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    Arquivo: Edição de 30-09-2006

    SECÇÃO: Opinião


    Bento XVI e o diálogo inter-religioso

    A polémica nasceu quando o Papa, num discurso, na Universidade de Regensburg, Alemanha, citou a seguinte frase do imperador bizantino do século XIV Manuel II Paleólogo: «Mostra-me o que Maomé trouxe de novo e verás apenas coisas más e desumanas, como a sua ordem de espalhar pela espada a fé que pregava».

    Perante críticas e ameaças de muçulmanos de todo o mundo, Bento XVI lamentou o impacto negativo causado pelas suas palavras. Sucederam-se declarações iradas, actos de violência, protestos públicos, foram vandalizadas igrejas em vários países, palavras de raiva, declarações de guerra santa contra “os adoradores da cruz” à mistura com comentários de respeito por Bento XVI e afirmações de que as suas palavras foram, de facto, “mal interpretadas”.

    O Cardeal Tarcísio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, em comunicado disse que o Papa «lamenta profundamente que algumas passagens do seu discurso possam ter parecido ofensivas para a sensibilidade dos crentes muçulmanos». Sublinha o respeito do Papa pelo islamismo e faz votos para que “o verdadeiro sentido” das suas palavras seja entendido. O próprio Papa afirmou, perante milhares de fiéis, que se trata de citação de um texto medieval, que não exprime de forma alguma seu pensamento pessoal. «Espero que esta explicação contribua para apaziguar os espíritos e clarificar o sentido verdadeiro do meu discurso, que não passa de um convite ao diálogo franco e sincero com um grande respeito recíproco», disse.

    A Turquia, depois de o primeiro-ministro, Tajip Erdogan ter apelidado os comentários do Papa, de “feios e pouco felizes”, saudou o esclarecimento, e afirmou não haver razões para cancelar a visita do Papa agendada para os dias 28 a 30 de Novembro.

    Na Alemanha, a chanceler, Angela Merkel, defendeu a frase da polémica que diz ter sido mal interpretada. O discurso de Bento XVI «foi um convite ao diálogo entre as religiões», afirmou. E explicou que a condenação da violência implícita na fase é extensiva a todas as religiões.

    No Egipto, a Irmandade Muçulmana considerou o comunicado “insuficiente” e exigiu um “pedido de desculpas pessoal”.

    Na Cisjordânia e Gaza, igrejas ortodoxas e anglicanas foram atacadas ou incendiadas.

    O presidente da Indonésia, Susilo Yudhoyono, lamentou as declarações de Bento XVI e apelou à manutenção da harmonia entre as religiões.

    Na Malásia, país que detém a presidência da Organização da Conferência Islâmica, o primeiro-ministro, Abdullah Badawi, considerou “aceitáveis” as explicações dadas por Bento XVI.

    O Irão protestou contra as declarações do Papa. O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, manifestou o seu “respeito” pelo Papa Bento XVI, afirmando que as suas palavras sobre o Islão foram “mal interpretadas”.

    No Iraque, num comunicado na internet, vários grupos terroristas iraquianos, incluindo a Al-Qaeda, ameaçaram os cristãos com a “guerra santa” (jihad).

    A Comissão Europeia afirmou que os comentários do Papa foram “deliberadamente retirados do contexto”.

    O arcebispo de Cantuária, Rowan Williams, chefe da Igreja anglicana, saiu em defesa do Sumo Pontífice, afirmando que o seu pedido de desculpas é “suficiente” e relembra a “forma positiva” como Bento XVI tem defendido o diálogo entre as religiões.

    D. Januário Torgal, bispo das Forças Armadas, em Portugal afirmou: “é lamentável” a ameaça da Al-Qaeda de atacar cristãos. «O Papa convidou ao diálogo... e há quem queira responder com actos de destruição».

    O xeque Munir, imã da mesquita de Lisboa, diz que esta ameaça não tem qualquer ligação com os princípios do Islão. Viola os princípios do Islão. «O Papa já lamentou o sucedido (...). Sua resposta é o primeiro passo para manter abertas as portas do diálogo».

    Em Mogadíscio, capital da Somália, uma religiosa católica italiana foi abatida a tiro por um grupo de homens armados, num ataque que poderá estar relacionado com as polémicas declarações do Papa. A vítima, de 70 anos, residia na Somália desde 2002. Na véspera, um líder islâmico apelara aos muçulmanos para que “se vingassem” do Papa, considerando que quem ofende o profeta Maomé «deve ser morto».

    Da análise de todos estes comentários, podemos concluir: Bento XVI continua a ser protagonista do diálogo franco com todas as religiões; suas palavras citando um imperador bizantino foram “mal interpretadas” ou “deliberadamente retiradas do contexto”; no comunicado sublinha o respeito pelo islamismo e lamenta suas palavras terem ofendido a sensibilidade de crentes muçulmanos; o diálogo e a harmonia entre as religiões é sempre prejudicada por atitudes de violência, de guerra, de vingança, de actos de destruição e de morte.

    Esperamos que posições diferentes possam vir a favorecer o encontro das religiões, na profunda dinâmica do diálogo para a paz sincera e verdadeira entre os povos.

    Por ARMANDO SOARES

     

     

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