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    Arquivo: Edição de 30-03-2007

    SECÇÃO: Opinião


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    O maior português de sempre

    Numa iniciativa começada em Outubro de 2006, a RTP pôs em marcha um programa cujo formato original é pertença da BBC (British Broadcasting Corporation), o qual teve uma primeira parte em que os interessados puderam indicar os nomes que entenderam que mereceriam, na sua óptica, serem considerados como o melhor dos portugueses, tendo sido referenciadas 2.584 personalidades, sem que aos proponentes tivesse sido dada qualquer prévia orientação ou imposto algum constrangimento.

    Seleccionados os dez nomes mais citados, a estação de televisão apresentou em 14 de Janeiro de 2007 os defensores do grupo dos finalistas que, apresentados por ordem alfabética, ficamos a saber serem: D. Afonso Henriques, Álvaro Cunhal, António Oliveira Salazar, Aristides de Sousa Mendes, Fernando Pessoa, Infante D. Henrique, D. João II, Marquês de Pombal, Luiz de Camões e Vasco da Gama. Seguiu-se uma série de documentários dedicados às personalidades em causa, terminando o período de apresentação e de reflexão com o espectáculo promovido no passado dia 25 do corrente mês de Março, espaço aproveitado para mais uma vez os defensores das personalidades em concurso, dizerem de sua justiça, relativamente a alguns parâmetros sugeridos pela apresentadora Maria Elisa.

    De Janeiro a Março, várias foram as notícias relacionadas com o evento em causa e diversos os comentários quanto à sua validade e oportunidade, havendo quem tivesse considerado o programa de entretenimento como algo que não deveria ter sido realizado, apelando ao "bom senso" dos portugueses para que não escolhessem António de Oliveira Salazar como vencedor do concurso, isto quando já se sabia que o ex-Presidente do Conselho de Ministros se posicionava no primeiro lugar das dez personalidades, revelação que deixou "gelada" uma fatia do universo dos portugueses, a mesma que se afirma democrata, mas que reage de forma intolerante e fundamentalista sempre que alguma manifestação se revele contrária aos seus apregoados ideais políticos.

    Acontece que numa votação realizada por via telefónica, onde cada número só pôde fazer uma escolha, António Oliveira Salazar acabou por vencer o concurso com uma expressiva vantagem sobre os seus mais directos "adversários": Salazar recolheu 41% dos votos emitidos, enquanto que Cunhal foi preferido por 19% e Aristides de Sousa Mendes por 13%. Se o primeiro anúncio de que Salazar era o português mais votado incomodara muita gente, a proclamação de António de Oliveira Salazar como o "Maior Português de Sempre" causou também as suas "mossas", levando a deputada Odete Santos, ao que parece, a invocar a proibição constitucional da apologia do fascismo, numa tentativa de desvalorizar o voto expresso por muitos milhares de portugueses que quiseram colaborar nesta iniciativa da RTP. E, a avaliar pela forma como os media trataram o resultado da votação, parece que não foi só a Senhora Deputada que ficou desapontada.

    DIVERSAS

    LEITURAS

    Desenho MIGUEL ROCHA (DE VINHETA DE “SALAZAR AGORA NA HORA DA SUA MORTE”)
    Desenho MIGUEL ROCHA (DE VINHETA DE “SALAZAR AGORA NA HORA DA SUA MORTE”)
    Naturalmente que a conclusão a que se chegou no programa "Os Grandes Portugueses" provocará as mais diversas leituras e algum desconforto para quem tenha alguma relutância em aceitar a vontade do Povo quando esta não lhe agrada. Não faltará, mesmo, quem pretenda ver no resultado o risco que o regime corre ao fim de trinta e poucos anos de democracia, devendo, por isso, preparamo-nos para escutar "discursatas" alertando para o perigo de regresso dos saudosistas, com recomendações de reforço de vigilância e proibição de tudo quanto seja considerado como manifestações de direita ou de extrema direita, atitudes persecutórias que a ocorrerem, certamente que não contribuirão para o apreço das virtudes do sistema político que emergiu da Revolução de 25 de Abril de 1974, nem será por isso que os portugueses deixarão de, nos momentos que entendem como apropriados, fazerem as suas escolhas e de manifestarem os seus encantos e desencantos com o que os políticos os presenteiam.

    Para nós, o "recado" inserto nos votos emitidos pelos telespectadores da RTP1 não deverá ser entendido como vontade dos portugueses em regressarem ao regime identificado com Salazar. Bem pelo contrário, será mais inteligente e avisado, que nele vejamos desilusão por promessas recorrentemente não cumpridas, agravada pelos comportamentos de muitos actores do "estrelato" político que em nada se identificam com a seriedade, dedicação à causa pública e sentido de Estado que identifica os quase quarenta anos de serviço a Portugal e aos portugueses da personalidade eleita. Não estando em causa a censura de ter imposto um regime não democrático, com as naturais consequências para quantos se lhe opuseram, os milhares de telespectadores agregados nos 41% dos votos recolhidos, por certo que não quiseram dizer que gostariam de voltar a viver sob um regime de partido único, mas não será grande atrevimento admitir que aproveitaram a ocasião para dizer à classe política que não se revêem nos que, enchendo o peito de ar e com um fingido semblante, não se cansam em afirmar que andam na política para servir o Povo, quando frequentemente são surpreendidos a servirem-se da confiança do eleitorado para tratarem dos seus interesses pessoais, muitas vezes utilizando desprezíveis habilidades que antes de conhecidas não lembrariam ao diabo.

    Com efeito, quando os cidadãos são frequentemente sacudidos com escândalos envolvendo a classe política; quando não podem andar na rua sem o "credo" na boca, receando o assalto de qualquer marginal dos muitos que pululam pelas ruas das nossas aldeias, vilas e cidades cuja protecção policial praticamente desapareceu, salvo junto de zonas de aparcamento de veículos; quando vêem os serviços públicos que existiam nas suas povoações a encerrarem por motivos economicistas, forçando-os a deslocações de muitos quilómetros para cumprirem obrigações muitas vezes impostas pela Administração Pública; quando fecham maternidades e por isso as crianças nascem nas ambulâncias; quando os Serviços de Atendimento Permanente (SAP's) fazem horário de serviços administrativos, com a alegação de que o atendimento de meia dúzia de doentes no horário nocturno não justifica manter a resposta da Saúde ao doente, quando ele dela precisa; quando em contraponto com a redução dos serviços sociais públicos, os portugueses tomam conhecimento dos milhões de euros gastos em estudos e projectos de duvidosa necessidade e de indemnizações pagas a gestores públicos para que deixem a "cadeira" para outros protegidos partidários a ocuparem; quando o discurso político é de que as coisas estão a melhorar mas o desemprego sobe em flecha; quando a generalidade das pensões sofrem reduções com o argumento de que só assim se poderá garantir o futuro da Segurança Social, enquanto os decisores políticos permitem que em algumas empresas públicas haja quem receba remunerações acima da lei e "interessantes" pensões adquiridas em poucos anos ou até meses, os portugueses que desejam viver em democracia não podem tudo suportar sem que aproveitem as ocasiões que lhes sejam oferecidas para dizerem, alto e bom som: BASTA de tanta mentira política, do esbanjamento e do aproveitamento ilícito dos dinheiros públicos.

    Por: A. Alvaro de Sousa

     

     

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