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Edição de 31-10-2024
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    Arquivo: Edição de 31-03-2022

    SECÇÃO: História


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    ACONTECEU HÁ UM SÉCULO (33)

    Aviadores portugueses fazem a primeira travessia aérea do Atlântico Sul

    Há um século, os portugueses voltaram a estar nas bocas do mundo, graças à primeira viagem de travessia aérea do Atlântico Sul, que começou em março de 1922, estabelecendo, pela primeira vez, a ligação da Europa (Portugal) à América do Sul (Brasil), tal como, 422 anos antes, havia feito Pedro Álvares Cabral, só que dessa vez, por mar. Os heróis desse feito da República, já em fase de decadência, foram os aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral que chegaram ao Brasil em meados 1922, no âmbito das comemorações do 1.º centenário da independência do Brasil. No regresso, seriam recebidos em êxtase pelo povo português, de Norte a Sul.

    Pelo retumbante êxito da viagem aérea ao Brasil, em março de 1922, dos nossos extraordinários aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que impressionou fortemente todo o mundo civilizado, foram-lhe prestadas homenagens em muitos pontos do país, tendo a cidade do Porto, onde os dois heróis nacionais tinham arreigadas amizades, excedido todas as provas de admiração e afeto por esses gloriosos portugueses.

    Gago Coutinho e Sacadura Cabral no momento da partida (in “Ilustração Portugueza, n.º 842, de 8-4-1922)
    Gago Coutinho e Sacadura Cabral no momento da partida (in “Ilustração Portugueza, n.º 842, de 8-4-1922)
    O ITINERÁRIO PERCORRIDO PELOS INTRÉPIDOS AVIADORES

    Recordamos que a viagem começou no Rio Tejo, às 7 horas da manhã do dia 30 de março de 1922, a bordo do Lusitânia, sob o comando de Gago Coutinho e Sacadura Cabral e tinha como destino final o Rio de Janeiro. Esta aventura histórica era apoiada em mar pelos navios de guerra República, Cinco de Outubro e Bengo. A viagem conheceu várias fases e bastantes peripécias, para assistir os 3 hidroaviões que foram utilizados. Consideram-se, normalmente, apenas 4 etapas: a 1.ª corresponde ao trecho de viagem entre Lisboa e Las Palmas (na Grande Canária) que durou 8 horas e 37 minutos, na qual tudo correu mais ou menos bem. Daqui voaram para Gando (onde hoje se situa o Aeroporto da Ilha) para terem melhores condições de voo; a 2.ª etapa, começou na madrugada do dia 5 de abril e ligou Gando a S. Vicente (Cabo Verde), demorando 10 horas e 43 minutos; a 3.ª etapa, começou a 18 de abril, durou 7 horas e 55 minutos, já com o percurso predelineado ligeiramente alterado por razões de insuficiência de combustível e teve como destino os Penedos de S. Pedro e S. Paulo, já não muito longe da costa brasileira, onde se faria o reabastecimento a partir dos navios de apoio (mas a descida não correu bem e o hidroavião ficou danificado, tendo valido o pronto socorro do cruzeiro República que salvou os pilotos e o equipamento); na 4.ª etapa, o novo hidroavião partiu da Ilha de Fernando de Noronha, na manhã de 11 de maio, mas os aviadores fizeram questão de voltar a sobrevoar os Penedos de S. Pedro e quando se dirigiam já para a costa do Brasil, o motor parou e tiveram de fazer uma amaragem de emergência (a longa espera por apoio, fez com que o hidroavião se afundasse, uma vez que os flutuadores deixavam entrar água); a 5 de junho, já a bordo do último hidroavião (o 3.º Fairey, depois batizado com o nome de Santa Cruz de que dispunha a Aviação Naval Portuguesa, que hoje se encontra no Museu da Marinha, em Lisboa), os destemidos aviadores portugueses, concluiriam a sua grande proeza, com paragens no Recife, Baía, Porto Seguro, Vitória, e, finalmente, Rio de Janeiro, onde amarou no início da tarde de 17 de junho de 1922.

    Aviadores Sacadura Cabral e Gago Coutinho (postal da época)
    Aviadores Sacadura Cabral e Gago Coutinho (postal da época)

    MANIFESTAÇÕES DE GRATIDÃO NO MUNICÍPIO DE VALONGO

    Entre nós, também não faltaram manifestações de gratidão e orgulho para com os heróis da aviação portuguesa. No dia 1 de maio de 1922 a Câmara de Valongo resolveu enviar um telegrama ao Ministro da Marinha, saudando os heroicos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral e a Marinha Portuguesa pela viagem aérea Lisboa – Rio de Janeiro. E no mês seguinte (22 de junho de 1922), o Presidente da Junta de Freguesia de Valongo propôs e a Junta aprovou um voto de regozijo e alegria pelo triunfo da chegada dos heroicos aviadores portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral ao Rio de Janeiro.

    Ainda em junho de 1922, a pedido do Vice-Presidente da Comissão Executiva da Câmara de Valongo, Luciano Moura (pensa-se que a sua fábrica de brinquedos chegou a produzir, em folha de flandres, o tipo de avião usado por estes pilotos), o presidente da Junta de Freguesia de Alfena, António de Castro Moutinho e Neves, passa a integrar a Comissão para angariar fundos para a compra de um hidroavião do distrito do Porto a oferecer aos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

    O Almirante Gago Coutinho e o Capitão-de-Fragata Sacadura Cabral têm os seus nomes em ruas de Ermesinde, Alfena e Campo.

    Ermesinde associou-se às homenagens prestadas a estes intrépidos aviadores, ainda a sua viagem estava longe de se concluir. Assim, o Presidente da Junta da Freguesia, José Antero de Sá, na sessão de 30 de abril de 1922, usou da palavra para enaltecer o brilhante feito dos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral, «que acabam de empreender o maior raid aéreo até hoje imaginado pelo que são dignos de registo e admiração de todos os portugueses (...) e tanto assim que a Patria os coloca entre os seus filhos beneméritos (...), propõe que a Junta se associe aos festejos populares, promovendo igualmente festejos nesta freguesia, e que do cofre desta Junta se abra a respectiva subscrição com a quantia de 100$00» (Livro de Atas da Junta da Freguesia de Ermesinde, ano de 1922, fls. 11v. e 12).

    Na sua passagem pela Estação Ferroviária de Ermesinde, no dia 7 de dezembro de 1922,

    (...)

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    Por: Manuel Augusto Dias

     

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