Muda-se de ano mas não de vida
Neste tempo partido, organizado em calendários, acreditamos nesta morte parcelar de ano após ano, de estação em estação, de mês a mês, de dia a dia.
Um ano termina, tempo contado por dias, semanas e meses, e a vida sempre a correr sem intervalos nem paragens como a água dum rio.
Diz-se que ano novo vida nova, espero que sim. De 2013 não ficam grandes recordações, e para 2014 não se esperam grandes mudanças.
Pelo contrário o Governo pensa que sim, se eu vivesse noutro país, se me limitasse a fazer análises por números e papéis, talvez acreditasse.
Neste tempo, dos nossos governantes, dois discursos insípidos, quase de circunstância, até parece que está tudo bem. O Presidente da República já se esqueceu do que disse sobre os cortes das pensões, do aumento da pobreza, do desemprego de longa duração.
São todos caridosos, têm todos muita pena, mas continuam a tratar os homens como números.
Não contentes com a falta de emprego e a quantidade de empresas a fechar, deixam cair os estaleiros de Viana. Mas enchem a barriga com o esforço de alguns empresários que apostaram na criatividade, na qualidade dos produtos que exportam.
E quando o país mais precisa das escolas tratam-se mal os professores dos vários níveis de ensino.
Em períodos de crise social a escola tem um papel crucial, a escola é o lugar privilegiado na formação do indivíduo.
Há quem pense que há neste país um grupo de pessoas «que lhes fica bem dizer mal do Governo». Como eu gostava que fosse assim!, «que o pessimismo fosse uma moda», mas a realidade é bem mais dura.
Neste Natal os aeroportos encheram-se de jovens, jovens que este país formou e que não partiram por opção, conheço alguns que admiro, mas cujos projetos de vida foram totalmente alterados, casais e filhos separados, jovens à espera de melhores dias para terem filhos, e a vida a correr, o tempo a passar…
Como muitos dos portugueses passei este tempo de Natal e Ano Novo entre amigos e familiares, a casa é a mesma, as pessoas também, mas foi diferente, sentia-se uma alegria forçada, pairava uma tristeza que se refletia nas conversas e até na formulação dos votos de bom ano. Por mais que se queira ser otimista ninguém consegue disfarçar que a maioria dos portugueses deixou de acreditar, de confiar e perdeu a esperança. Adiaram-se projetos, interromperam-se outros, alguns ficarão para sempre por realizar.
Pedem-nos para sermos otimistas, mas será que para sermos politicamente corretos temos de ser inconscientes, fechar os olhos e fingir que não vemos?
Gosto de olhar para o céu e analisar as estrelas, gosto das montanhas para me sentir mais perto delas e sempre que posso deixo-as entrar, para que iluminem e aqueçam a casa. Que as estrelas nos guiem e nos confortem neste 2014 tão enovelado e frio!
(…) «Hoje
todo o tempo é de luto
e bandeira por cumprir
(…)Hoje
é este tempo.
Amanhã
será o vento»
José Fanha
Por:
Fernanda Lage
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