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    Arquivo: Edição de 15-07-2005

    SECÇÃO: Editorial


    foto

    Árvore a árvore se faz a floresta

    Do pinhão, que um pé-de-vento arrancou

    da pinha-mãe, e da bolota , que a ave

    deixou cair no solo, repetido o acto mil

    vezes, gerou-se a floresta.

    Aquilino Ribeiro (1)

    FOTO MANUEL LORA
    FOTO MANUEL LORA
    Esta imagem de semente aqui semente ali, que transforma a natureza em belas florestas, desde as grandes árvores às minúsculas plantas, onde vivem centenas de animais em perfeita harmonia, em que o atrevimento de a penetrar me obriga a um silêncio voluntário que me dá uma paz de espírito, que me enche a alma e me incita a viver e a lutar no dia a dia. É aí que ouço o silêncio e os seus conselhos, sempre presentes na minha vida.

    Tal como a semente que caiu aqui e ali e formou a floresta, acredito sinceramente que os grandes problemas se resolvem decompondo-os em pequenos problemas onde cada um de nós pode participar na sua resolução.

    Só assim a vida tem sentido para a maioria dos cidadãos, ou então, éramos todos génios ou deuses...

    Porque tenho pela natureza o máximo dos respeitos é com muita tristeza e até revolta que assisto ao desaparecimento de hectares e hectares de floresta.

    Já não é novidade para ninguém, o tempo aquece e aí estão os fogos.

    Será uma fatalidade? Teremos de conviver todos os anos com esta situação ou haverá soluções?

    Num recente livro de António Campos, o autor considera: «… existe em Portugal uma incapacidade de reflexão sobre o fenómeno dos incêndios…», e conclui que os bombeiros são o último recurso da protecção da floresta, ou seja, tudo tem que estar programado e organizado antes de ser necessária a sua actuação. Em parte tem razão, é necessária essa reflexão e essa preparação, só que ela devia ter começado há muito tempo e agora temos de combater nas duas frentes, organizar a nossa floresta, mas dar respostas concretas no dia a dia e aí, os bombeiros, as autarquias, os guardas florestais, as populações, têm um papel fundamental no combate e prevenção dos fogos.

    Ao contrário do que acontece no resto da Europa, em Portugal o Estado é apenas um pequeno proprietário da floresta, essa situação torna mais complexa a organização da floresta em termos de plantio, escolha das espécies mais apropriadas para os solos e no consumo de água, na limpeza e renovação das espécies, na vigilância e limpezas dos terrenos, na criação de acessos e formação de pessoal que conheça as respectivas zonas, espécies e recursos de água.

    Mas neste país é o próprio Estado a deixar a floresta ao abandono, e quantas vezes não são as próprias Câmaras Municipais a utilizar a floresta para lixeiras e aterros de toda a espécie. Não estou a falar de cor, conheço de perto essas situações.

    Mas porque a floresta me dá força para lutar eis “Um modelo para a gestão da floresta”:

    Aparelhei o barco da ilusão

    E reforcei a fé de marinheiro

    Era longe o meu sonho, e

    Traiçoeiro

    O mar…

    Só nos é concedida

    Esta vida

    Que temos;

    E é nela que é preciso

    Procurar

    O velho paraíso

    Que perdemos

    Miguel Torga (2)

    (1) e (2) Citados por António Campos no Livro “Agricultura, Alimentação e Saúde”.

    E porque há vidas como árvores, duma verticalidade e dureza, capazes de procurar a água que as alimenta nos lugares mais agrestes, numa luta pela sobrevivência de ideias em que acreditam e pelas quais lutam, não posso deixar de lembrar neste momento, com respeito e admiração, a figura de Emídio Guerreiro. Tal como o carvalho que existe junto à minha casa, centenário, com mil braços que me protegem do sol e para o qual todos os dias olho e agradeço este dom. Também de Emídio Guerreiro eu quero recordar aquela figura de lucidez de homem que morre de pé… como as árvores.

    Por: Fernanda Lage

     

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