Subscrever RSS Subscrever RSS
Edição de 31-03-2024
  • Edição Actual
  • Jornal Online

    Arquivo: Edição de 30-09-2022

    SECÇÃO: Crónicas


    foto

    «Há quanto tempo que já não vens à vindima?»

    Puxei do banco de madeira e sentei-me à mesa. Uma toalha de um branco imaculado cobre o seu tampo. A um canto daquela divisão, dita cozinha, armazém, adega, crepita o lume que consome aqueles cavacos de madeira diversa. O fogo queima as paredes que já foram brancas, o fumo sobe mais alto, escapando por entre as junções das telhas. Não, não há chaminé e também não é precisa. As panelas de três pés, ditas potes, estão ao lume com batatas e bacalhau, que será o nosso repasto.

    Há quanto tempo que já não vens à vindima? alguém perguntou. Recuei no tempo. No tempo em que as abas das serras do Douro de tanta vinha terem, mais pareciam um jardim. Dias antes eram lavados os baldes de latão, para se porem dentro dos cestos vindimos de madeira rachada, para não se desperdiçar o mosto das uvas. Alguns ainda estavam nas mãos do cesteiro que procedia a pequenos arranjos. Os rapazes mais velhos e os homens faziam ou reparavam as trouxas. Estas tinham que ter a medida exata de quem a traria, pois nela é que os cestos assentavam. Rolo feito de caniços e era apoiado na parte superior do dorso e suspenso na testa.

    De madrugada lá se ia para a vinha seguindo o capataz. As mulheres para o corte dos cachos, os petizes até aos dez, doze anos, para acartarem os baldes cheios de uvas, os homens nos cestos vindimos, com cinquenta ou sessenta quilos ou mais de uvas, pelas arribas dos socalcos até ao transporte que as levaria em tinas para as adegas. O preço diário a receber não o sabíamos. Este seria ditado pelas grandes quintas no final da campanha. Por volta das oito horas da manhã alguém gritava “já lá vem o almoço”.

    O reboliço cessava. As mãos eram limpas nas pernas das calças, ficando ainda em pior estado. Deixavam um pouco do açúcar e levam o muito pó que elas tinham. Batatas cozidas com bacalhau, regadas com o bom azeite ou massa de frango regado com o néctar do ano anterior. Uma benesse dos homens dos cestos é que tinham vinho à descrição. O certo é que ninguém tombava. Era dado o sinal do término da refeição e voltava o rebuliço, os cantares, os ralhos aos petizes por se atrasarem na recolha dos baldes. Os rapazolas só estavam à espera da noite. Na quinta do Douro estava uma grande roga vinda de Amarante ou Celorico, com cachopas bem giras.

    foto
    Ao final do dia, um banho rápido no rio e toca a correr para cear, que o bailarico estava próximo. No braço do gira-discos meio fanhoso era posta uma moeda a fazer peso e lá se começava a arrastar o pé. De onde és? O que fazes? Promessas eram feitas de visitas futuras. Infelizmente não cumpridas. Todo o dinheiro ganho era entregue aos progenitores, e deixava-se de o ter para comprar o bilhete do autocarro. Ficava sempre a vã esperança de no ano a seguir nos reencontrarmos. Namoricos poucos ou nenhuns resultaram. Histórias contadas e parodiadas nas “Pousas” dos lagares pelas noites fora até ao raiar do sol a pisar as uvas. As cantilenas marcavam o ritmo, e porque os lagares eram frios nada como uns golos de bagaço para aquecer.

    Hoje já nada temos. Nem as rogas, nem os bailaricos e muito menos a quantidade de pessoas nas vinhas. Hoje são quatro ou cinco pessoas de idade avançada.

    (...)

    leia este artigo na íntegra na edição impressa.

    Nota: Desde há algum tempo que o jornal "A Voz de Ermesinde" permite aos seus leitores a opção pela edição digital do jornal. Trata-se de uma opção bastante mais acessível, 6,00 euros por ano, o que dá direito a receber, pontualmente, via e-mail a edição completa (igual à edição impressa, página a página, e diferente do jornal online) em formato PDF. Se esta for a sua escolha, efetue o pagamento (de acordo com as mesmas orientações existentes na assinatura do jornal impresso) e envie para o nosso endereço eletrónico ([email protected]) o nome, o NIF e o seu endereço eletrónico para lhe serem enviadas ao longo do ano, por e-mail, as 12 edições do jornal em PDF.

    Mas se preferir a edição em papel receba comodamente o Jornal em sua casa pelo período de 1 ano (12 números) pela quantia de 12,00 euros.

    Em ambos os casos o NIB para a transferência é o seguinte: 0036 0090 99100069476 62

    Posteriormente deverá enviar para o nosso endereço eletrónico ([email protected]) o comprovativo de pagamento, o seu nome, a sua morada e o NIF.

    Por: Manuel Fernandes

     

    Outras Notícias

     

    este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu Este espaço pode ser seu
    © 2005 A Voz de Ermesinde - Produzido por ardina.com, um produto da Dom Digital.
    Comentários sobre o site: [email protected].