XIV FEIRA DO LIVRO DO CONCELHO DE VALONGO
Torga com a Confraria da Palavra Dita
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Foto ÁLVARO MENDONÇA |
No final, só pudemos conversar, e muito brevemente, com Conceição Fraga, o único elemento feminino da Confraria da Palavra Dita, e também o mais recente do grupo.
A Poesia é o instrumento que os une, aos quatro – Mário Mendes, Braga Amaral e Agostinho Santa (além de Conceição Fraga, claro).
São de Peso da Régua e – garante a nossa interlocutora –, nessas terras do Douro, também há – sempre – lugar para a Palavra.
Trouxeram a Ermesinde, na noite do dia 9, a Poesia de Torga, de quem se comemora este ano o Centenário do seu nascimento.
Disseram, encantaram, onomotopearam (um comboio, por exemplo), também em homenagem ao lugar em que estavam, ao pé da via férrea.
E é em sua homenagem e em homenagem à Poesia de Miguel Torga que tão bem aqui divulgaram, que deixamos aos leitores a maravilhosa “Fábula da Fábula”, um dos poemas que a Confraria da Palavra Dita trouxe a Ermesinde.
Fábula da Fábula
Era uma vez
Uma fábula famosa,
Alimentícia
E moralizadora
Que, em verso e prosa,
Toda a gente
Inteligente,
Prudente
E sabedora
Repetia
Aos filhos,
Aos netos
E aos bisnetos.
À base duns insectos,
De que não vale a pena fixar o nome,
A fábula garantia
Que quem cantava
Morria
De fome.
E realmente...
Simplesmente,
Enquanto a fábula contava,
Um demónio secreto segredava
Ao ouvido secreto
De cada criatura
Que quem não cantava
Morria de fartura.
Miguel Torga, “Diário VIII”
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