FACTOS DA NOSSA HISTÓRIA (16)
O imediato pós-25 de Abril por cá
Em termos políticos, Ermesinde evidenciou, desde pelo menos o início do século XX, um grande destaque no panorama concelhio. Assim sucedeu no período da Primeira República e no pós-25 de Abril, com uma forte efervescência revolucionária, que exigiu imediatos saneamentos políticos.
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PRIMEIRA PÁGINA D' A VOZ DE ERMESINDE, MAIO DE 1974 |
Não surpreende, pois, que quando aconteceu a Revolução do 25 de Abril de 1974, o presidente da Câmara Municipal, fosse natural de Ermesinde. Trata-se do Dr. José Ribeiro Pereira que foi dirigente de diversas instituições e coletividades locais, nomeadamente do Centro Social de Ermesinde. Foi também diretor do jornal A Voz de Ermesinde. Exercia a sua atividade profissional no Porto, no Instituto do Vinho do Porto. Antes de ser presidente da Câmara, foi presidente da Junta de Freguesia de Ermesinde (1955-1957), tendo sido nomeado, depois, vice-presidente da Câmara Municipal de Valongo (1957-1969). A 1 de fevereiro de 1972 foi nomeado presidente, de que foi exonerado a seu pedido, no dia 14 de junho de 1974, sendo a Câmara dissolvida por portaria datada de 7 de outubro de 1974.
Da nova Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Valongo (a primeira que geriu os destinos do município de Valongo depois do 25 de Abril de 1974), empossada em outubro de 1974, pelo menos duas personalidades eram de Ermesinde: o Eng.º Manuel Augusto Braga Lino (que, mais tarde, pediu a exoneração) e o Eng.º Manuel Joaquim Moreira Moutinho (eleito para a Assembleia Constituinte em 25 de abril de 1975, foi substituído por Manuel Moreira Lamas, em 18 de julho de 1975), José Mário Alves da Rocha e João Moreira Dias.
Mas concentrando a nossa atenção nesta freguesia, recorrendo à “Voz de Ermesinde” e às atas da Junta de Freguesia, o 25 de Abril de 1974 causou grande efervescência associativa e política na região. Na então vila de Ermesinde, maior núcleo urbano do concelho, um grupo de pessoas que se identificava com a recente Revolução, realizou uma reunião no dia 2 de maio de 1974, reivindicando mudanças no executivo da Junta de Freguesia, e nos corpos gerentes das mais importantes associações ermesindenses, nomeadamente, os Bombeiros Voluntários, a Casa do Povo, o Ermesinde Sport Clube e o Clube de Propaganda da Natação.
É o que consta na ata da primeira reunião que o executivo da Junta da Freguesia de Ermesinde realizou após o triunfo da Revolução, no dia 4 de maio de 1974. Este órgão administrativo que estava em exercício há sete anos, era presidido por Joaquim Alves de Oliveira, e, no que se refere aos acontecimentos revolucionários no país e na vila, tomou a seguinte posição:
«1.º Apoiar incondicionalmente as Forças Armadas rendendo-lhe as suas homenagens, bem como à Junta de Salvação Nacional a quem se dirigem com todo o respeito e admiração; […] 5.º Pedimos nos seja relevada a nossa discordância pelo que, numa reunião política, levada a efeito no passado dia 2, nesta Vila de Ermesinde, em que foi sugerida a “Tomada” da Junta de Freguesia, Bombeiros Voluntários de Ermesinde, Clube de Propaganda da Natação, Casa do Povo e Ermesinde Sport Clube, pois embora e como dissemos acima, estamos de absoluto acordo com uma remodelação geral de todos os corpos administrativos, achamos essa atitude penosa e leviana, o que denegride e desrespeita os bons e sábios intentos da Junta de Salvação Nacional […]».
Da parte deste Corpo Administrativo há um apoio inequívoco ao triunfante Movimento das Forças Armadas e à sua Junta de Salvação Nacional, mas, ao mesmo tempo, manifesta-se alguma mágoa pela forma como a Comissão de um grupo de democráticos de Ermesinde terá pretendido controlar, desde logo, a autarquia e algumas das instituições mais importantes da vila.
Quanto ao jornal A Voz de Ermesinde, dirigido por Eduardo da Costa Gaspar, na primeira edição a seguir ao 25 de Abril, com a data de maio de 1974, o próprio diretor escreve, nas primeira e última páginas, o texto intitulado “O Momento Histórico que Atravessamos” de que, a seguir, se transcrevem alguns excertos:
«Todo o país está a passar por um momento de esperança num futuro desanuviado, e, porque Ermesinde é parte de Portugal, também no nosso ambiente se vive intensamente esse clima de euforia. É por isso que “A VOZ DE ERMESINDE” no seu objectivo de pugnar pelo progresso de Ermesinde apela junto dos seus assinantes e leitores para, de mãos dadas, trabalharmos por um Portugal melhor, e, no nosso cantinho, por um Ermesinde renovado.
[…] Em vários escritos meus aparecia a frase “A UNIÃO FAZ A FORÇA”; agora, nessa mesma linha de pensamento, mas parafraseando uma mais moderna expressão do povo, eu direi: “ERMESINDENSES UNIDOS JAMAIS SERÃO VENCIDOS”. Embora possa supor-se que só aos eleitos compete trabalhar por um Portugal novo, aqui deixamos a expressão do nosso sentir, para depois apresentarmos uma conclusão:
[…] O momento tem que ser de ordem, de trabalho, de respeito mútuo. Todos colaboremos com o GOVERNO DA NAÇAO se começarmos por exigir de nós próprios o BOM SENSO. Bom senso. Nas reivindicações - não pedirmos o impossível; bom senso nas afirmações - não fomentarmos os boatos que a ninguém convém nem trazem quaisquer vantagens; bom senso nas acções - não alimentando discórdias, mas trabalhando sempre e cada vez mais por um Portugal melhor».
E, na última página d’A Voz de Ermesinde, neste número de maio de 1974, quase como legenda de uma foto que enche,
(...)
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Por:
Manuel Augusto Dias
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