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    Arquivo: Edição de 30-06-2006

    SECÇÃO: Editorial


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    Violência doméstica

    Durante muito tempo pensou-se que ela era fruto de dificuldades económicas, de falta de cultura, e de uma educação básica, de preconceitos machistas que colocavam a mulher numa situação de inferioridade, ao ponto de aceitar a velha frase ”quanto mais me bates mais gosto de ti”, ou então “entre homem e mulher não metas a colher”.

    Hoje sabemos que não é assim, ela está presente em todos os meios sociais e reveste-se de várias formas: física, sexual e psicológica.

    É um problema sério e delicado de abordar e combater, pois as próprias vítimas têm dificuldade em se exporem e muitas delas pensam que é seu dever aguentar, numa perspectiva de obediência e sacrifício da mulher pelo seu cônjugue.

    Mas a violência doméstica não se refere apenas à violência do homem sobre a mulher, ela pode existir da mulher sobre o homem, ou sobre outros familiares que habitam o mesmo espaço.

    Por outro lado, este tipo de violência é cíclica e é caracterizado por uma primeira fase de discussões decorrentes da acumulação de tensão dentro e fora de casa ; uma segunda fase em que em que surge o chamado episódio agudo, com explosão de violência sobre a vítima. Muitas vezes existe uma terceira fase de arrependimento e promessas. Conceição Lavadinho considera que estas fases se vão sucedendo, em espiral, com episódios agudos cada vez mais intensos e com um ciclo cada vez mais curto até que as vítimas deixam de acreditar na mudança prometida e decidem denunciar as agressões de que são vítimas.

    No primeiro trimestre de 2006, a APAV (Associação Portuguesa de Ajuda à Vítima) contabilizou 3 537 queixas oficiais, donde podemos concluir que o número de vítimas é extremamente superior a este. Todos sabemos que existe um grande silêncio em volta destes problemas.

    Numa sociedade em que se é cada vez mais tolerante perante a violência que todos os dias nos entra porta dentro através dos meios de comunicação, há quem pense que a violência doméstica, a violência na rua, nas escolas, não é mais do que a generalização dessa violência geral. Penso que não, a violência doméstica tem características muito específicas.

    Conceição Lavadinho, a psicóloga que coordenou O Plano Nacional Contra a Violência Doméstica defende: «…A violência conjugal está caracterizada, os comportamentos tipificados, e é preciso dar a conhecer os seus efeitos nefastos».

    E continua, acrescentando quais as principais características dos agressores e das vítimas. A conduta do agressor decorre de uma grande falta de confiança e de uma obsessiva dependência à frustração. Por seu lado, a vítima também revela uma fraca auto-estima, o que só reforça a convicção de que não pode ser ajudada nem conseguirá nunca ser independente no plano material.

    Mas não são apenas de carácter material as questões que levam as pessoas a esconder agressões deste tipo, elas passam muitas das vezes por questões sociais, por esconder do resto da família atitudes pouco recomendadas, evitar que os filhos se apercebam, o que é muito difícil, e estes acabam sempre por se envolver.

    Hoje é possível ter ajuda nestas situações e será bom recorrer, pedir apoio, pois duma forma geral são situações incontroláveis e marcam profundamente as pessoas envolvidas e os seus familiares.

    Ainda segundo uma entrevista dada pela psicóloga Conceição Lavadinho, «é preciso fazer prevenção em dois sentidos, primeiro nas famílias, depois nas instituições».

    Para esta psicóloga, é fundamental investir junto das crianças, «ajudando a construir uma boa auto-estima, ensiná-las a esperar, a elaborar o desejo. E isto começa bem cedo».

    Por: Fernanda Lage

     

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