A resposta rápida do cérebro
Neste mês de julho, já com cheiro a férias, trazemos um artigo que demonstra a importância que o olfato tem, e teve, na nossa história e na nossa evolução. Quem não gosta, nestes meses, de sentir o cheiro a maresia?
O olfato é um dos nossos cinco sentidos mais básicos e refere-se à capacidade de captar odores (cheiros) com o sistema olfativo. Na nossa espécie, e restantes vertebrados, o órgão olfativo forma-se através de um espessamento epidérmico situado na região etmoidiana do crânio, sendo que a neurorreceção apenas será ativada após as moléculas das substâncias odoríferas serem dissolvidas no muco que recobre a membrana pituitária.
A perceção do odor é um processo que vai evoluindo na trajetória de crescimento e reorganização do cérebro com o objetivo de este se ir adaptando melhor ao ambiente que o rodeia e conseguir reagir com maior eficiência. Na realidade, a parte mais antiga do cérebro, o rinencéfalo, cujo nome é composto por duas palavras com significado de “cheiro” e “cérebro”, compreende as áreas olfativas e límbicas que parece terem-se desenvolvido, numa fase inicial, a partir de estruturas olfativas. Este facto indica que muito provavelmente a capacidade que temos para sentir e demonstrar emoções ter-se-á desenvolvido a partir da capacidade de processar os odores. Apenas mais tarde na evolução estudada por Darwin parece terem-se desenvolvido outras estruturas límbicas como o complexo amígdala-hipocampo.
A diminuição da perceção do odor é chamada de hiposmia, e o aumento, de hiperosmia. Quando ocorre um distúrbio do poder olfativo, é denominada de disosmia, e esta pode ser de dois tipos: parosmia, com estímulo ambiental, e fantosmia, sem estímulo ambiental. A anosmia é a perda completa da perceção do odor. Há várias enfermidades que podem provocar desequilíbrios no sistema olfativo, como a Covid-19, por exemplo, onde há pessoas que manifestam a perda de olfato durante vários meses. Este é um facto relevante pois como no caso das emoções básicas, a resposta imediata aos odores transmite uma mensagem simples e binária: ou se gosta ou não se gosta; fazem-nos aproximar ou, pelo contrário, evitar. Desta forma, quando uma pessoa sofre um desequilíbrio no sistema que a faz perder o olfato, o impacto pode tornar-se por vezes assolador: as experiências de degustar uma boa refeição ou mesmo passear numa manhã primaveril ficam extremamente diminuídas. Isto porque o paladar está muito ligado ao olfato.
Muitas vezes as memórias que incluem lembrança de odores têm tendência para ser mais intensas e emocionalmente mais fortes. Um odor que tenha sido encontrado só uma vez na vida pode ficar associado a uma experiência única e a nossa memória tem capacidade de automaticamente, quando voltamos a reencontrar esse odor, relembrar tudo o que se associa a esse odor. Assim, a primeira associação feita com um odor parece ter interferência com a formação de associações subsequentes, existindo uma interferência proativa. É o caso da aversão a um tipo de comida. A aversão pode ter sido causada por um mal-estar que ocorreu num determinado momento apenas por coincidência, não estando relacionada com o odor em si; sendo, no entanto, muito difícil que ela não volte sempre a aparecer, no futuro, associada a esse odor.
Este poderoso sentido parece ter ainda mais importância na nossa vida do que inicialmente poderíamos pensar. O processo da memória dos odores é importante para a própria sobrevivência da espécie humana: identificamos, reconhecemos e selecionamos os alimentos ingeridos pela sua qualidade e necessidade. O comportamento afetivo do olfato, como a sensação agradável e desagradável, exerce influência no paladar.
“O sentido do olfacto é o nosso sistema de alerta mais rápido
O leitor recordar-se-á da reacção que teve quando cheirou um odor desagradável!
A capacidade de detectar e reagir ao cheiro de uma potencial ameaça é uma condição prévia para a sobrevivência da nossa espécie e de outros mamíferos. Utilizando uma técnica inovadora, os investigadores do Instituto Karolinska, na Suécia, puderam estudar o que acontece no cérebro quando o sistema nervoso central julga que um cheiro representa perigo. O estudo, agora publicado na revista PNAS (https://www.pnas.org/content/118/42/e2101209118), indica que os odores negativos associados a situações desagradáveis ou a mal-estar são processados mais cedo do que os odores positivos e desencadeiam uma resposta física evasiva.
“A resposta humana de evitar cheiros desagradáveis associados ao perigo há muito que é vista como um processo cognitivo consciente, mas o nosso estudo mostra pela primeira vez que é inconsciente e extremamente rápido”, diz o primeiro autor do estudo, Behzad Iravani, investigador do Departamento de Neurociência Clínica do Instituto Karolinska.
O órgão olfactivo ocupa cerca de cinco por cento do cérebro humano e permite-nos distinguir muitos milhões de cheiros diferentes. Uma grande proporção destes cheiros está associada a uma ameaça à nossa saúde e sobrevivência, tal como a dos produtos químicos e alimentos podres. Os sinais de odor chegam ao cérebro dentro de 100 a 150 milissegundos após serem inalados através do nariz.
A sobrevivência de todos os organismos vivos depende da sua capacidade de evitar o perigo e de procurar recompensas. No ser humano,
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António Piedade (Bioquímico)
AP Imprensa”
Por:
Luís Dias
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