Conceição Pereira faleceu aos 90 anos
|
MANUEL DA CONCEIÇÃO PEREIRA (ÁGUA LONGA, 1927 - ERMESINDE, 2018) |
Às 15h15m do passado dia 11 de agosto de 2018, com 90 anos de idade, faleceu, após doença prolongada, que se agravou os últimos três anos, Manuel da Conceição Pereira, que Ermesinde bem conheceu por ter sido colaborador, redator e diretor do jornal "A Voz de Ermesinde" durante várias décadas e por ter sido fundador e dirigente de várias coletividades ermesindenses.
O seu corpo esteve em câmara ardente, entre 11 e 13 de agosto, na Capela Mortuária Central da Igreja da Matriz de Ermesinde, tendo-se realizado as cerimónias fúnebres no dia seguinte.
Efetivamente, no dia 13 de agosto de 2018, Manuel da Conceição Pereira foi a enterrar no Cemitério n.º 1 de Ermesinde, em jazigo da família. Nas cerimónias fúnebres que tiveram lugar na Igreja Matriz e foram presididas, a partir das 10h30m, pelo Cónego João da Silva Peixoto, pároco de Ermesinde, participou grande número de familiares e amigos, bem como os mais altos representantes das autarquias locais, Junta de Freguesia de Ermesinde (Presidente, João Morgado e vários elementos do executivo) e Câmara Municipal de Valongo (Vice-presidente, Eng.ª Ana Maria) e das instituições e coletividades de Ermesinde, nomeadamente Ermesinde Sport Clube 1936 (Presidente da Direção), Associação Académica Cultural de Ermesinde (Presidente da Direção), Ágorarte (Vice-presidente da Direção), Centro Social de Ermesinde (Elementos da Direção), jornal "A Voz de Ermesinde" (Diretor) e, entre outros, também a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde (Elementos da Direção).
O jornal "A Voz de Ermesinde", que teve no finado um dos seus maiores arautos, jornalista, redator e diretor, sofreu também esta enorme perda como sua e sentiu-se muito honrado com o convite da família ao Diretor para pegar na urna no momento de conduzir Conceição Pereira à sua última morada.
Homem de bom trato, da cultura, das letras, excelente comunicador e de ação que se bateu sempre pelo progresso e prosperidade de Ermesinde, sua terra de adoção, Conceição Pereira permanecerá, por certo eternamente, na memória de com quem com ele privou mais de perto.
Durante as palavras que proferiu o celebrante não deixou de notar a curiosidade do nome completo de Conceição Pereira, integrar os de "Imaculada Conceição" como se quem lhe pôs o nome o quisesse entregar à proteção de Nossa Senhora que é Padroeira e Rainha de Portugal, precisamente com a invocação de "Imaculada Conceição".
CURTO APONTAMENTO BIOGRÁFICO
|
CONCEIÇÃO PEREIRA NUMA VISITA REALIZADA AO STAND D' A VOZ DE ERMESINDE NO DECORRER DA EDIÇÃO DE 2007 DA FEIRA DO LIVRO DO CONCELHO DE VALONGO |
Manuel da Imaculada Conceição Moreira Pereira, de seu nome completo, nasceu em 29 de novembro de 1927, na freguesia de Água Longa, concelho de Santo Tirso. Aí fez a instrução primária. Depois de concluído o Curso Secundário iniciou a profissão de gravador-químico, no Porto. Ingressou, a seguir no Exército Português, como Sargento Miliciano, prestando serviço em Queluz e Penafiel. No dia 8 de abril de 1956, casou, em Ermesinde, com a Sr.ª D.ª Maria Amélia Martins da Silva, passando, pouco tempo depois, a residir em S. Paio - Ermesinde.
Findo o serviço militar, entrou para O Comércio do Porto, onde, nos seus cerca de 40 anos de bom serviço, chegou a exercer lugares de chefia. Cumulativamente, dedicou-se ao ensino, tendo iniciado a carreira docente na Escola Preparatória de Ermesinde, feito estágio na Escola Carneiro Pacheco (Trofa), e terminado na Escola Básica e Secundária de S. Mamede Infesta.
Prestigiado jornalista, deu vida durante muitos anos a A Voz de Ermesinde, de que foi Redator, Chefe de Redação e Diretor. Colaborou, em vários jornais nacionais e estrangeiros, nomeadamente Voz de Portugal (Rio de Janeiro - Brasil), O Emigrante e Voz de Portugal (Venezuela), Gazeta do Sul, Ecos de Portugal, O Penafidelense, O Tempo, Diário do Sul, Voz da Trofa e Ecos do Marco.
Ainda no campo cultural, Manuel da Conceição Pereira é autor de várias publicações em verso - Flores de Primavera (1966), Flores de Outono (1968; esta obra mereceu uma distinção do S.N.I.) e Canções do Entardecer (1995), e em prosa - Diário do Meu Filho (1995), Água Longa - Esboço Monográfico (1997), Viagens no Tempo (2001) e em coautoria com Manuel Augusto Dias, Ermesinde / Registos Monográficos, 2 volumes (2001). Venceu alguns primeiros prémios em concursos de poesia e integrou o Júri de vários concursos de Jogos Florais. Foi sócio efetivo da Associação de Jornalistas e Homens de Letras.
