FACTOS DA NOSSA HISTÓRIA (2)
Mudança do nome de S. Lourenço de Asmes para Ermesinde
A implantação da República em Portugal permitiu a chegada ao poder de pessoas ligadas ao movimento republicano um pouco por todo o país, e em Ermesinde, local onde se situava o único Centro Republicano do concelho não foi diferente. Uma vez no poder, os dirigentes locais afetos ao Partido Republicano, logo decidiram mudar o nome da terra, retirando-lhe o nome do santo padroeiro e substituindo “Asmes” por “Ermesinde”, que era o nome da sua estação e esta era conhecida quase em todo o país, por ser local de convergência de duas linhas importantes: a do Douro e do Minho.
Chegados à implantação da República, Ermesinde é uma povoação muito maior e a sua intersecção ferroviária tornou-se bastante conhecida. Cresceu intensamente o lugar que deu nome à Estação de S. Lourenço de Asmes, mas cresceram também os outros lugares da freguesia. A sua Estação era já uma das mais movimentadas do Norte.
Assim, e porque “Asmes” era um nome dado a equívocos e a maledicências, e S. Lourenço identificava claramente a fé da maioria do povo, mas não dos republicanos que, na sua maioria, eram anti-eclesiásticos, a Comissão Administrativa da Freguesia solicitou ao Governo Provisório Republicano a substituição do nome antigo da Freguesia para o nome de um dos maiores lugares e para onde estava planeada a construção da Estação – Ermesinde. A construção da Estação só não ocorreu no local planeado, porque o subsolo tinha demasiada água pelo que se tentou construir o mesmo projeto 300 metros mais a norte e aí se encontra ainda hoje, embora profundamente alterada na mudança do milénio.
A decisão de mudar o nome da freguesia foi tomada na sessão do dia 6 de novembro de 1910. Era Presidente da Comissão Administrativa Republicana da Junta de Paróquia, Amadeu Ferreira de Sousa Vilar. A respetiva ata diz, a este propósito, o seguinte: «O Presidente lembrou a conveniência de se representar ao Ministério do Interior afim de que esta freguesia passe a denominar-se freguesia de Ermezinde, o que foi aprovado por unanimidade».
Três meses mais tarde (dia 6 de fevereiro de 1911), o Ministro do Interior do primeiro Governo Republicano, António José de Almeida, deferia o pedido da Comissão Administrativa, e, no dia seguinte, o Diário do Governo publicava a referida resolução.
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A ANTIGA IGREJA DE S. LOURENÇO DE ASMES |
S. LOURENÇO DE ASMES PASSA A DENOMINAR-SE ERMESINDE
Diário do Governo, n.º 30, de 7 de Fevereiro de 1911
«Attendendo ao que me representou a Junta de Parochia da freguesia de S. Lourenço de Asmes; e
Conformando-me com a consulta do Supremo Tribunal Administrativo:
Hei por bem determinar, nos termos do Codigo Administrativo, que a referida freguesia de S. Lourenço de Asmes, do concelho de Vallongo, districto do Porto, passe a denominar-se freguesia de Ermezinde.
Paços do Governo da Republica, em 6 de fevereiro de 1911. = O Ministro do Interior, Antonio José de Almeida».
A Igreja e a República
Na verdade, com a implantação da República entrou em vigor A Lei da Separação do Estado das Igrejas. Como diz Oliveira Marques (História de Portugal, vol. II, Palas Ed. Lisboa, 1977, pp. 222-224), «A Lei da Separação de 1911 - por muitos considerada a pedra angular do regime - fora precedida de várias outras leis que claramente testemunhavam a política anticlerical da República (...). Esta e outras - a do divórcio por exemplo - causaram um descontentamento geral nas fileiras do Clero (...). A questão religiosa prosseguiu durante os anos de 1911, 1912 e 1913».
Em Ermesinde, logo que se implantou a República, o Presidente da Junta de Paróquia, Monsenhor Paulo António Antunes, antes de entregar a Administração à nova Comissão Administrativa Republicana afirmou que se congratulava com a nomeação da referida Comissão, a quem muito considerava e que pela sua parte acompanhava o novo regime republicano (cf. ata da Junta da Freguesia, de 27 de outubro de 1910, fl. 19). No entanto, pouco tempo depois, os incidentes com o Pároco sucedem-se. Primeiro, por causa da divisão do cemitério herdada da monarquia, entre católicos e não católicos, mais tarde, por outros motivos.
Por exemplo, na ata referente à sessão da Junta do dia 20 de agosto de 1911, conta-se o seguinte caso: «numa reunião da commissão escolar quando estava a findar a sessão, entra na sala o Parocho com modos provocadores dizendo que protestava pela commissão ter reunido aquella hora, e que devia suspender a sessão, por vinte minutos, pois que seria esse o tempo gasto em dizer missa, que se lhe tinha faltado ao respeito, e que o que alli dizia esteve para o proclamar ao altar, quando disse missa, mas que o não fez para não faltar ao respeito aos catholicos».
Na primeira sessão da Comissão Administrativa da Junta da Freguesia de Ermesinde, após o 1.º aniversário da República, o Presidente, Amadeu Vilar, «participou que como era do dominio publico o parocho d’esta freguesia Paulo Antonio Antunes tinha abandonado o seu logar no dia um do corrente mez e em vista d’isso tinha recebido ordem do administrador do concelho para tomar conta da residencia assim como de tudo que pertencia á Igreja o que foi cumprido» (cf. ata da sessão da Junta da Freguesia de Ermesinde, de 15 de outubro de 1911).
Já antes da implantação da República, o Pároco de S. Lourenço de Asmes tinha tido alguns problemas, chegando mesmo a ser agredido. A referência ao caso, surge-nos na ata da reunião da Junta de 6 de março de 1910, que dá notícia de uma manifestação de simpatia para com Monsenhor Paulo António Antunes. O excerto a que nos referimos diz o seguinte:
«Ao Presidente Monsenhor Paulo António Antunes, no dia treze de Fevereiro de 1910, foi feita uma extraordinaria manifestação de
(...)
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Por:
Manuel Augusto Dias
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