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Edição de 30-04-2024
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    Arquivo: Edição de 30-06-2023

    SECÇÃO: Editorial


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    Excentricidades

    Este mês de junho fica marcado pela trágica consequência das excentricidades de alguns.

    Refiro-me, claro está, ao acidente do submersível Titan, que juntou 5 mortes, às cerca de 1500 que há 111 anos, viajavam no Titanic, em 15 de abril de 1912, quando naufragou.

    O último “mergulho” do Titan ocorreu no domingo, dia 18 de junho, e tornou-se notícia mundial a partir do momento em que deixou de haver comunicação com a superfície, supondo-se o pior, que viria a confirmar-se quinta-feira, dia 22 de junho.

    Esta notícia destronou o acontecimento que antes abria todos os noticiários, e que também estava relacionado com mortes no mar: o naufrágio de um barco de pesca, na Grécia, que trazia a bordo cerca de 700 migrantes, a partir do norte de África e de que alegadamente terão sido salvas apenas pouco mais de 100 pessoas, o que equivale a dizer que terão morrido cerca de 600 pessoas, 120 vezes mais do que no Titan.

    E todos aqueles que viajaram para a morte, em ambos os casos, tinham custeado a sua derradeira viagem, os do Mediterrâneo pagaram pelo menos 5 mil dólares (alguns, se calhar, recorrendo a mais uma dívida) aos traficantes, os do Atlântico Norte, 50 vezes mais, 250 mil dólares, retirados das suas fortunas pessoais.

    Os motivos por que viajavam é que eram dramaticamente diversos: os primeiros viajavam à desesperada procura de uma vida melhor, com o sonho de um emprego na Europa, mais bem remunerado do que no seu país de origem (metade destes migrantes seria de origem paquistanesa), enquanto os segundos, se podiam dar à extravagância de gastar uma fortuna só para irem ver os restos do naufragado Titanic.

    As razões para o desfecho mortal num caso e noutro também são similares: os meios de transporte revelaram-se frágeis: o barco que transportava as 7 centenas de migrantes era um barco de pesca, completamente inapto para o transporte de tanta gente, ao passo que o submersível, apesar do que diziam os seus proprietários, se revelou incapaz de aguentar a pressão que, no sítio onde implodiu, é centenas de vezes superior à da superfície, o que terá provocado aquilo que foi denominado como “implosão catastrófica” que desfez o submersível e as 5 vidas que continha: a do piloto (que era o CEO da “OceanGate Expeditions”, que era responsável pela organização) e a dos 4 passageiros: um empresário aventureiro britânico, um mergulhador e um empresário paquistanês com o filho.

    A opção por este assunto no editorial deste mês tem a ver sobretudo com uma reflexão que é preciso fazer e que não é mais do que uma constatação que acontece também a outros níveis e que se vem repetindo inúmeras vezes, praticamente em todas as latitudes e longitudes, ao longo dos tempos, deste nosso planeta: uns homens são muito mais importantes que os outros, e assim também as suas vidas. A comunicação social retirou do seu foco, 600 vidas perdidas, para se centrar em 5, que ansiosamente se desejavam localizar para salvar. E muitos países, até europeus, como Portugal, se envolveram diretamente nesta busca, não tendo o mesmo tipo de procedimento relativamente ao naufrágio do Mediterrâneo.

    Adianta pouco dizer que se defende a democracia, a igualdade de direitos, quando este tipo de práticas evidencia uma realidade completamente diferente.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

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