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    Arquivo: Edição de 15-10-2006

    SECÇÃO: Local


    Montar um acampamento escutista

    Como foi o Acagrup dos escuteiros de Ermesinde - o fim da festa dos 80 anos...

    Fotos CNE ERMESINDE
    Fotos CNE ERMESINDE
    O encerramento das celebrações dos 80 anos do agrupamento de escuteiros de Ermesinde efectuou-se na mais recente actividade por estes vivida: um acampamento onde todos os jovens associados da nossa cidade se juntaram, no chamado Acagrup, isto é, acampamento – “Aca” – e de agrupamento – “agrup”. Esta reunião campestre é realizada periodicamente de dois em dois anos, tendo sempre lugar nas férias de Verão. Desta vez, a sua realização fez-se num terreno particular em Fundinhães, no Marco de Canaveses.

    Um acampamento deste porte implica uma forte preparação, não só por parte da direcção e organização, mas também em cada secção. Deste modo, para além do trabalho corrente foi preciso distribuir tarefas específicas, onde todas as áreas mínimas indispensáveis fossem abarcadas. Por exemplo, a alimentação tem de ser escolhida de um modo equilibrado, de tal forma a prevenir problemas intestinais, que são muito frequentes em campo. De seguida, é necessário calcular quantidades para aproximadamente 60 pessoas e ainda jogar com os preços do mercado. Outro exemplo poderá ser as infra-estruturas: é preciso limpar o mato, construir latrinas, chuveiros ou mesmo um mastro, altar e pórtico de entrada. No entanto, cada grupo deverá construir o seu campo, ou seja, a sua cozinha, a sua mesa, as suas tendas e outras construções que julguem interessantes no início da actividade.

    Quanto à preparação, aos grupos dos jovens participantes pede-se algo mais lúdico: a invenção das actividades do seu próprio grupo. Assim, terão de se propor a realizar determinados objectivos, conforme o progresso de cada um, já que cada elemento tem um percurso individual constituído por provas já estipuladas. Deverão também escolher um herói que encaixe nos objectivos pretendidos e somente depois definir as actividades que realizarão na prática, não esquecendo o imaginário criado. É deste modo que funcionam todas as actividades escutistas, dizendo portanto tratar-se do método escutista, que só termina depois da avaliação da actividade.

    Relativamente ao Acagrup, os lobitos, escuteiros mais novos, decidiram viver segundo o imaginário da alcateia: a história da selva. A célebre história infantil do Mougli – o menino que foi criado entre os lobos – é o cenário de fundo, sobre o qual se debruçam as suas actividades. Já os exploradores, envergando lenço verde e branco, recuaram no tempo e escolheram os Lusitanos como exemplo a seguir na luta incessante contra os Romanos. Por outro lado, o grupo pioneiro interpretou o tema geral do acampamento – “Por um Mundo Melhor!” – decidindo-se a combater os males do mundo, destacando a poluição, o racismo, a água, a pobreza, a guerra e o consumismo. Para ilustrar esta batalha, o desenho animado “Shrek” foi feito herói, pela mudança que a personagem sofre no filme. Finalmente, o clã, colegas mais velhos, imitaram os cavaleiros da Távola Redonda e o Rei Artur.

    A EXPERIÊNCIA

    DE CAMPO

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    No entanto, a vivência propriamente dita, ou seja, a experiência de campo, é sempre mais intensa. Cada grupo tem os seus próprios entretenimentos, embora haja actividades-tipo como os raids, por exemplo, que vulgarmente são chamados de caminhadas. Com objectivos e para lugares diferentes, em dias diferentes, todas as secções fizeram pelo menos um raid. Podem também existir actividades conjuntas constituídas por um jogo ou uma reflexão. Desta vez, o grupo explorador convidou os pioneiros para se fazerem passar pelos Romanos, participando numa guerra de meias contra eles, os Lusitanos, jogo este que estava inserido na aventura dos verdes.

    Para além disso, há momentos onde certamente o agrupamento está todo reunido, não fosse este um Acagrup! A abertura é o primeiro e ocorre habitualmente na primeira noite, depois dos grupos montarem o seu campo. Através de uma retrospectiva dos 80 anos da nossa existência, ilustrada com fotografias desde as mais antigas até aquelas que haviam sido tiradas cinco minutos atrás, o Acagrup 2006 foi oficialmente aberto. Foi significativa a tarefa seguinte, onde se pedia a cada elemento que escrevesse, num pequeno rectângulo, o que faz ou poderá fazer por um mundo melhor, seguindo o ideal do tema. Ao juntar todos os rectângulos formou-se o emblema comemorativo que usamos na camisa do uniforme. Foi lançado também o desafio de cada grupo adornar criativamente um continente do mundo, simbolicamente representado por uma gigante bola de arame e jornal.

