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    Arquivo: Edição de 30-09-2006

    SECÇÃO: Opinião


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    A imagem de gestores e empresários em Portugal e no Mundo

    A “nata” da gestão empresarial portuguesa, agregada no que designaram por “Compromisso Portugal”, voltou a reunir-se no Convento do Beato, no passado dia 21 de Setembro, apostada em abordar problemas relacionados com o que designara serem quatro sectores estratégicos, que agrupou sob os temas: Ambiente e Ordenamento; Educação; Estado; Modelo Social; Justiça e Competitividade, tendo a comunicação social feito eco de que o movimento quer, em cinco anos, mudar a fiscalidade, iniciar a reforma da Segurança Social e do Estado e que sejam alienadas todas as empresas públicas. Tal como há dois anos, aquando da primeira reunião, a comunicação social dispensou larga cobertura ao evento, de tal modo exuberante, que levou um grupo de consumidores de jornais económicos, a declararam-se desiludidos com o baixo nível de análise crítica na reprodução da mensagem do referido movimento que se afirma emergente da sociedade civil, a ponto de sugerirem que a Entidade Reguladora da Comunicação Social deve ter um papel actuante no sentido de assegurar que a informação veiculada seja fiável e não enviesada, susceptível de afectar negativamente decisões tomadas na área da economia., por influência do que é sugerido pelo jornalismo económico de órgãos de comunicação social de referência.

    Efectivamente, tal como há dois anos, os “conventuais” deram sinais evidentes de que estavam muito mais obcecados com o que poderiam obter do sector público, que recorrentemente criticam, do que preocupados com o que poderiam, e deveriam, contribuir para a solução dos problemas que afectam o país, e que trazem os portugueses compreensivelmente muito preocupados. Com efeito, como conclui o jornalista Joaquim Furtado no “Público” de 27 do corrente mês de Setembro, os “beatos” nada mais fizeram do que dar conselhos, fazer sugestões e apresentar propostas ao Governo do tipo: isto só melhora se o governo diminuir o número de funcionários públicos em 200 mil; se o governo baixar os impostos para as empresas; se o governo flexibilizar a legislação laboral e os despedimentos; se os gestor passarem a tomar conta das escolas, dos tribunais, dos estabelecimentos de saúde, da segurança social e se o governo privatizar as empresas públicas. Não será preciso muita sapiência nem dispor de muito tempo para perceber os verdadeiros objectivos dos “comprometidos”, de quem se deveria esperar que dissessem o que se propõem fazer para resolução dos muitos, graves e preocupantes problemas do país, em vez de repetirem o que diariamente os defensores das políticas (neo)liberais fazem passar nos meios de comunicação social.

    Já na primeira reunião realizada em Fevereiro de 2004, quando o problema do desemprego era sentido entre os portugueses, a “fina flor” da gestão pouco se importou com a questão social que continua a afectar cada vez mais famílias, aproveitando o momento para reivindicar redução de impostos para empresas, maior liberalização nos despedimentos, privatização das empresas públicas, sem uma única palavra à qualidade (ou má qualidade) da gestão.

    OBJECTIVO: DEITAR A MÃO ÀS EMPRESAS PÚBLICAS RENTÁVEIS

    Como se depreende das conclusões da última reunião, as “receitas” não são muito diferentes: continuam os gestores e empresários a reclamar que a taxa do IRC baixe dos actuais 25% para 10% ou 12,5%; que o código do trabalho seja alterado no sentido da total liberdade patronal de estabelecer no contrato individual de trabalho o poder de despedir o trabalhador quando quiser; que o modelo da segurança social seja alterado para que parte significativa das contribuições sejam desviadas para o sector financeiro privado e, por último, que se proceda à privatização das empresas públicas CP – Caminhos de Ferro Portugueses, APL – Administração dos Portos de Lisboa, TAP – Transportadora Aérea Portuguesa, ANA – Aeroportos e Navegação Aérea e EDP – Electricidade de Portugal. Neste aspecto, se os “inconformados” gestores e empresários quisessem, de facto, assumir a propriedade e gestão deste bloco de empresas, com a garantia de não degradarem o nível dos serviços, nem aumentarem discricionariamente os preços, parece-nos que seria bom negócio para as partes. De recear, porém, é que a “conversa” comece por tratar o conjunto, mas que o objectivo final seja apenas deitar mão às empresas públicas rentáveis, deixando no sector público as empresas de transportes.

    Mas, convenhamos, nem tudo são más notícias. Neste “fórum” já se ouviram vozes a colocarem o dedo na ferida. Alexandre Relvas (o José Mourinho nos negócios, como o apelidou Cavaco Silva) reconheceu que a economia portuguesa precisa de crescer a uma taxa média anual de 2%, ou então, o elevado nível de desemprego tornar--se-á estrutural. Pelo seu lado, José Maria Ricciardi (presidente da Comissão Executiva do BES Investimento) sem deixar de afirmar que o país tem uma legislação laboral rígida, logo acrescentou não ser preciso liberalizar os despedimentos. Para este economista, o que é preciso assegurar é a consolidação do tecido industrial e maior recurso ao financiamento pela via do capital de risco, intervenção que deverá ter causado enorme desconforto à maioria dos presentes que se terão inscrito para ouvir discursos orientados para a obtenção de mais subsídios, menos impostos e elogios da qualidade da gestão privada vs gestão pública, como suporte à reclamação de mais privatizações e intervenção na gestão da coisa pública.

    Acontece que, coincidente ou não, o Diário de Notícias dá nota de que «o relatório sobre competitividade do Fórum Económico Mundial é uma vergonha para os gestores e empresários portugueses e um elogio às instituições públicas. [Que] Portugal desceu do 31º lugar para o 34º, entre 125 países, fundamentalmente por causa do mau funcionamento das instituições privadas». [Que] «o pior indicador de Portugal é o que está relacionado com o baixo crescimento, [seguindo-se-lhe] a mais baixa qualificação na sofisticação dos negócios. Ou seja, fracos processos produtivos, problemas nas estratégias de marketing e dificuldade de delegar competências». Neste editorial, Helena Garrido aproveita para recomendar: «Os gestores e empresários de Portugal têm urgentemente de olhar menos para o Estado e de tratar melhor dos seus negócios. Não será fácil. As fragilidades das instituições privadas reflectem a falta de formação em áreas hoje importantes como a economia e as finanças e uma atitude geral que se focaliza demasiado nos problemas e pouco nas soluções». E, a finalizar, entende que «o grande contributo que o relatório de Davos pode dar, é acabar com a conversa sobre o funcionamento das instituições públicas, para começarmos a falar do verdadeiro problema do País, a falta de preparação de gestores e empresários. Só começando a enfrentar a realidade, podemos iniciar as correcções. O Estado, afinal, é um falso problema».

    Há dois anos, na edição de “A Voz de Ermesinde” de 29 de Fevereiro, recomendávamos aos “inconformados” gestores que convidassem o responsável pela Autoeuropa em Portugal para lhes ensinar como, sem precisar de alterações às leis laborais, consegue resultados empresariais que tornam a sua unidade como a mais rentável de todo o Grupo VW. Hoje, a nossa sugestão vai no sentido dos “conventuais” organizarem um seminário (ou curso intensivo) onde lhes sejam ensinadas as práticas gestionárias que os coloque ao nível dos seus colegas que no ranking das economias mais competitivas estão no “top ten”: Suíça, Finlândia, Suécia, Dinamarca, Singapura, EUA; Japão, Alemanha, Holanda e Reino Unido.

    *[email protected]

    Por: A. Alvaro de Sousa

     

     

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