No campo desportivo e associativo, foi Fundador e Presidente da Direção das seguintes coletividades: S. Julião e Agrela Sport Clube, Grupo Columbófilo Asas de Água Longa, Água Longa Sport Clube, Grupo Desportivo de O Comércio do Porto e Grupo Desportivo da Casa do Povo de Ermesinde. Foi ainda Presidente do Estrelas de S. Paio Futebol Clube e da União Columbófila Vencedores de Ermesinde; Presidente e Tesoureiro do Sindicato das Artes Gráficas do Porto; Diretor e Fundador do Centro de Recreio e Convívio dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde (de que foi também Secretário de Direção), do Centro de Recreio Popular de Água Longa, da Feira Popular de Ermesinde, do Rancho Folclórico de Ermesinde; e dirigente do Grupo Teatral e Beneficente Flor de S. Paio. Colaborou com o Centro Social de Ermesinde em várias valências, nomeadamente no Rancho Folclórico de Ermesinde.
Na vida política foi, vários anos, membro da Assembleia de Freguesia de Ermesinde.
O seu dinamismo cultural, associativo e recreativo está na origem da homenagem pública que lhe foi feita pela Câmara Municipal de Valongo, no dia 10 de junho de 1997.
ELOGIADO HÁ 55 ANOS
As suas qualidades como jornalista e, neste caso particular, como colaborador do jornal "A Voz de Ermesinde" cedo se manifestaram levando um colaborador deste jornal, Serafim Gesta, a escrever um artigo elogioso a seu respeito, ainda no tempo do 1.º diretor do jornal, Manuel Ribeiro, com o seguinte título: "Perfil de um Colaborador / - Falando de Manuel da Conceição Pereira". Foi publicado no número 65, datado de maio de 1963, nas páginas 1 (com foto) e 2, tinha Conceição Pereira 35 anos. É da página 2 que transcrevemos a seguinte passagem:
"Tenho na minha frente (como acontece sempre!) jornais, revistas, livros, etc. Jornais sem Cinema, sem materialismos. Jornais que são feitos para bem dum povo, duma terra e, sobretudo, para bem de uma Obra. Jornais que não falam de escândalos, de boxe, nem de bagatelas. Jornais que propagam o bem, para bem de todos. Um jornal apenas que simboliza um bom jornal!...
Tenho um, nas minhas mãos. Um, datado de Dezembro de 1958.
Um jornal acontece, por vezes, não ser nada e ser tudo para nós... e este jornal contêm dois factos que me fizeram meditar: a imortalidade do Padre Américo e um nome: Manuel da Conceição Pereira.
Falava esse colaborador do jornal, da falta de caridade e a certo ponto acentua: "Um vale, pelo facto de ser fecundo e viçoso, mostrando fertilidade de flores, arrogância e poderio, variedade de paisagens, não tem o direito de esmagar com a sua imponência o pobre, regato que corre manso a seus pés, talvez escondendo no seio das suas águas alguma lágrima furtiva, sinónimo de angústia, de dor e melancolia". São tão palpitantes e esclarecedoras as suas anotações sobre a infundada validade dos caprichos insensatos para com os desprotegidos da sorte que, somos atirados sobre a complexidade do problema, pela sua mão firme e concretamente subtil!... e, desde esse dia, comecei, a edificar o historial resumido desse Homem do Centro de Assistência Social de Ermesinde.
Por certo que nenhum ermesindense desconhece a sua árdua tarefa em prol do Jornal de Ermesinde e do Centro; creio, até, que toda a gente o reconhece como esteio, baluarte firme-gigante até!-, atestando a sua abnegação e o seu sacrifício em cada presença imprescindível, como também útil! E por tal motivo, por notar que todos os que o rodeiam o acarinham e enaltecem, demonstrando sincera admiração pela sua obra, eu foco, hoje, o seu nome. Foco-o, (não para o trazer a lume, para o encimar, para o glorificar, nada disso!), foco-o sim, porque-sei-o bem!-esse Homem não gosta de excêntricas referências e apenas pretendeu (e pretende ainda) fazer do jornal um órgão de informação e cultura com o máximo de seriedade e beleza jornalística. E, porque a sua interferência, nos assuntos do Centro tem sido preciosa, tão expressiva na sua dignidade; por a sua colaboração ser precisa-absolutamente necessária-tenho a certeza de que a Direcção do Centro de Assistência Social de Ermesinde congratular-se-á (aliando-se a esta prova de amizade) com a publicação deste meu apontamento, já que ele-o MANUEL DA CONCEIÇÃO PEREIRA-como redactor do jornal-distinto redactor-terá de ter a problemática decisão de concordar com tal...
Peçamos-lhe que continue, que ao seu esforço gigante (quem o duvida?) junte a tenacidade do seu brio de lutador inconformado, para bem de Ermesinde!
Continue, porque lutar por um ideal melhor e mais alto não enxovalha nem desprestigia. Pelo contrário. Eleva, guindando-nos para Deus! E Você tem feito isso e continuará a fazer! Por reconhecermos isto tudo, eu digo-lhe, em nome dos colaboradores do jornal, dos dirigentes do Centro e, até, em nome dos pobrezinhos e do povo de Ermesinde: Muito e muito obrigado! / Serafim Gesta".
Por:
Manuel Augusto Dias
|