50 ANOS DO 25 DE ABRIL
A Fita-do-Tempo da Revolução: As movimentações militares na Revolução dos Cravos (11)
SALGUEIRO MAIA CERCA O QUARTEL DO CARM
Era do conhecimento do Posto de Comando que Marcelo Caetano se tinha refugiado no quartel do Carmo, Comando-geral da GNR.
A situação no Terreiro do Paço estava, por assim dizer, resolvida. A fragata, ainda lá fundeada, estava pacífica. O RC7 estava partido. Metade dos carros e tropa apeada que os acompanhava tinha-se passado para o lado dos revoltosos. Os outros dois carros estavam inoperacionais por recusa das suas tripulações em cumprir as ordens de fogo do Brigadeiro Junqueira dos Reis, pelo que mais nada ali havia para fazer.
Assim, o Posto de Comando deu ordem a Salgueiro Maia para se deslocar com o grosso das suas forças para as imediações do Largo do Carmo e cercar o quartel, forçando a rendição de Caetano. Ficaram nos seus objetivos os carros e a tropa que protegiam o Banco de Portugal, a Companhia Portuguesa de Rádio Marconi e 2 carros e respetivas tripulações que haviam, horas antes, ido reforçar o dispositivo de cerco ao Quartel-general da região Militar de Lisboa.
Pelo caminho, Maia ainda recebe reforços. O Regimento de Infantaria 1, da Amadora, mandado para o Rossio pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis para deter a coluna da EPC, adere ao Movimento e coloca-se às ordens de Salgueiro Maia. Mais tarde, o Brigadeiro, quando recebeu “carta branca” para operar como entendesse, desabafou dizendo que “pouco vale a carta branca se a minha tropa se passa toda para o outro lado”.
A subida para o alto do Carmo foi penosa para os veículos blindados. Não só pela estreiteza das ruas, mas também pela multidão que se juntou apoiando os militares. Salgueiro Maia tinha disponibilizado uma viatura militar para transportar os jornalistas aí presentes e esta viatura, apinhada de civis, gerou o pânico em alguns ministros que acompanhavam Marcelo Caetano no seu refúgio, que pensaram ver nesta viatura civis armados.
À chegada ao Largo do Carmo, Maia não viu qualquer força hostil, pelo que não teve dificuldade em montar o seu dispositivo de cerco. E teve a ajuda preciosa dos populares que lhe indicaram os pontos-chave do quartel e abriram janelas e sótãos para a colocação de atiradores. Pouco passava do meio-dia.
Simultaneamente houve uma intervenção falhada do Destacamento de Fuzileiros do Continente para tomar a sede da DGS. Retiraram-se, mas voltariam mais tarde melhor armados e equipados.
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Entretanto, a GNR não fica inativa. São mobilizados alguns esquadrões de Cavalaria e pelotões de Infantaria para procederem ao cerco da tropa de Salgueiro Maia. Mas, curiosamente, as ordens genéricas que recebem é a de não entrar em confronto direto com as tropas do Movimento. Por seu lado, o Brigadeiro Junqueira dos Reis tenta reunir a pouca tropa que lhe resta para cercar Maia. Há um episódio caricato ocorrido entre o Brigadeiro e o comandante do 2.º Esquadrão de Cavalaria da GNR, Capitão Andrade e Sousa. Este apresentara-se ao Brigadeiro para ficar sob as suas ordens. Recebe de imediato a ordem para se deslocar rapidamente para o Largo do Carmo e romper o cerco de Salgueiro Maia ao quartel da GNR. Andrade e Sousa chama a atenção do Brigadeiro que a deslocação não será rápida dado o número de pessoas presentes nas ruas. O Brigadeiro ordena-lhe que avance “nem que seja pelos telhados”, ao que Andrade e Sousa, com o maior dos aprumos, lhe faz a continência e informa o Brigadeiro de que deixava de estar sob a s suas ordens… Tenta o regresso ao quartel, mas não lho é permitido pelo comandante do Regimento de Cavalaria, Coronel Serra Pereira, que altera a ordem do Brigadeiro para “avance o mais rapidamente que puder”. Este esquadrão não chegaria ao Largo do Carmo, pois a população retém-no antes de lá chegar.
Outras unidades da GNR tentam, por sua vez, o cerco. Uma delas, o 1.º Batalhão de Infantaria, comandado pelo Capitão Madureira de Andrade, na sua progressão para o Carmo, foi alvo de disparos dos atiradores da EPC postados no Elevador de Santa Justa, próximo do Largo do Carmo. Não houve baixas, mas o Batalhão deteve a sua marcha. Ficou retido junto à estação da CP do Rossio, completamente isolado do resto “da guerra”.
Ao Posto de Comando chegam as notícias desta tentativa de cerco. Pelo que é dada ordem ao Regimento de Cavalaria 3, de Estremoz, que se dirigia para o Forte da Trafaria, para alterar a missão e dirigir-se de imediato para o Carmo, para apoiar a tropa de Maia.
Esta entrada do Regimento de Cavalaria de Estremoz, com os seus carros de combate, acabou com qualquer tentativa do Brigadeiro Junqueira dos Reis, que abandona a cena. A sua pouca tropa adere ao Movimento. Por seu lado, as forças da GNR que se encontravam no terreno desmobilizam e recolhem aos quarteis. Preciosa ajuda foi o facto de os comandantes de ambos os lados se conhecerem bem, pois tinham sido colegas de curso na Academia Militar.
Marcelo Caetano é informado destes factos, mas oculta-os ao comandante da GNR. De facto, durante toda a jornada de 25 de Abril, Caetano notou o pouco empenho manifestado pelo general Adriano Augusto Pires, comandante-geral da GNR, na mobilização de tropas e oposição ao Movimento.
Pouco passava das 14:30 horas ouvem-se tiros para os lados da Rua António Maria Cardoso, uma das várias artérias que desemboca no Largo do Carmo e onde se situava a Direção Nacional da PIDE-DGS. Agentes desta força de segurança haviam feito
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José Campos Garcia*
*Médico
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