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Edição de 31-03-2024
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    Arquivo: Edição de 30-10-2011

    SECÇÃO: História


    O comboio começou a circular em Portugal há 155 anos!

    É ponto assente que o comboio foi um dos fatores que mais contribuiu para o progresso e crescimento de Ermesinde, desde o último quartel do século XIX, quando até aqui foram construídas, lado a lado, as linhas do Minho e do Douro. Só a partir de Ermesinde, o seu itinerário se separa, seguindo a do Minho rumo a norte, enquanto que a do Douro curva, quase 90 graus, para nascente, em direção a Valongo e Penafiel. Estranha-se hoje, que uma estação com tal importância e que há anos levou o poder central a investir milhões de euros na construção da sua estação, não obrigue as composições do Intercidades a pararem aqui, sujeitando os passageiros que para aqui querem circular a terem de sair em Porto-Campanhã, quando o comboio tem de passar em Ermesinde.

    A bonita ponte da Travagem, sob a linha do Minho
    A bonita ponte da Travagem, sob a linha do Minho
    O comboio fez a sua estreia em Portugal no dia 28 de outubro de 1856, fez há dois dias precisamente 155 anos, e era uma importante promessa de desenvolvimento de Portugal, garantindo rápidas ligações de pessoas e mercadorias, entre o Norte e o Sul, o Litoral e o Interior. Fontes Pereira de Melo, como ministro das Obras Públicas, foi o grande timoneiro da modernização das vias rodoviárias e do arranque do caminho de ferro no nosso país, considerado condição sine qua non para a industrialização do Reino.

    UMA TERRA

    PRIVILEGIADA

    Ermesinde, no que às infraestruturas ferroviárias diz respeito, foi uma terra que podemos considerar privilegiada, uma vez que, desde o último quartel do século XIX, passou a ser servida por duas linhas, bastante importantes na ligação da capital do Norte com o Minho (e ligação a Espanha – Linha do Minho) e com Trás-os-Montes (e também com a Espanha, hoje esta ligação já se encontra desativada – Linha do Douro).

    A Linha do Minho foi a primeira a ser inaugurada, no dia 20 de maio de 1875. Foi dia de uma enorme festa, com bandas de música, discursos e foguetes. O povo sabia bem o quanto representava o caminho de ferro, para a valorização das suas terras, e das respetivas produções que, a partir de então, poderiam socorrer-se daquele excelente e rápido meio de transporte, para chegarem ao Porto e vice-versa.

    A Linha do Douro, entre Ermesinde e Penafiel, foi inaugurada dois meses mais tarde, mais concretamente no dia 29 de julho de 1875, mas sem a pompa e luzimento que caracterizaram a inauguração da linha do Minho.

    Muitas terras pelo país fora reivindicaram também a construção de linhas férreas mas, condicionalismos de ordem financeira, inviabilizaram a sua concretização. Mesmo assim, foram construídas várias linhas (largas e estreitas) centenas e centenas de quilómetros de carris que, entretanto, com a expansão do transporte rodoviário (automóveis, camiões e autocarros), foram sendo paulatinamente abandonados. O facto é tanto mais constrangedor quando se sabe que o comboio é o melhor, mais eficaz e menos poluidor (referimo-nos, obviamente, ao comboio elétrico) dos meios de transporte urbanos e semi-urbanos.

    A PRIMEIRA LINHA

    FÉRREA PORTUGUESA

    A linha do Douro, em Ermesinde, próxima da Estação
    A linha do Douro, em Ermesinde, próxima da Estação
    Mas voltemos à história do 1.º comboio português.

    31 anos antes (1825), construir-se-ia a primeira linha-férrea em Inglaterra, país da Revolução Industrial e da ideia do transporte ferroviário. Defendeu-se, desde logo, a sua introdução em Portugal, como meio de modernizar o país. Vários projetos surgiriam, mas a instabilidade política das insurreições liberais e absolutistas, não permitiram a sua concretização.

    Em outubro de 1845, seriam publicadas as bases para a construção de caminhos de ferro em Portugal, que, no entanto, não teriam qualquer resultado prático.

    Só depois do triunfo do movimento da Regeneração, em 1851, seriam criadas as necessárias condições de estabilidade política, para o surgimento do fontismo e da criação das infraestruturas necessárias ao definitivo desenvolvimento.

    As obras do 1.º troço da 1ª linha-férrea portuguesa começaram em 1853, a cargo da Companhia Central e Peninsular dos Caminhos de Ferro em Portugal, sob a supervisão de uma companhia inglesa, e demorariam 3 anos. No dia 24 de agosto de 1856 o rei D. Pedro V, visitou as obras, já em fase de acabamento, mas em Alverca ainda havia irregularidades.

    A inauguração ocorreria dois meses depois, concretamente na manhã do dia 28 de outubro de 1856, entre Lisboa e o Carregado. O novo meio de transporte compunha-se de duas locomotivas (a “Portugal” e a “Coimbra”) e dezasseis carruagens. O trajeto a percorrer era de 36,5 km e demorou cerca de 40 minutos.

    Maria Isabel Lemos e Roxas Carvalho Meneses de Saint-Léger, que foi Marquesa de Rio Maior e dama da rainha D. Maria Pia, com apenas quinze anos assistiu a esta viagem inaugural. Sobre as impressões então vividas escreveu no seu “Livro de Memórias”, o seguinte:

    «Vou narrar o que me lembra do solene dia da inauguração que, enfim, chegou. Minha mãe não quis ir ao banquete do Carregado. Mas foi comigo, para um cerro fronteiro à estação de Alhandra ver a passagem do comboio (…).

    Finalmente, avistámos ao longe um fumozinho branco, na frente de uma fita escura que lembrava uma serpente a avançar devagarinho. Era o comboio? Quando se aproximou, vimos que trazia menos carruagens do que supúnhamos. Vinha festivamente embandeirado o vagão em que viajava D. Pedro V. O comboio parou um momento na estação, de onde se ergueram girândolas estrondosas de foguetes (…).

    (…) Só no dia seguinte ouvimos meu pai contar as várias peripécias dessa jornada de inauguração. A máquina (…) não tinha força para puxar todas as carruagens que lhe atrelaram; e fora-as largando pelo caminho. Creio que se o Carregado fosse mais longe e a manter-se uma tal proporção, chegava lá a máquina sozinha ou parte dela (…).

    Meu pai passou para a carruagem real, na qual chegou ao Carregado, onde assistiu aos festejos e comeu lautamente, porque o banquete era farto. (…)»

    No dia seguinte, celebrava-se o aniversário de D. Fernando e a nova linha seria aberta à exploração, com duas viagens diárias de ida e volta, cujo preço (ida e volta) era o seguinte: 1.ª classe – 700 réis; 2.ª classe – 560 réis; e 3.ª classe – 240 réis.

    Demoraria, no entanto, mais de meio século até ficar praticamente concluída a rede ferroviária nacional.

    Por: Manuel Augusto Dias

     

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