Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 30-04-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 15-12-2022

    SECÇÃO: Crónicas


    foto

    “Como sou um gajo porreiro, não vais a tribunal de guerra. Começaste bem!”

    Já ultrapassa as quatro décadas que menino e moço apanhei o comboio do Porto para Lisboa. Foi em dezembro. Não tão chuvoso como o presente, mas seco e frio. Éramos filhos de muitas mães e de poucas terras. Trajados de macacos de caqui, éramos todos iguais. Fomos recebidos por “Piu-Piu”, por quem já lá estava há uns míseros três meses. Já eram alguém.

    foto
    O dia foi passado num corre-corre de vestir e despir as diversas fardas. Alguém aparecia mal fardado e todo o grupo sofria as consequências. A tarde foi passada na sala de aulas teóricas a preencher papelada. Fiquei sem tabaco. Ao meu pedido de licença para me ausentar para ir comprar o dito cujo recebi “silêncio”. Pensei: Depois do jantar vou comprar. Engano meu. Depois do jantar havia formatura e depois desta, aulas teóricas. O cabo indica-me a mim e mais alguns para as primeiras guardas às “cobertas”. Os nossos dormitórios. Não passavam de uns armazéns, com os beliches. Acompanhados pelo cabo, lá fomos distribuídos e alertados para a importância da missão de guarda. O tempo passa. Passa devagarinho. O maldito vício toma conta da minha mente. Bastava um cigarro!!! Uma beata também servia. Uma barona. Sim uma barona, bolas! Uma simples passa!!!. Comecei a imaginar uma operação. Ora bem… passo pelo edifício do refeitório, sigo junto ao caniçal da pista de lodo, percorro os cento e cinquenta metros, entro pelas traseiras do bar e já está. O Briefing da minha primeira operação anfíbia estava concluído. Agora era executar a dita. Num curto espaço de tempo cheguei ao bar. Entrei. Alguém me pergunta o que estava ali a fazer. Indica-me a caixa e depois o balcão, mas alerta-me: Despacha-te que não podes estar aqui. Corri ao balcão. Um marinheiro olha para mim e afasta-se um pouco e alerta quem estava de serviço: Atende aqui o homem. O companheiro olha para mim. Diabos era o meu cabo. O maço de SG filtro é posto no balcão, mas é logo coberto pela mão do cabo. Sem me encarar diz: Volta para a guarda, que já te levo o tabaco. Corri como um louco. Bolas… bolas… estava feito. De quatro em quatro horas, procedia à rendição da guarda, mas nem se dirigia a mim. Aparece às cinco da manhã. “Como sou um gajo porreiro, não vais a tribunal de guerra. Começaste bem! Vamos dar uma volta.”

    A marchar, faz-me parar no início da pista de combate de lodo. Explica-me todos os obstáculos e ordena: “Agora salta lá para dentro e fica quieto que quero-te contar a minha vida”. Corri e saltei. Fiquei enterrado até à cintura. Passados uns minutos já não sabia se tinha pernas. O frio cortante como facas tinha tomado conta do meu corpo. Ao nascer do sol disserta pelas cores fantásticas do mesmo e manda-me avançar. Não consigo avançar. Se não consegues avançar rasteja, ordena. Faço o mítico salto do fuzileiro. Entra-me lodo pelas narinas. Engulo algum. Não consigo falar nem fechar a boca de tão gelado que estou. No final da pista ordena-me para fazer duas bolas de lodo, pois vou apresentá-las à comunidade. As bolas envolvem-me as mãos. Os dedos (ossos) parece que se estão a rachar. Tenho a sensação de serem canas secas a partir. Não me consigo levantar. Ele e um marinheiro puxam-me pelas presilhas. Que grande cara…ho. Por me teres sujado vais dar duas voltas ao perímetro da escola. Arrasto os pés. Não consigo mexer-me. De regresso à coberta cruzo-me com os pelotões que por solidariedade humana são eles que param, para eu continuar a minha penosa caminhada. Na coberta dirijo-me ao banheiro. Não consigo fechar a mão para abrir o chuveiro. Um companheiro, despe-me e avisa que a água está fria. Abre-me a torneira. A água cai-me no corpo e fumega. Que sensação de conforto. Com o passar dos minutos lá consigo

    (...)

    leia este artigo na íntegra na edição impressa.

    Nota: Desde há algum tempo que o jornal "A Voz de Ermesinde" permite aos seus leitores a opção pela edição digital do jornal. Trata-se de uma opção bastante mais acessível, 6,00 euros por ano, o que dá direito a receber, pontualmente, via e-mail a edição completa (igual à edição impressa, página a página, e diferente do jornal online) em formato PDF. Se esta for a sua escolha, efetue o pagamento (de acordo com as mesmas orientações existentes na assinatura do jornal impresso) e envie para o nosso endereço eletrónico ([email protected]) o nome, o NIF e o seu endereço eletrónico para lhe serem enviadas ao longo do ano, por e-mail, as 12 edições do jornal em PDF.

    Mas se preferir a edição em papel receba comodamente o Jornal em sua casa pelo período de 1 ano (12 números) pela quantia de 12,00 euros.

    Em ambos os casos o NIB para a transferência é o seguinte: 0036 0090 99100069476 62

    Posteriormente deverá enviar para o nosso endereço eletrónico ([email protected]) o comprovativo de pagamento, o seu nome, a sua morada e o NIF.

    Por: Manuel Fernandes

     

    Outras Notícias

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].