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    Arquivo: Edição de 28-02-2005

    SECÇÃO: Destaque


    ELEIÇÕES LEGISLATIVAS 2005

    Sócrates esmagou Santana

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    Ao reposicionar o PS mais ao centro do espectro eleitoral, José Sócrates criou as condições para capitalizar o descalabro do governo de Santana Lopes, amesquinhando desta maneira o PSD, que apostou tudo numa dicotomia esquerda/direita (ao jeito de Paulo Portas), que se lhe veio a revelar fatal. Sócrates foi o triunfador incontestado das eleições, embora à sua esquerda, CDU e Bloco tenham crescido.

    O resultado das eleições do passado dia 20 de Fevereiro constituiu um tremendo vendaval, que varreu toda a direita do poder, ao mesmo tempo que barrava o passo mais à esquerda, permitindo ao PS ir governar com maioria absoluta.

    É que o eleitorado do PS não foi, liminarmente, o tradicional, tendo o partido capitalizado, sobretudo à sua direita, o descontentamento de várias camadas sociais tradicionalmente apoiantes do PSD e mesmo do PP. Até que ponto ficará o partido cativo desta maioria é o que falta saber.

    A ter em conta, evidentemente, é que as grandes políticas de fundo não se irão alterar, pois PS e PSD defendiam, no fundamental, as mesmas posições quanto às grandes opções estratégicas em discussão na sociedade portuguesa.

    A vitória do PS estendeu--se mesmo a domínios até agora interditos, e mesmo nos distritos em que não ganhou, foram irrisórias as perdas em termos de mandatos (apenas 1 deputado a menos pelo círculo de Leiria em relação ao PSD, e exactamente o mesmo número de mandatos que os social--democratas na Madeira!, enquanto vencia, por exemplo, no recém-baptizado “Laranjaquistão” (círculo de Viseu).

    DESLOCAMENTO DE VOTOS

    Fotos Manuel Valdrez
    Fotos Manuel Valdrez
    Todos os estudos apontam, nestas eleições, para interessantes deslocamentos de votos. Eles verificam-se, a começar, na baixa do nível das abstenções, um movimento ao arrepio do que tem sido constante ao longo dos últimos actos eleitorais.

    Assim, embora o número de abstencionistas continue a ser largamente superior ao de votos expressos no partido mais votado, mesmo com a maioria absoluta deste (uma diferença ainda superior a 500 mil votos!), ele baixou dos cerca de 37,6% em 2002 para os 35,0% agora verificados.

    É líquido que só PSD e PP não tenham ido buscar votos à abstenção, o que até aconteceu com os pequenos partidos não representados no Parlamento, o que dá bem a ideia de se ter tratado,desta vez, de um alargado movimento de voto de protesto.

    Esta baixa do número de abstencionistas terá compensado sobretudo o PS. Mas teria também, embora em muito menor escala, engrossado a votação do BE e da CDU.

    A afluência às urnas, em certos momentos, chegou a provocar um verdadeiro mar de gente, como há muito não se via.
    A afluência às urnas, em certos momentos, chegou a provocar um verdadeiro mar de gente, como há muito não se via.
    A segunda maior fonte de transferência a favor do PS terá sido o próprio PSD, mas até ao PP foi o PS buscar eleitores. O PSD, de resto, terá perdido também para o PP (o que ajudou o resultado de Portas a não ser catastrófico), e até para o Bloco de Esquerda. CDU e Bloco revelaram aliás, capacidades diferentes de atracção em relação a potenciais eleitores vindos de outras forças, com a CDU a capitalizar menos que o Bloco uma aproximação do PS ao centro, a não conseguir penetrar o eleitorado tradicional do centro--direita, como o Bloco conseguiu, e finalmente, a não conseguir progredir no grupo dos novos eleitores.

    O CRESCIMENTO DO BLOCO

    Francisco Louçã foi um dos vencedores de domingo, dia 20. O Bloco quase triplicava o número de deputados.
    Francisco Louçã foi um dos vencedores de domingo, dia 20. O Bloco quase triplicava o número de deputados.

