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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 31-10-2023

    SECÇÃO: Ciência


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    A nossa perspetiva do tempo

    Este mês temos o prazer de trazer, uma vez mais, a este espaço um (excelente) texto do professor Galopim de Carvalho.

    Como em muitas outras coisas da vida, a nossa perspetiva individual enquanto indivíduo único influencia a nossa perceção de espaço e de tempo. Deste modo, não é novidade que para nós é difícil imaginar eventos e acontecimentos da vida do nosso planeta que já se passaram há milhões de anos. Temos, muitas vezes, uma perceção errónea do tempo da Terra principalmente devido à nossa escala de tempo pessoal limitada e à nossa tendência natural de pensar em termos de experiências humanas imediatas. Existem várias razões para essa discrepância na compreensão do tempo geológico como a nossa Escala de Tempo Pessoal. O nosso tempo médio de vida é relativamente curto em comparação com a escala de tempo geológico. Vivemos, em média, apenas algumas décadas, enquanto os eventos geológicos e evolutivos se estendem por milhões de anos. A Escala de Tempo Histórica também deve ser mencionada. A história registada da humanidade é uma fração muito pequena da história da Terra. A maioria dos eventos históricos, como impérios antigos e conquistas militares, ocorreu em uma escala de tempo que parece substancial para nós, mas é insignificante quando comparada aos milhões de anos de evolução da Terra.

    Outros fatores para não termos uma perspetiva correta do tempo podem ser considerados. Embora os fósseis forneçam uma janela para o passado, eles representam apenas uma pequena amostra das espécies que já existiram na Terra. Muitas espécies não deixaram vestígios fossilizados, e os registros fósseis podem ter brechas e ser incompletos, tornando difícil entender a diversidade da vida ao longo do tempo. Também a noção de milhões ou milhares de milhões de anos é abstrata e desafiadora de conceber para a mente humana. O tempo geológico está além da nossa experiência direta, e é difícil visualizar ou imaginar uma escala de tempo tão vasta.

    Embora seja desafiador compreender plenamente o tempo geológico, a ciência da geologia e a datação por radiometria proporcionam-nos ferramentas para quantificar e entender melhor a história da Terra. É importante reconhecer que a escala de tempo geológico é uma parte crucial da compreensão de como o nosso planeta evoluiu e como a vida se desenvolveu ao longo de eras geológicas, e essa apreciação ajuda-nos a contextualizar a nossa breve presença na história da Terra.

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    UM MILHÃO DE ANOS, UMA MIGALHA NO TEMPO DA TERRA

    No dia-a-dia, o tempo mede-se em horas, minutos e segundos nos mostradores dos nossos relógios de pulso. Na História, mede-se em anos, séculos e milénios, usando, para tal, pergaminhos e outros documentos com significado cronológico. Na Pré-história faz-se outro tanto com base em objectos vários e fala-se de milhares e, nalguns casos, de milhões de anos.

    A escala do tempo dilata-se ao historiarmos o passado geológico e ainda mais se recuarmos aos começos do Sistema Solar e do Universo, onde os milhares de milhões de anos marcam as etapas percorridas com uma imprecisão que se esfuma nessa “eternidade”. Mil milhões de anos a mais ou a menos nos primórdios da matéria de que somos feitos representam o mesmo grau de imprecisão do milhão de anos a mais ou a menos no tempo dos dinossáurios, do mais ou menos um ano na história do velho Egipto, ou do mais dia - menos dia, mais minuto - menos minuto, no tempo que estamos a viver.

    (…) Na perspectiva de tempo relativo procura-se saber se um dado evento ocorreu antes, depois ou em simultâneo com outro, isto é, se lhe foi anterior, posterior ou contemporâneo. De há muito que as relações geométricas, observáveis no terreno, entre os diversos corpos rochosos aflorantes, têm sido utilizadas no estabelecimento da ordenação cronológica dos acontecimentos geológicos de que são testemunhos. Uma tal ordenação é particularmente evidente nas rochas estratificadas, nas quais os estratos ou camadas se sucedem numa imediata sugestão de sequência no tempo. Tal ordenação é a mesma patenteada numa pilha de papéis na secretária de um burocrata. A relação entre o empilhamento dos estratos rochosos e o curso do tempo chamou a atenção do dinamarquês Nicolau Steno, no século XVII, constituindo uma das primeiras ideias fundamentais da geologia, conhecida por Princípio da Sobreposição, segundo o qual, numa sequência estratificada não deformada, qualquer camada é mais moderna do que as que lhe ficam por baixo e mais antiga do que as que se lhe sobrepõem. Evidente à luz dos conhecimentos actuais, este princípio representa um avanço notável para a época em que foi enunciado. Nele se relacionam, pela primeira vez, as rochas estratificadas com o processo de deposição progressiva dos sedimentos que as integram, a que corresponde uma ideia de sucessão no tempo.

    Como marcos cronológicos, também os fósseis, escalonados na cadeia evolutiva da biodiversidade, nos permitem uma abordagem do tempo relativo. No que se refere à evolução biológica, desde há muito que se constatou, através dos fósseis, que as espécies animais e vegetais do passado foram surgindo ao longo da história da Terra, se mantiveram durante períodos mais ou menos longos, acabando, quase sempre, por se extinguir, não voltando a aparecer.

    Leonardo da Vinci (1452-1519) foi o primeiro a reconhecer os fósseis como testemunhos de outras vidas em épocas passadas. Até então e mesmo depois dele, os fósseis eram vistos como caprichos da natureza. Só no século XVIII se estabeleceu definitivamente a sua interpretação como restos de seres vivos do passado.

    Os fósseis representam, assim, elos de uma cadeia de complexidade crescente. Neste entendimento, e graças ao muito trabalho dos paleontólogos, sabemos, por exemplo, que as camadas de rochas sedimentares com fósseis de trilobites são mais antigas (Paleozóico) do que as que conservam ossadas de dinossáurios (Mesozóico) e que estas, por sua vez, são anteriores às que serviram de jazida aos mamutes ou aos australopitecos (Cenozóico), nossos avós. Este raciocínio, aqui exemplificado para grandes intervalos de tempo, ao nível das eras geológicas, faz-se correntemente para intervalos mais curtos, como são os representados pelos sistemas (períodos), séries (épocas), andares (idades), subandares e outros ainda mais reduzidos. O mesmo tipo de conhecimentos habilita-nos a considerar geologicamente contemporâneas todas as rochas que, em quaisquer lugares, contenham os mesmos fósseis. Aplicável a muitíssimas espécies fósseis conhecidas, estes raciocínios têm vindo, a partir do século XIX, a permitir escalonar no tempo o conjunto das

    (...)

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    A.M. Galopim de Carvalho (geólogo)

    Associação Portuguesa de Imprensa»

    Por: Luís Dias

     

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