As ilhas e a sua biodiversidade
A ilha de Surtsey, território da Islândia, pode dar uma ajuda. Esta pequena ilha foi formada por uma erupção do tipo explosiva que começou a 130 metros abaixo da superfície do oceano, emergindo a 14 de novembro de 1963, o que faz desta ilha um dos territórios mais jovens do nosso planeta e a ilha mais nova do Oceano Atlântico.
Este surgimento levou a um interesse intensificado por parte da comunidade científica pelos processos de colonização por plantas e animais em territórios isolados. Assim, ainda a ilha estava a ser formada através da erupção quando, em 1965, foi declarada como uma reserva natural integral e se iniciaram os estudos de biocolonização. As aves, pela facilidade de voo, foram as primeiras espécies a visitar a nova ilha. Para além destas, as primeiras espécies que se fixaram foram musgos e líquenes. As aves foram avistadas pela primeira vez na ilha no ano de 1965, quando ainda decorria a erupção. Atualmente musgos e líquenes cobrem grande parte da sua superfície.
Quando mais aves se foram fixando e nidificando neste novo local, as condições do solo foram também melhorando devido ao efeito fertilizante das fezes, pelo que espécies vegetais mais avançadas puderam iniciar a colonização do território. A fixação de aves na ilha tem influenciado e sido influenciada positivamente pela fixação de plantas, numa interação que demonstrou a importância da cobertura vegetal para as aves e os efeitos destas como propagadores e como promotoras da colonização vegetal. Enquanto as aves utilizam as plantas como material para fazer os ninhos, estas contribuem também para a dispersão das sementes e outros propágulos, ao mesmo tempo que fertilizam o solo. Durante os primeiros vinte anos após a erupção, foram assinaladas na ilha cerca de 20 espécies de plantas de porte superior, mas, apesar da riqueza do solo formado, apenas 10 espécies foram capazes de se fixar, formando populações estáveis.
Uma colónia de gaivotas está presente na ilha desde 1986, embora as gaivotas tivessem começado as visitas à ilha apenas algumas semanas após o início da sua formação. O primeiro par de papagaios-do-mar (Fratercula corniculata), muito comum nestas paragens, nidificou em Surtsey no ano de 2004. Ainda pouco depois da ilha se ter formado, foram avistadas focas-cinzentas (Halichoerus grypus Nilsson) à volta da ilha. Em pouco tempo passaram a frequentar as praias arenosas, em particular a ponta arenosa que se formou no seu extremo norte.
Atualmente, apenas cientistas credenciados e em missão de investigação de campo são autorizados a desembarcar na ilha. Os visitantes apenas a podem sobrevoar de avião ou avistá-la de longe a partir de embarcações.
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“BIODIVERSIDADE DAS ILHAS É MELHOR CONSERVADA
EM PAISAGENS INACESSÍVEIS
As ilhas contribuem enormemente para a biodiversidade global, mas encontram-se ameaçadas pelas atividades humanas. Para compreender porque algumas ilhas têm registado um maior impacto desde que os primeiros seres humanos nelas se estabeleceram do que outras, um novo estudo comparou variáveis ambientais e sociais de 30 ilhas no Oceano Atlântico Leste. O estudo, agora publicado na revista científica Anthropocene, mostra que a acessibilidade do terreno explica a maioria das diferenças entre as ilhas na cobertura de vegetação nativa, enquanto que a densidade populacional humana atual teve uma correlação desprezível, sugerindo que a topografia restringe os impactos humanos na biodiversidade.
Impactos humanos nos hotspots de biodiversidade
Atualmente, as espécies e ecossistemas das ilhas estão altamente ameaçados pelas atividades humanas, encontrando-se muitas vezes confinados a pequenas áreas de vegetação remanescente. O impacto humano não ocorre apenas nos dias de hoje, tendo começado há vários séculos – e, em alguns casos, milénios – quando os seres humanos se estabeleceram pela primeira vez nessas ilhas anteriormente desabitadas, removendo a cobertura de vegetação nativa para iniciar práticas agrícolas, caçando espécies até à extinção e introduzindo espécies exóticas. Mas porque é que algumas ilhas são mais afetadas que outras pela atividade humana?
Para responder a esta questão, uma equipa de investigação internacional estudou 30 ilhas em cinco arquipélagos no Oceano Atlântico: Açores, Madeira, Ilhas Canárias, Cabo Verde e Ilhas do Golfo da Guiné. Os investigadores desenvolveram uma análise estatística de várias variáveis relacionadas com a topografia, o clima, as atividades humanas e a demografia destas ilhas. “Os nossos resultados mostram que as ilhas com uma extensão relativamente grande de ecossistemas nativos geralmente têm uma topografia mais acidentada, o que sugere que a biodiversidade em ilhas com paisagens inacessíveis é protegida das atividades humanas”, explica Sietze Norder, primeiro autor do estudo, investigador no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) e na Universidade de Amsterdão (Holanda).
Abordagem interdisciplinar
Embora a topografia pareça desempenhar um papel importante, os padrões modernos de vegetação nativa também podem refletir parcialmente as mudanças demográficas e as tendências socioeconómicas desde que os seres humanos se estabeleceram pela primeira vez nestas ilhas. Assim, a equipa de investigação reuniu dados para reconstruir as mudanças demográficas e socioeconómicas históricas nesses arquipélagos nos últimos séculos. Esta informação histórica (dados qualitativos) foi usada para contextualizar os resultados estatísticos (dados quantitativos).
Estudos anteriores, que se baseavam em abordagens exclusivamente qualitativas ou quantitativas, chegaram por vezes a conclusões contrastantes sobre a importância relativa dos fatores ambientais e sociais para as mudanças na cobertura de vegetação. “O nosso estudo mostra que as abordagens interdisciplinares, que integram informações quantitativas e qualitativas, têm um grande potencial para melhorar a nossa compreensão sobre as interações entre o Homem e o ambiente”, acrescenta Sietze Norder.
À semelhança das ilhas do Atlântico Leste, as ilhas de todo o mundo foram amplamente transformadas por atividades humanas. Os impactos humanos não se restringem à remoção da vegetação nativa mas também incluem outras mudanças, como a introdução de espécies exóticas, a extinção de espécies que só existiam nestas ilhas e aspetos abióticos, como a erosão do solo. “Em vez de registar apenas essas mudanças em ilhas individuais, o próximo passo é avaliar para diferentes regiões do mundo como e porque é que os impactos humanos na biodiversidade diferem”, conclui o investigador.
Gabinete de Comunicação do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais - cE3c
(Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa)Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva”
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Por:
Luís Dias
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