O Inferno na Terra
Mais uma vez vieram os incêndios em força, desta vez nos últimos dias de verão. Má sina que nos atormenta quase todos os anos.
Milhares de hectares da mancha florestal portuguesa passaram a cinza. Arderam casas de habitação, morreram pessoas e animais. Os soldados da paz não tiveram tréguas.
Na penúltima semana de setembro, pelo menos 7 pessoas morreram e mais de 170 ficaram feridas por causa dos incêndios que lavraram no Norte (Grande Porto) e Centro do país (Águeda, Albergaria, Oliveira de Azeméis e Sever do Vouga). Os Bombeiros de Ermesinde também ajudaram a combater estes incêndios, sobretudo no Grande Porto.
Há quem afiance que há agentes e/ou grandes grupos económicos interessados nestas ocorrências incendiárias. Mas, a verdade, é que as forças policiais têm afirmado à comunicação social não terem nada que comprove tal tese, não havendo dúvidas, no entanto, quanto à origem criminosa de muitos destes incêndios, com múltiplas ignições no período noturno.
As pessoas afetadas diretamente (porque, indiretamente, todos nós somos vítimas) viveram dias muito dramáticos.
Tem de haver solução para este flagelo. Uma medida que se me afigura, desde já, inevitável e até urgente, é a existência de pelo menos um corpo de bombeiros profissionais em cada um dos municípios portugueses. A importância das suas funções para a garantia da proteção civil não é compatível com a prestação de serviço voluntário.
É importante que o serviço de vigilância seja delegado nos municípios, que deveriam proteger e fiscalizar a sua área florestal, abrindo arruamentos destinados a acorrer rapidamente a qualquer parte do território, colocar tanques sempre cheios de água em pontos estratégicos, para conseguir apagar qualquer foco de incêndio logo no início; vigiar, 24 horas por dia, sobretudo no tempo quente, todo o espaço do município, recorrendo a drones sempre que possível, a pontos de obsrvação nos sítios mais altos e a patrulhas (feitas por militares e polícias) que pudessem fazer percursos de observção, capazes de diagnosticar um ponto de fogo em qualquer parte.
No penúltimo domingo de setembro, algumas centenas de pessoas, em 13 localidades do país (Arganil, Braga, Castanheira de Pêra, Coimbra, Gouveia, Lisboa, Melres, Odemira, Pedrógão Grande, Porto, Sertã, Torres Novas e Vila Nova de Poiares) manifestaram-se contra os incêndios, contra a plantação intensiva de eucaliptos e contra a falta de investimento na prevenção.
De facto, como escrevia o nosso antigo colaborador António Pena, já em 2012 (“A prevenção é connosco”: Um novo paradigma para os bombeiros do século XXI), é urgente «alterar o conceito de prevenção no sentido da proximidade das populações e da sua permanência ao longo do ano». Essa mudança «implica alterações na missão, na organização e no funcionamento (responsabilidades e atuações), em especial, na proteção civil, bombeiros, câmaras municipais, organização do território e ambiente florestal (…)».
Por cá, terminadas as férias voltamos ao contacto com os leitores para trazermos as notícias do momento, das instituições e coletividades que dão vida à cidade e darmos destaque ao início de um novo ano letivo (2024-2025). Um bom recomeço para todos!
Por:
Manuel Augusto Dias
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