    Os resultados obtidos pelo Bloco de Esquerda nesta circunstância particular de apelo forte ao voto útil para apear a aliança PSD/PP de Santana e Portas do poder, deixam até entrever, em novas eleições, um novo crescimento, já que, com o PS no Governo, este se encontrará muito mais desgastado, sendo previsível ser esta força mais atractiva para um eventual voto de afastamento do PS do que a própria CDU. Acresce que, tendo o Bloco eleito deputados em Lisboa, Porto e Setúbal, e ficado à beira de o conseguir em Aveiro e Braga, é previsível que tal reforce a confiança de eleitores indecisos, que não quereriam antes despediçar o seu voto no Bloco de Esquerda.

    A RESISTÊNCIA DA CDU

    Motivado por uma nova acutilância e uma simpatia do seu novo líder que os comentaristas inicialmente não lhe adivinharam, e embora com o Bloco cada vez mais a morder-lhe os calcanhares, o resultado da CDU foi surpreendente. Pondo fim a anos seguidos de desgaste, comunistas e verdes conseguiram não só crescer em mandatos e percentagem, mas igualmente em número de votos. Até que ponto pode esta retoma ser tomada ou não em conta pelo eleitorado em próximas ocasiões é o que se vai ver. O facto de virem a seguir as eleições autárquicas, e a CDU beneficiar de uma muito maior implantação no terreno do que o Bloco de Esquerda pode ser um factor decisivo na relação futura entre estas duas forças, sobretudo se o PCP, finalmente, se aperceber do que tem por perto (pois até agora sempre o ignorou na sua propaganda pública).

    Outra questão a acompanhar, daqui para a frente, será o desempenho dos eleitos (dois cada um) do PPM e do Partido da Terra, que podem ter como efeito, paradoxalmente, vir a dar uma nova visibilidade ao Partido Ecologista Os Verdes, da CDU.

    AS REACÇÕES DOS LÍDERES

    Se a comemoração de vitória por parte do PS, CDU e BE não merece comentários de maior, já a reacção à derrota, à direita, não pode passar sem um reparo.

    Paulo Portas, ágil, face aos resultados obtidos, de imediato se retirou da liderança do PP, mesmo se esse era um passo calculado.

    Santana não lhe seguiu o exemplo. Querendo ainda impedir o ascenso daqueles que se lhe têm oposto, apenas se limitou, inicialmente, a anunciar que ia convocar o Congresso. Só uns dias depois anunciaria a demissão. De facto, resta-lhe cada vez menos espaço para uma qualquer candidatura nacional.

    Nunca se conseguiu perceber qual o sentido do caminho de Santana Lopes e do PSD. O eleitorado passou ao lado.
    Nunca se conseguiu perceber qual o sentido do caminho de Santana Lopes e do PSD. O eleitorado passou ao lado.
    E há mesmo quem diga que, com este desempenho, ficam por muitos anos, afastadas todas as hipóteses de sucesso da direita populista, por um efeito, digamos assim, de vacina.

    Mas quanto a Paulo Portas, a sua derrota foi claramente mitigada pela forma como soube descolar do PSD e apresentar-se de forma autónoma. A última grande jogada eleitoral de Portas (quase vitoriosa) foi a manobra táctica dos últimos dias antes de ir às urnas. Aparentemente atacando com energia o PS, com quem disputaria eventuais mandatos a decidir por escassos votos, Portas fazia com que o eleitorado de esquerda, aterrado com a possibilidade do PP eleger mais deputados, abandonasse qualquer veleidade de votar Bloco ou CDU, concentrando o seu voto no PS e, assim, impedindo quer o Bloco quer a CDU, de ultrapassarem o PP. Isto terá penalizado mais o Bloco em favor do PS, e se foi o suficiente para manter o partido de Louçã atrás do PP, não bastou para impedir a CDU de se tornar, de novo, na terceira força eleitoral. Mas Portas fez o que podia e o partido sabe-o.

    Por: LC

     

     

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