessas gentes tristes. Hoje eu olhei para os dias marcados a cores no velho calendário do tempo remoído e sorri para ti. - Falta menos um dia para matarmos o mundo. Menos um dia para sermos só nós longe dos dias marcados com cores diferentes. Hoje falta menos um dia.

    Por: Daniela Ramalho

    OLHARES DIFERENTES

    Coloco os olhos na rua, as pedras que cobrem os passeios, tão gastas e tão sujas. Acredito que no começo daquela rua aquelas pedras teriam cor de pedra, hoje têm cor de lixo. E as pessoas passam por cima delas uma e outra vez. Não olho mais para as pedras, olho antes as casas e edifícios que cobrem o passeio oposto ao meu. A cor verde esmagada por entre sujidade, as janelas cinzentas, os ramos que saem do portão de ferro, a tentar sobreviver. As folhas com nervuras secas, os ramos descaídos como se fossem pele gasta. Ao lado outra casa feita de azulejos gastos pelo tempo, corroídos da chuva dos Invernos. Os vidros da janela apenas transparecem o reflexo da rua, e os meus dois olhos que se prendem na tristeza do cenário. Os muros da casa cobertos de musgo verde-escuro, incrustado nos sulcos rugosos do muro, à espera que alguém crave uma unha e os atire para um outro muro numa outra rua qualquer. As pessoas que passam têm olhos escuros e opacos, eu olho-as e elas afastam-se de mim. As suas roupas cinzentas a tocarem acidentalmente os meus braços. São frias. O arrepio sobe até à nuca, e os poros formam gotas de gelo. Está demasiado frio aqui. Até o céu me parece menos azul e o sol das três da tarde não parece resistir ao escuro da rua. Saio da rua.

    Coloco os olhos na rua, as pedras que cobrem os passeios, tão gastas, parece que lembram todos os passos que nelas andaram. No início pedras tão lisas e agora sulcadas de tanto uso. E eu piso-as revivendo talvez o caminho que pessoas fizeram há dez minutos antes de mim ou há anos. Deixo as pedras por agora. Olho as casas e edifícios que cobrem o passeio oposto ao meu. Aquela cor verde antigamente viva de uma casa rústica e de beleza particular, as janelas de vidros que transparecem passado, os ramos que saem do portão de ferro, e o envolvem como se estivessem de mãos dadas. As folhas retorcidas e os ramos a fluírem para a rua, conferindo um ar mais enigmático à casa. Ao lado outra casa feita de azulejos corroídos pela chuva dos Invernos e outras chuvas baterão naqueles mesmos sulcos relembrando o trajecto das outras. Os vidros da janela transparecem a beleza da rua e os meus dois olhos presos à quantidade de elementos do passado. Os muros da casa cobertos de musgo verde-escuro, musgo antigo com musgo novo, são os avós, os filhos e os netos que ficam sempre juntos. As pessoas que passam têm olhos que se prendem ao que eu vejo e já vi, são olhos de pessoas que pensam na vida, nas suas vidas. As suas roupas tocam acidentalmente os meus braços. Sinto o toque ainda que passageiro daquela pessoa, sinto o quente das pessoas. O céu está azul embora o sol das três da tarde não se sinta muito. É uma tarde de Inverno com frio quente que nos mantém a passada certa. Sento-me no passeio, observo e aprendo.

    Por: Sofia Nunes

     

     

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