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    Arquivo: Edição de 30-09-2006

    SECÇÃO: Opinião


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    Budapeste: cidade monumental

    Pequena Paris da Europa Central, como frequentemente é chamada, Budapeste merece muito justamente este título, não só pelos monumentos que possui e que reflectem a sua cultura milenar, mas também pelas marcas que nela imprimiram os sucessivos povos que a habitaram. Não lhe falta sequer um grande rio, o segundo maior da Europa, que tem inspirado grandes compositores e poetas e que desempenhou importante papel na história da capital húngara e do próprio país.

    A sua localização privilegiada e a fertilidade do seu solo despertaram a cobiça de muitos invasores que ali se estabeleceram por períodos mais ou menos longos. Os primeiros vestígios de povoamento são muito remotos mais de quatrocentos anos antes de Cristo. Pertenciam aos Citas e aos Eravi Celtas. Vieram depois os romanos que estabeleceram como limite do seu império o rio Danúbio e fundaram, no espaço da cidade actual a sua Aquincum. Decorria o primeiro século da nossa era. A desagregação do império romano atraiu primeiro os Hunos comandados por Átila, “O Flagelo de Deus”, mais tarde Godos, Lombardos, Mongóis, Tártaros e Ávaros. Em 896 desciam dos Urales os Magiares que acabariam por constituir os ancestrais dos húngaros que conhecemos e que estes reconhecem como tal.

    As grandes figuras da história húngara são reverenciadas e com inteira justiça numa região tão exposta e fustigada, mas que conseguiu manter uma língua e uma cultura muito próprias. Curiosamente, a língua herdada dos magiares não pertence à grande família indo-europeia e daí a sua dificuldade para os restantes povos do Velho Continente. Dois reis ocupam lugar central na mitologia húngara: o rei Santo Estêvão (István em húngaro), primeiro rei coroado, no início do século onze, e o rei Mátyás quer governou este povo na segunda metade do século XV.

    A CONVERSÃO AO CRISTIANISMO NO SÉCULO XI

    O rei Estêvão converteu os húngaros ao cristianismo e instituiu as bases do Estado actual; durante o reinado de Mátyás a Hungria tornou-se uma das maiores monarquias da Europa Central e conheceu grande renascimento cultural. Mátyás, além de sábio governante e valoroso chefe militar, tinha a paixão da caça. O seu território oferecia-lhe imensas possibilidades de a satisfazer. Conta-se que, num dia de intenso calor, embrenhou--se na mata densa que rodeia o lago Balaton e, atraído pela frescura de um rio que corria a pequena distância, para lá se dirigiu na intenção de matar a sede. Já próximo, encontrou um casal de moleiros que partiam para entregar farinha aos seus clientes. Junto seguia o seu filho, um moço de envergadura atlética, para os ajudar a carregar e a descarregar os sacos. O rei dirigiu-se-lhes e, sem se dar a conhecer, pediu água, porque estava com muita sede. A moleira ordenou, então, ao filho que fosse buscar água ao moinho que ficava a perto. O rapaz obedeceu prontamente, e dali a pouco, regressava com um jarro cheio que ofereceu ao caçador. A mãe no entanto, interpôs-se e repreendeu-o porque essa não era a maneira correcta de servir água a um hóspede. Mandou que voltasse a casa e trouxesse o recipiente sobre um prato. O jovem não se mostrou agastado e foi cumprir a ordem mas, como não encontrasse o que procurava e visse do lado de fora do moinho algumas mós de reserva, colocou o jarro sobre uma delas e levou-a nos braços como se fosse uma pena. O rei ficou estupefacto com a valentia, mas também com a educação e a obediência do moço, disse quem era e convidou o rapaz para o acompanhar. Algum tempo depois esse campónio tornava-se comandante dos exércitos reais.

    BUDA E PESTE MONUMENTAL

    Um dos monumentos mais importantes da capital húngara leva o seu nome: Igreja Mátyás. Construída no séc. XIII. Ali foi celebrada a Missa de Acção de Graças a seguir à sua coroação como Rei da Hungria e foi por ele aumentada e embelezada já no século XV. Transformada pelos turcos na sua Grande Mesquita e quase destruída durante a libertação de Buda pelos cristãos, foi de novo restaurada em estilo barroco. Após danos significativos, foi reconstruída em estilo neogótico de 1873 a 1896. Apesar da mescla de estilos, a Igreja de Santa Maria possui muitos pormenores artísticos importantes e alberga, actualmente, o Museu de Arte Sacra da Hungria. Junto dela encontra-se o Bastião dos Pescadores, um acrescento estético à Colina do Castelo e das suas torres tem-se uma vista magnífica sobre o Danúbio e sobre Peste.

    Buda tem muitos pontos de raro interesse. Na Colina do Castelo encontra-se o Palácio Real ao qual se acede por um funicular que parte da Ponte das Correntes, ela própria a mais conhecida de todas as que atravessam o Danúbio e a primeira a ser construída com carácter de permanência (ver ilustração da minha crónica de 31 de Agosto p.p.). Como a maior parte de Buda destruída e reconstruída mais do que uma vez, o Palácio Real foi amplamente modificado pelos Habsburgos no século XVIII, procurando conferir-lhe a medida da grandeza dos seus senhores. A versão actual mantém essa imponência, mas trata-se de restauro efectuado depois da 2ª Guerra Mundial. Sendo a parte mais antiga da cidade com ruínas de antigas civilizações e monumentos sem conta, desde os primitivos tempos da nação magiar, Buda merece uma visita atenta e demorada. Do outro lado do rio, Peste tem como principais atracções o edifício do Parlamento, o maior do país e símbolo de Budapeste. É considerada uma obra-prima neogótica e foi construído entre 1884 e 1902. Procurando imitar o Parlamento de Londres tem 268 metros de comprimento, 96 metros de altura e 691 salas. Sumptuoso é o que dele se pode dizer. Outra grande atracção de Peste é a Ópera Nacional inaugurada em Setembro de 1884 pelos Habsburgos com o intuito de rivalizar com as de Paria, Viena e Dresden. Ainda parecer respirarem-se ali os tempos gloriosos de Francisco José e da sempre lembrada imperatriz Sissi (Isabel). Importante igualmente é a Praça do Milénio, relíquia de orgulho na história da Hungria. Foi ali que, em 1896 se iniciaram as comemorações do milénio de existência deste país. Finalmente deve referir-se a tradição dos banhos. São muitos os complexos termais existentes na capital e quase se pode dizer que ir a Budapeste e não ir a banhos é como “ ir a Roma e não ver o Papa.

    Por: Nuno Afonso

     

     

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