    Todos os dias, pelas nove horas, havia outro momento em que estávamos reunidos: a oração da manhã. A bandeira nacional e a bandeira do Corpo Nacional de Escutas (CNE) eram hasteadas e era-nos lido um extracto bíblico ou uma palavra do nosso fundador, sobre a qual ficava uma pergunta no ar para reflectirmos durante o dia. Não podíamos deixar de dar os parabéns ao aniversariante desse dia, pois curiosamente houve quatro aniversários em seis dias, mais o aniversário de 25 anos de casamento do Chefe Oliveira. Isto resulta em bolos de aniversário diários, para além do cantar os parabéns via rádio, uma regalia instalada no campo para alegrar as actividades de cada secção, ou para dedicação de canções.

    O fogo de conselho é outro ponto fulcral e essencial de um Acagrup. Este é basicamente uma partilha de experiências, ou como diz a letra da canção:

    “Ao redor da fogueira

    Vimos ouvir os conselhos

    Que nos dão os nossos chefes

    Nossos irmãos mais velhos...”

    Assim cada secção apresenta algo normalmente alusivo ao seu imaginário, como uma peça de teatro, um jogo ou simplesmente uma canção. Naquela noite, os lobitos encenaram “O Livro da Selva”, num teatro mudo, somente narrado. Os exploradores fizeram vários géneros de teatro: a representação com personagens vivas, o teatro de fantoches e o teatro de sombras chinesas, embora todos ilustrassem a vitória do lusitano Viriato sobre os Romanos. Por seu lado, os pioneiros fizeram uma peça de teatro mais cómica, onde demonstravam a grande mudança que o seu herói Shrek sofreu. Os caminheiros ficaram responsáveis por animar os intervalos das peças, cantando (até projectaram as letras) ou fazendo algumas brincadeiras típicas do fogo de conselho.

    FINAL E

    DESPEDIDAS

    Se este acampamento fosse como todos os outros, esta deveria ter sido a última noite. No entanto, desta vez houve, em pleno campo, a cerimónia mais importante na vida de um escuteiro: a promessa. Esta cerimónia consiste no iniciar do percurso de escuteiro ou no avançar para a etapa seguinte, misticamente representado pela promessa de ser fiel à Igreja, à Pátria, ao nosso semelhante e à lei do escuta, publicamente dita à comunidade. O passo mais característico é, porém, a mudança de lenço para um de outra cor, ou seja, a mudança de grupo. Nem qualquer um pode fazer a promessa. Este acto requer a confiança do grupo na pessoa que se vai comprometer, mas acima de tudo, a confiança de Deus. Portanto, a última noite foi destinada à Vigília de oração, sendo esta uma cerimónia em que os irmãos mais velhos pedem pela pessoa que vai fazer promessa, consciencializando-a do passo que estão a dar e esta, por sua vez, tem um momento pessoal para falar com Deus.

    O último dia abarcou, como tudo indica, as promessas, mas inseridas numa missa campal especialmente dirigida pelo nosso assistente Pároco Peixoto, que veio de propósito de Ermesinde para estar presente neste momento-chave. Com ele vieram também os pais que, para além de virem matar as saudades de seis dias de separação dos filhos, vieram preparar-nos um churrasco, já que nesse dia a refeição era conjunta. Começando então por um momento de partilha, este dia terminou com elementos suportando o peso do novo lenço, o peso da responsabilidade, enquanto alguns chefes, pais, o dono do terreno e o Sr. Pároco suportavam o peso das medalhas de agradecimento recebidas.

    Umas palavras do nosso grande Chefe Toni bastaram para encerrar o acampamento, não deixando passar o tema: “Por um Mundo Melhor!”, nem a mensagem que cada um tinha escrito no início da actividade, porque ao olhar para trás devíamo-nos auto-avaliar: Será que durante estes dias concretizei aquilo que me propus a fazer por um mundo melhor? Será que ainda posso fazer algo mais por um mundo melhor? Com estas perguntas que ressoaram no pensamento de cada um de nós, esta actividade acabou, mas a ideia era a sua mística permanecer na memória e nas acções de cada um de nós, influenciando o outro e o outro e o outro. Assim, para além de terminar o Acagrup 2006, terminou um ciclo de existência do agrupamento, sempre lutando, tal como Baden Powell, o nosso fundador, o ensinou: Por um Mundo Melhor!

    Por: Ana Pedro

     

     

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